A história deste filme dava um filme, e a sinopse poderia ser assim: um palhaço que nunca quis aparecer no circo inventa mil e um truques para ganhar a vida por conta própria, a vestir-se dessa personagem que tanto o fascina, não sem um certo lamento se imiscuir, ao fim de quase quatro décadas de carreira, por não ter conseguido atingir um maior reconhecimento; sentindo a injustiça, um filho autodidata, decidido a ser realizador mas sem formação em cinema, resolve homenageá-lo logo na estreia, uma curta-metragem gravada numa semana, com material adquirido ao cêntimo e uma equipa subcontratada a custo zero, que desata a ganhar prémios internacionais.
O Palhaço que Há em Nós, a curta-metragem de que se fala, apresenta Mário Faísca, 66 anos, como único protagonista e o seu filho Eduardo Robalo, 25 anos, na pele de realizador, diretor de arte, editor e fotógrafo. Centra-se na magia de fazer rir os outros e, ao mesmo tempo, na “realidade paralela escondida no sorriso de um palhaço”, que também sofre e chora. Filmada entre Porto e Aveiro, está dividida em atos, influência de Charlie Chaplin, e prescinde dos diálogos, em favor de poemas declamados pelo ator que enche o grande ecrã, autor de alguns.