As apostas não a davam como favorita mas Han Kang foi esta quinta-feira anunciada em Estocolmo como a eleita pela Academia Sueca para receber a mais importante distinção literária, com o valor pecuniário de onze milhões de coroas suecas, cerca de um milhão de euros. O júri apontou a sua “intensa prosa poética que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana” e a “empatia palpável pelas vidas vulneráveis, sobretudo femininas, reforçada pela prosa carregada de metáforas” como fundamentos desta escolha realizada pelos 18 membros da Academia Sueca. A autora sul-coreana é a primeira do seu país a receber a distinção e a 18ª mulher a receber o Nobel da Literatura desde 1901, sucedendo ao norueguês Jon Fosse em 2023 e à francesa Annie Ernaux em 2022, e, sublinharam os observadores, rompendo a tendência de premiar autores oriundos de países ocidentais.
Editada em Portugal pela D. Quixote, os leitores nacionais têm à sua disposição os livros A Vegetariana (2016), Atos Humanos (2017), O Livro Branco (2019) e Lições de Grego (2023).
CONHEÇA AQUI DOIS DOS MAIS APLAUDIDOS LIVROS DA AUTORA:
‘A Vegetariana’, de Han Kang: As árvores nem sempre morrem de pé
‘Atos Humanos’, o livro de Han Kang que nos faz ouvir um coro coreano
Dos romances aos ensaios e às histórias curtas, a obra de Han Kang soma onze volumes e tem explorado temas diversos como o das escolhas humanas, o sofrimento, a violência histórica, as memórias familiares, as consequências do patriarcado, as ligações entre corpo e e alma, o corpo como campo de experimentação e redenção, privilegiando o ponto de vista feminino num mundo hostil ou em transformação, sempre com uma linguagem precisa mas impregnada de onirismo e lirismo.
Nascida em Gwangju em 27 de novembro de 1970, filha do romancista Han Seung-won, irmã do também escritor Han Dong Rim, a família mudou-se para a zona de Suyuri em Seoul quando ela tinha 10 anos – experiência feliz abordada em Lições de Grego. Han Kang estudou literatura na Universidade Yonsei, e, em 1988, inscreveu-se no programa internacional de escrita da Universidade do Iowa. Em 1993, começou por publicar poemas numa revista sul-coreana, antes de se inaugurar na prosa, em 1995, com uma série de contos. Venceu vários prémios no seu país, e foi professora de Escrita Criativa no Instituto de Artes de Seoul até 2018, antes de dedicar-se exclusivamente à escrita.
A primeira experiência com a respiração mais longa do romance foi com A Vegetariana, dedicado a uma protagonista que escolhe embrenhar-se de forma radical no mundo vegetal, levantando questões sobre doença mental e crueldade humana, e lido igualmente como uma metáfora para as tensões vividas com a vizinha Coreia do Norte. Este romance, escrito à mão devido a uma lesão do pulso da autora, foi um dos primeiros livros seus traduzido para inglês e venceria o Man Booker International em 2016, abrindo portas internacionais a Han Kang.
No ano seguinte, a escritora foi galardoada com o Prémio Malaparte, em Itália, pelo livro Atos Humanos, dedicado aos acontecimentos associados à revolta de Gwangju em 1980, quando mais de cem civis foram mortos durante as demonstrações pró-democracia levadas a cabo por estudantes na capital sul-coreana. Mais intimista, O Livro Branco é uma novela autobiográfica dedicada à memória da sua irmã mais velha, que morreu duas horas após o nascimento, tendo sido finalista do Man Booker International Prize . Han Kang estende os seus interesses à música e às artes visuais. No livro Your Cold Hand (2002), inédito em Portugal, explorou a relação entre um escultor e a sua modelo; e quando publicou o conjunto de ensaios Quietly Sung Songs (2007), lançou um CD com dez músicas compostas e cantadas por si. O seu romance mais recente, I Do Not Bid Farewell, venceu os Prémios Médicis 2023 e Émile Guimet 2024, e, anunciou hoje a editora D. Quixote, será publicado em Portugal ainda este ano com o título Despedidas Impossíveis.