A plataforma de streaming HBO removeu a 9 de junho o filme de 1939 que conquistou oito Óscares, incluindo o de Melhor Atriz Secundária, atribuído a Hattie McDaniel, a primeira artista negra a ser nomeada e a receber a mítica estatueta dourada. A HBO justificara a remoção com o facto de os retratos presentes no filme exporem “alguns dos preconceitos étnicos e raciais que, infelizmente, têm sido comuns na sociedade americana.”
A longa-metragem, que tem sido alvo de fortes críticas devido à forma como normaliza conteúdos e valores racistas, regressa agora à HBO. O filme é agora acompanhado por três vídeos que servem como aula de História para a audiência, onde é dado o contexto e feita uma discussão acerca da época em que se insere esta obra.
Jacqueline Stewart, professora de Estudos de Cinema da Universidade de Chicago e apresentadora do canal Turner Classic Movies, avisa o espectador, numa nota introdutória de pouco menos de cinco minutos, de que o mundo representado peca na veracidade em relação às injustiças a que a comunidade negra estava sujeita e que “nega os horrores da escravatura, bem como o seu legado de desigualdade racial”.
Além da introdução, são ainda disponibilizados dois outros conteúdos: um vídeo do painel “O Legado Complicado de Tudo o Vento Levou”, realizado no Festival de Cinema de Clássicos da TCM, liderado pelo historiadorDonald Bogle, autor de livros que abordam a temática da representação da comunidade negra no cinema americano; e a curta-metragem “Hattie McDaniel: What a Character!” que nos permite espreitar dentro do mundo da atriz que deu vida a Mammy, a empregada doméstica.
McDaniel foi proibida de comparecer à estreia do filme em Atlanta, Georgia, devido às leis de segregação que proibiam que cidadãos negros frequentassem os mesmos estabelecimentos que os brancos. Também na cerimónia onde se consagrou como a primeira artista negra a vencer um Óscar teve de se sentar numa mesa separada dos seus colegas. No seu discurso, em que vemos a atriz claramente emocionada, diz: “Espero sinceramente ser sempre uma referência para a minha raça e para a indústria do cinema.”
Já em 1939, no seu ano de estreia, “Tudo o Vento Levou” foi objeto de críticas por parte de escritores e ativistas afro-americanos, que se opuseram à representação ilusória feita dos negros, retratados como escravos obedientes.