Aos 88 anos, Adélia Prado viu mais uma vez reconhecida a sua obra, algo esparsa mas singular e amada. A vencedora do Prémio Camões 2024, distinção que inclui o valor monetário de €100 mil, foi hoje anunciada pelo júri, constituído por Clara Crabbé Rocha, Isabel Cristina Mateus, Francisco Noa, Cleber Ranieri Ribas de Almeida, Deonísio da Silva e Dionísio Bahule, assim se sucedendo ao português João Barrento, vencedor no ano passado. Autora relativamente tardia, que editou o primeiro livro aos 40 anos, já com uma carreira de professora e uma família de cinco filhos na bagagem, na sua poesia coexistem oralidade, biografia, religiosidade, a passagem do tempo e a presença do quotidiano, consciência feminina e feminista, estados de alma que regularam a sua escrita, representativos da “mulher desdobrável”, como se definiu a si mesma no poema Com Licença Poética. Licenciada em Filosofia, acabaria a experimentar o poder das palavras na poesia, prosa, dramaturgia. A poeta nascida em Divinópolis, Minas, tem obra publicada em Portugal: Tudo o que Existe Louvará – antologia (Assírio & Alvim, 2016), e mais três volumes editados na extinta Livros Cotovia, Com Licença Poética (2003), Solte os Cachorros (2003) e Bagagem (2002). Carlos Drummond de Andrade seria uma figura assumidamente tutelar na sua produção poética, e foi também ele que contribuiu para revelação da autora. Ao receber poemas originais remetidos por Adélia, impressionou-se com a originalidade da sua escrita, considerando os seus poemas “fenomenais”, e acabaria por os encaminhar para a Editora Imago. Nascia o livro Bagagem lançado em 1976 no Rio de Janeiro, perante as presenças de personalidades reconhecidas como Clarice Lispector, Affonso Romano de Sant’Anna ou o próprio Drummond.Dois anos depois, Adélia Prado assina O Coração Disparado (1978), vencedor do Prémio Jabuti de Literatura. A autora vira-se então para a prosa, publicando Solte os Cachorros (1979) e Cacos para um Vitral (1980). O volume Terra de Santa Cruz (1981) marca o seu regresso à palavra poética. Publicará igualmente A Faca no Peito (1988), e, dez anos depois, Poesia Reunida e posteriormente O Homem da Mão Seca (1994). Escreve, no poema Momento: “A vida é mais tempo / alegre do que triste. Melhor é ser”. Nas palavras do júri do Prémio Camões, “Adélia Prado é autora de uma obra muito original, que se estende ao longo de décadas, com destaque para a produção poética. Herdeira de Carlos Drummond de Andrade, o autor que a deu a conhecer e que sobre ela escreveu as conhecidas palavras ‘Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo…’, Adélia Prado é há longos anos uma voz inconfundível na literatura de língua portuguesa”. Esta distinção soma-se ao Prémio Machado de Assis 2024, anunciado pela Academia Brasileira de Letras (ABL) na passada quinta-feira.
A poeta Adélia Prado é a vencedora do Prémio Camões 2024
A autora brasileira que Carlos Drummond de Andrade tanto admirava foi a escolhida pelo júri da 36ª edição do galardão literário da língua portuguesa
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