Em entrevista à agência Lusa, o diretor do museu e curador da mostra, Philippe Vergne, disse que a exposição é marcada por algumas peças históricas, como por exemplo o trabalho “Maçã” (1966) e o livro de instruções e desenhos de Yoko Ono “Grapefruit”, no qual a artista mostra como é que o público pode fazer as obras em casa.
“Nas peças históricas temos a ‘Maçã’, que é uma espécie de ícone de Yoko Ono. Há uma obra que é muita discreta e que não é espetacular, do ponto de vista do objeto, que é o livro ‘Grapefruit’ (1964), que são todas as definições conceptuais e instruções que Yoko Ono dá para que o público possa construir ele próprio as obras”, declarou.
Philippe Vergne destaca também “EX IT”, obra realizada nos anos 1990 e constituída por cem caixões de diversos tamanhos — homem, mulher, criança — e por cem árvores que deles emergem, sendo uma “metáfora construída pela associação da vida (árvore) e da morte”, explica um comunicado do museu.
A exposição, que conta com um total de 297 peças, estende-se ao Parque de Serralves, onde estão erguidas peças de palavras com cerca de dois metros de área, bem como obras como “Garden Sets”.
Na exposição “O Jardim da Aprendizagem da Liberdade” pode constatar-se a “universalidade” da artista – viúva do músico John Lennon-, e como ela conseguiu “cristalizar uma época” nas suas obras, considerou Philippe Vergne, referindo que a artista sempre lutou contra todos os tipos de violência, designadamente violência contra as mulheres.
“A violência feita contra as mulheres é um dos temas da obra de Yoko Ono, mas também a violência em geral”, afirmou o diretor do museu.
“É a primeira vez que há uma grande exposição de Yoko Ono em Portugal e espero que o público português se interesse, porque é uma exposição que, por um lado, aborda temas muito sérios, problemáticos e problemas que começaram no século XX e que continuam a construir a nossa época como o racismo”, disse Vergne.
Por outro lado, acrescentou, “é uma exposição interativa, e dá a ideia de liberdade a o público possa tocar nas obras”, considerando que Yoko Ono “trouxe honra ao estatuto de artista ‘avant garde’ e marcou a história de arte na segunda metade do século XX”.
A exposição exibe também vários filmes, alguns deles realizados em parceria com John Lennon, em que se desafia a “noção tradicional de realização” para pertencer à “corrente americana da cultura do filme independente dos anos 1960”.
A exposição vai também ter patentes em Serralves algumas performances criadas pela artista, como por exemplo “Bag Piece” (1964), que convida o espectador a entrar num saco, que pode ser individual ou duplo e despir-se e voltar a vestir-se, porque dentro de um saco uma pessoa é “apenas alma, despojada de qualquer característica diferenciadora”, de cor, idade ou sexo.
Esta exposição abrange a produção da artista desde as primeiras obras concebidas ainda na década de 1950 até à atualidade e foi “desenhada especificamente para os espaços do Museu de Serralves”.
Yoko Ono, 86 anos, nasceu em Tóquio, no Japão, em 1933 e mudou-se para Nova Iorque em 1953, após ter estudado filosofia no seu país de origem.
O nome da artista fica ligado ao coletivo artístico Fluxus, cujo fundador, George Maciunas, lhe facultou a oportunidade de apresentar a sua primeira exposição individual, em 1961.
A exposição de Yoko Ono vai ficar patente em Serralves até dia 15 de novembro.
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