A lista de nomeados à 96ª edição dos Oscars da Academia de Hollywood foi anunciada na última terça-feira e provocou uma onda de críticas que começou nas redes sociais e provocou reações em nomes ligados ao cinema. Tudo porque o filme “Barbie”, considerado o grande êxito de bilheteira de 2023, com receitas mundiais de 1.321 mil milhões de euros, não recebeu todas as nomeações que os fãs consideram justa. É verdade que a produção está a concorrer a oito categorias, entre as quais a de Melhor Filme, a de Melhor Ator Secundário e Melhor Atriz Secundária, mas a grande crítica vai para a não consideração de Greta Gerwig na categoria de Melhor Realizador e a de Margot Robbie para a de Melhor Atriz.
As vozes mais críticas dizem que esta “falha” representa exatamente a crítica que é feita em “Barbie”, uma vez que não dá o devido crédito às mulheres.
Críticas
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Foto: Jung Yeon-je / AFP/ Getty Images
Lindsey Bahr, especialista em cinema da Associated Press, considera que a exclusão de Greta Gerwig da lista de nomeados para Melhor Realizador é “um dos maiores choques da atualidade”. Bahr dava como certa a nomeação de Gerwig devido ao sucesso de “Barbie” entre os fãs e também por causa das muitas críticas positivas que o filme recebeu quando estreou, em julho de 2023.
Já a crítica de cinema Caryn James escreve na BBC que “havia pistas de que ‘Barbie’ ia ser subestimada” pelo júri da Academia. “A primeira surgiu quando a Academia decidiu que o argumento de Gerwig e de Noah Baumbach pertencia à categoria de adaptado e não original”, explica, uma vez que o júri considerou que o enredo era inspirado numa personagem que já existia. A segunda, considera James, aconteceu nos Globos de Ouro, quando “Barbie” não ganhou o galardão de Melhor Filme de Comédia/Musical – atribuído a “Pobres Criaturas” – , mas sim o de Conquista Cinematográfica e de Bilheteira, “um prémio de consolação por ter sido popular e feito dinheiro”.
“Recusaram-se a levar a sério um filme que é inspirado num brinquedo, ignoraram o quão original é, não perceberam que este sucesso entre os fãs é engraçado, mas também revolucionário e uma declaração cultural”, defende James.
Charles Curtis, jornalista do USA Today, declara que “Greta Gerwig e Margot Robbie foram roubadas” pelo júri da Academia, pois considera que foram estas duas mulheres as responsáveis “por terem tornado este filme num clássico imediato”.
Stuart Heritage, jornalista especializado em cinema do The Guardian, reconhece que as redes sociais encheram-se de mensagens de fãs de “Barbie” que ficaram desiludidos por não verem Gerwig e Robbie nomeadas. Contudo, recorda também que todos os anos há filmes populares que acabam fora da corrida aos galardões mais cobiçados dos Oscars devido ao limite de número de nomeados em cada categoria. “Nomeiam sempre cinco pessoas para Melhor Realizador e 10 filmes para Melhor Filme, o que faz com que, estatisticamente, haja uma grande probabilidade de situações de estas acontecerem”.
Katey Rich, editora da Vanity Fair, recorda que situações como as que aconteceram com “Barbie” não são incomuns. “Os Oscars têm a tendência irritante de ignorar o ator principal de alguns dos filmes favoritos do público, especialmente nesta última década”, considera. Como exemplo, recorda o que aconteceu com Tom Cruise em “Top Gun: Maverick”, de 2022, Robert de Niro em “The Irishman”, de 2019, ou Chadwick Boseman em “Pantera Negra”, de 2018. Três filmes que também foram muito aplaudidos e três autores que não foram considerados para a principal categoria de representação.
Para Dave Karger, autor especializado em cinema em declarações à revista People, esta decisão “não ficou bem aos membros da Academia”, ainda mais por se tratar de uma situação com as duas mulheres principais de um filme que mostra “como o sexo feminino é muitas vezes marginalizado”. “É um assunto que será recordado durante muito tempo”, acredita.
Whoopi Goldberg, que pertece ao júri da Academia, garantiu no programa The View, do canal norte-americano ABC, não ter existido um menosprezo por parte da Academia. “Não há”, garante a atriz que ganhou um Oscar de Melhor Atriz Secundária em 1990 e conduziu quatro galas desta entrega de prémios. “Nem todos ganham um prémio e tudo isto é subjetivo. Os filmes são subjetivos. Os filmes que uma pessoa ama podem não ser apreciados pelas pessoas que votam”.
Reação de dois nomeados
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Foto: Alberto E. Rodriguez/Getty Images
Nomeada à categoria de Melhor Atriz Secundária, America Ferrara admitiu à Variety que ficou feliz quando recebeu o telefonema que lhe deu a notícia de que tinha sido indicada pela Academia. “Estou muito agradecida por todo o amor e carinho que me estão a dar neste momento”, exprimiu, não conseguindo, contudo esconder o desagrado pela não nomeação de Greta Gerwig e de Margot Robbie. “Fiquei muito desiludida”.
Ferrara destaca que Gerwig criou “um fenómeno global” e considera que “fez tudo o que poderia ter feito para merecer a nomeação”. Sobre Margot Robbie, considera-a uma “mestre” que “faz tudo parecer fácil”. “As pessoas estão enganadas se acham que ela teve um trabalho simples, ela fez magia e trabalhar com ela foi uma das maiores honras da minha carreira. A Margot traz coração, humor, profundidade, alegria e diversão a esta personagem”.
Pelo seu desempenho enquanto Ken, Ryan Gosling recebeu a indicação à categoria de Melhor Ator Secundário. Como reação aos nomeados dos Oscars, o ator decidiu fazer uma declaração pública para agradecer a nomeação e para defender Gerwig e Robbie.
“Sinto-me honrado por estar nomeado ao lado de artistas tão notáveis num ano de tantos filmes excelentes. Nunca pensei que diria isto, mas também me sinto honrado e orgulhoso por ter retratado um boneco de plástico chamado Ken. Mas o Ken não existe sem a Barbie, e o filme da Barbie não existe filme sem a Greta Gerwig e a Margot Robbie, as pessoas principais que estiveram à frente deste filme histórico e celebrado a nível mundial”, em seguida, o ator afirma estar “desiludido” por a realizadora e a atriz não terem sido indicadas. “O trabalho que tiveram devia ser reconhecido”.
Menosprezo da Academia pelas mulheres?
As críticas ao júri dos Oscars não são uma novidade. As acusações de favorecimento a filmes feitos por homens são recorrentes, com cineastas, críticos e fãs a acusarem a Academia de Hollywood de menosprezar o que é feito por mulheres ou por não caucasianos nas grandes categorias que não são separadas por género, como é o caso da realização ou do argumento. É verdade que este ano, e pela primeira vez, há três filmes realizados por mulheres que nomeados na categoria de Melhor Filme – “Barbie” de Greta Gerwig, “Vidas Passadas”, de Celine Song, e ““Anatomia de uma Queda”, de Justine Triet. Contudo, apenas uma realizadora, Triet, está na lista de nomeados à categoria de Melhor Realizador.