“Do cadáver de um homem que morre livre pode sair acentuado mau cheiro – nunca sairá um escravo.”
Em maio de 1958, a frase rematava um manifesto de quatro páginas, distribuído em mão pelos cafés e colado nas paredes da Baixa lisboeta. A segunda geração do surrealismo andava num toca-e-foge frenético, ao encontro do próprio grito. O panfleto sobressaltara escritores para o abalo cívico da candidatura presidencial de Humberto Delgado, na ditadura, mas o excerto era também o autorretrato do autor: Mário Cesariny de Vasconcelos.