Archibald não era o melhor do mundo, mas tinha “um jeito sardento de estar sozinho contra o mundo”. Carlos Tê, nascido há 67 anos em Cedofeita, Porto, letrista e escritor, bem se esforçou para não deixar entrar em campo, nas páginas do novo romance, duas paixões: o futebol e o prazer de escrever sobre ele. Mas a aura do antigo avançado escocês do Tottenham e do Barcelona impôs-se. Arquibaldo (nas livrarias a partir do próximo dia 25, pela mão da Porto Editora) é o alter ego do protagonista Francisco Frade, assistente social refratário ao sistema, na periferia oriental do Porto. Nele habitam o imaginário de cavaleiro andante, de super-herói da infância e o adulto recalcitrante, tão solitário a levantar-se do chão e a entalar defesas como a fintar quotidianos e a marcar os golos que a vida deixa.
Consumido pela brecha da realidade, inconformado com silêncios e penumbras da família, Frade empreende a busca obstinada de si próprio e das origens, com passagens pelo divã do psiquiatra ou por Praga, sem abandonar o território-casa, feito de cumplicidades, fantasmas e cantares de galo que resistem ao avanço da selva urbana. Enquanto debica o êxtase das relações fugazes, o protagonista vive rodeado de histórias e figuras que são abrigo de desmemórias e narrativas de sobrevivência, entre elas o padre, o polícia, o chulo, a prostituta, a empregada, o psiquiatra ou a terapeuta da “respiração consciente”.
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