“Para fazer um disco que traz tanta intensidade e verdade, temos de ter a equipa certa”, disse a fadista, defendendo a autenticidade do seu trabalho e referindo a cumplicidade que partilha com os músicos, com os quais trabalha há cinco anos, e com o produtor e seu diretor musical, Diogo Clemente.
“Em equipa que ganha não se mexe”, declarou.
“O disco chama-se ‘Liberdade’, por ser de uma fadista em que sinto, acima de tudo, que nos tempos de hoje não nos podemos esconder atrás de ninguém, temos de ser nós próprios, sem qualquer tipo de amarra”, afirmou a fadista que se aponta como uma “rebelde”.
O disco inclui temas assinados por Diogo Clemente, Joana Espadinha, Pedro Abrunhosa e Carolina Deslandes, entre outros.
No álbum é recriada “Balada de Outono”, de José Afonso, e Sara Correia conta com a participação especial da fadista Maria da Nazaré, com quem cantou durante oito anos numa casa de fados em Lisboa.
“A Maria da Nazaré foi sempre uma grande referência e inspiração para mim, uma pessoa que admiro imenso como mulher e como fadista”, disse. “Nós devemos homenagear os artistas enquanto os temos connosco”, defendeu.
Por outro lado, referiu que “este é um CD sobre as mulheres fortes e a Maria [da Nazaré] tinha de estar incluída”.
“Liberdade” sucede a “Do Coração”, galardoado no ano passado com o Prémio Play para Melhor Álbum de Fado.
“Os prémios são um reconhecimento do nosso trabalho, mas os discos que faço são histórias minhas e é o meu caminho que me ajuda a construí-los. A minha maior responsabilidade é passar a minha verdade às pessoas”, asseverou à Lusa a fadista.
“Tenho os pés muito bem assentes na terra, porque como venho de uma família humilde gosto de fazer o meu caminho, à minha maneira, no sentido em que sou o mais verdadeira possível para o meu público”.
A fadista acrescentou: “Os fados tradicionais – que são a minha matriz -, são os fados tradicionais com a guitarra portuguesa, a viola e o baixo, nas outras músicas há realmente sonoridades diferentes, e acabo por trazer algumas variantes minhas, porque na verdade, modéstia à parte, consigo cantar de tudo um pouco, e trazer as minhas influências, nomeadamente do hip hop e da pop, e as coisas todas que envolvem a minha vida além do fado”.
Sara Correia gravou no Fado Cravo, de Alfredo Marceneiro, “Liberdade”, de Diogo Clemente. Numa fusão do Fado Proença, de Júlio Proença, com o Fado Tamanquinhas, de Carlos Neves, gravou “No Fim Mentir Por Nós Dois é Amor”, também de Clemente, e no Fado Carminho, “Esqueces-te de Nós”, letra e música de Carminho.
Em declarações à Lusa, a fadista garantiu que continua a sentir-se “muito ligada” ao bairro de Chelas, em Lisboa, onde nasceu, e onde vai todos os dias, dando título a um dos temas do disco.
“O meu bairro foi quem me criou e quem me fez ser a mulher que sou hoje. Foram as pessoas do bairro que me ajudaram a seguir o meu caminho e a ter força para continuar no mundo da música que é bastante difícil, e tive sempre o apoio do meu bairro nesse sentido”, enfatizou.
O disco abre com “Madrugou” (Mila Dores) e inclui ainda “Marcha da Perdição” (Joana Espadinha), “Era o Adeus” (Diogo Clemente), “Que da Voz te Nasçam Pombas” (Pedro Abrunhosa), “Roleta (Nuno Figueiredo) e “Marias na Terra” (Diogo Clemente).
“As histórias de um disco têm de ser autênticas de modo a que, sendo nossas, as possamos cantar mil vezes ou duas mil vezes e nunca estarmos fartos delas pois fazem parte da nossa vida”, argumentou.
Sara Correia considera “gratificante” o momento que vive, mas referiu que trabalhou muito” até chegar aos álbuns e sentir “maturidade para fazer uma carreira”.
“Tenho a sorte de vir de uma geração inacreditável. Tive a sorte de ter trabalhado com a Celeste Rodrigues, a Maria da Nazaré, Cidália Moreira, ter conhecido a Beatriz da Conceição, ter trabalhado com o Jorge Fernando, tive essa sorte de ter vivido isso e foi muito, muito importante para o meu caminho, e se há coisa que eu sei é que sou do fado e vim do fado”, asseverou.
Sara Correia começou a cantar aos 12 anos e que aos 13 venceu a Grande Noite do Fado de Lisboa. Profissionalmente, estreou-se, na casa de fados Mesa de Frades, em Lisboa, dirigida pelo guitarrista Pedro de Castro, tendo feito parte dos elencos de outros espaços como Bacalhau de Molho, Fado em Si ou Páteo de Alfama, todos em Lisboa.
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