Cada ator tem o seu método para entrar em personagem e entregar o desempenho esperado. Se há aqueles que rapidamente conseguem “ligar e desligar” a personalidade que incorporam no trabalho, outros investem de uma forma mais prolongada no tempo, chegando a manter-se em personagem durante uma produção completa de modo a envolverem-se de forma física, emocional e mental com a personagem, para assim fazerem uso da experiência pessoal e da resposta que obtiveram no processo de entrega. Este é o sistema desenvolvido pelo russo Konstantin Stanislavsky no início do século XX e seguido atualmente por estrelas de Hollywood como Leonardo DiCaprio, Robert De Niro, Jared Leto ou Andrew Garfield. Contudo, segundo Natalie Portman, este “sistema” evidencia as desigualdades de género que continuam a existir na sociedade ocidental.
Em entrevista ao Wall Street Journal, a atriz, de 42 anos, vencedora de um Oscar da Academia de Hollywood, afirma que nunca usou esta técnica. “Entrego-me aos papéis, mas este sistema é um luxo impossível para as mulheres”, começa por expor. “Não acredito que os meus filhos ou um companheiro iria receber bem a ideia de, por exemplo, de repente eu os obrigar a tratarem-me por ‘Jackie Kennedy’”, expõe, como referência à personagem que representou no filme “Jackie”, de 2016. Explica que as obrigações que sente nas restantes facetas da sua vida, por ser mulher, não a permitem entregar-se desta forma a um desempenho.
O assunto surgiu quando Natalie Portman foi questionada se tinha usado o “sistema Stanislavsky” no seu mais recente papel no filme “May December”, que estreou em Portugal no dia 30 de novembro do ano passado. Na trama, Portman interpreta uma atriz que se entrega demasiado a um trabalho. Ao recordar a preparação para este papel, a atriz garante que nunca usou o “sistema Stanislavsky” na sua carreira.
Apesar de este sistema ser mais seguido por atores do que por atrizes, há aquelas que já fizeram uso desta técnica. É o caso de Meryl Streep, que usou esta técnica no filme “O Diabo Veste Prada”, de 2006, e disse ter ficado “muito deprimida” como consequência disso. Também o ator Brian Cox, estrela da série “Sucession”, disse que este “sistema” lhe trouxe dificuldades pela dificuldade de separar o ator da personagem.