Entre uma a três vezes por ano acontece uma sexta-feira calhar a um dia 13. Esta junção bem que podia passar despercebida, não fosse toda a superstição que existe à volta do número quando associado a este dia da semana.
Para o antropólogo Phil Stevens, da Universidade de Buffalo, EUA, este caso é um exemplo de “pensamento mágico”, um fenómeno que acontece quando se acredita que existe uma relação entre dois elementos que de outra forma não teriam ligação. É por isso que uma sexta-feira parece ter um significado diferente quando calha a um dia 13. O especialista explica ainda que o “pensamento mágico” está associado ao tabu e à ideia de que a combinação destes elementos pode ser prejudicial e, por isso, deve ser evitada. Surge a superstição, o medo e os amuletos. Para o especialista, estas ideias surgem da necessidade humana de encontrar uma forma de se ter poder sobre algo que não se domina. “O mundo é vasto, complexo, impessoal, imprevisível, por isso ter a noção de que se tem um pouco de controlo é algo reconfortante”, explica Stevens, que acredita ainda que o temor pelo número 13 tem estado a desvanecer.
Sobre as origens desta superstição, Stevens considera que podem estar associadas ao que chama de tabus que surgiram na Bíblia. O especialista destaca a Última Ceia, que aconteceu a uma quinta-feira, com 13 pessoas à mesa. No dia seguinte, sexta-feira, Jesus foi detido e crucificado. “Os dois elementos surgem juntos: o tabu contra o número 13 e a crucificação que aconteceu a uma sexta-feira”, destaca o antropólogo. Stevens recorda ainda que, apesar de os elementos terem mais de dois mil anos, a superstição surgiu há 1000, quando mais pessoas se interessaram pela Bíblia e fizeram a ligação entre os dois elementos.
Esta superstição não está apenas ligada ao Cristianismo, uma vez que a mitologia nórdica também apresenta indicadores sobre esta origem. Existe uma história de um banquete convocado por Odin que teve 12 convidados. Loki, o deus da mentira, terá ficado revoltado por não ter sido convidado, surgiu de forma imprevista e provocou desacatos no evento, que acabou com a morte de um dos que se sentavam à mesa.
O tabu da sexta-feira pelos escandinavos também pode ter acontecido durante a conversão ao cristianismo, quando foram instruídos a repudiar uma deusa até aqui adorada, Friga, cujo nome significa aquele dia da semana. Diz a lenda que um dia ela resolveu vingar-se dos cristãos e par aisso convocou 12 bruxas e um demónio que, desde o século VIII, passaram a amaldiçoar todos os católicos a cada sexta-feira 13.
Durante a época medieval intensificou-se o receio pela sexta-feira 13 devido a uma ordem de Felipe IV de França. Ao sentir o seu poder ameaçado pela influência da igreja, o monarca ordenou a perseguição à ordem dos Templários no dia 13 de outubro de 1307, que calhou a uma sexta-feira.
Na época moderna a superstição foi alimentada pela cultura popular, com filmes e livros que se inspiraram no tema. Em 1907 Thomas Lawson apresentou a obra “Friday, the Thirteenth” e na década de 1980 o filme “Sexta-Feira 13”, realizado por Sean S. Cunningham, chega às salas de cinema. Produtos que intensificaram o medo e a superstição apesar de terem como vista o entretenimento.