O programa das provas tinha sido delineado para que a última jornada de atletismo (antes da maratona), no sábado, 11, fosse a noite perfeita, com a colocação dos 5 000 metros masculinos em vez dos tradicionais 1 500 metros. Mais do que perfeita, tornou-se inesquecível e num dos momentos que mais perdurará na memória destes Jogos Olímpicos de Londres 2012.
Nos 5000 metros, o britânico Mo Farah voltou a dominar a corrida, tal como tinha feito, anteriormente, na final dos 10 000 metros. À entrada para a última volta, acelerou o ritmo, e foi metendo sucessivas mudanças de velocidade, que mais nenhum adversário conseguiu acompanhar. E, mal cortou a meta, perante um estádio completamente em delírio, deitou-se no chão e começou a fazer exercícios de abdominais, numa clara alusão às flexões com que Usain Bolt surpreendeu o público após a sua vitória nos 200 metros.
O jamaicano, perante a “homenagem” de Mo Farah, também fez questão de retribuir a distinção, conforme foi bem visível, no último percurso da estafeta de 4×100 metros, com que ajudou a Jamaica a esmagar o recorde do mundo, retirando-lhe quase dois décimos de segundo (uma enormidade em provas de velocidade). E o que fez ele? Depois de confirmar o tempo obtido, com um olhar para o cronómetro (36.84!), levou as mãos à cabeça, formando um arco com cada um dos braços e desenhando, assim, a letra M.. de Mo. Exatamente aquilo que o britânico costuma fazer nas suas provas.
A parceria entre o “maior atleta vivo do mundo” – segundo as próprias palavras de Usain Bolt – e o maior herói britânico do atletismo atual tornou-se ainda efetiva nos atos sequentes às cerimónias de entrega de medalhas. Usain Bolt e Mo Farah abraçaram-se, trocaram os gestos com que costumam cumprimentar o público (Mo fez o relâmpago de Bolt e Bolt o M de Mo…), responderam a algumas perguntas do speaker de serviço e trocaram high-five com as primeiras filas das bancadas. Bolt fez questão ainda de ir cumprimentar a mulher e a filha de Mo, terminando tudo com uma foto em família dos dois atletas. Ambos com a sensação de dever cumprido: em Londres, eles foram os donos do show.