Esta exposição reclama uma vocação universalista para arquitetura portuguesa, à semelhança dos Descobrimentos e da diáspora que engrandeceram a mitologia nacional?
Sim, mas não com esse sentido tão exclusivamente nacionalista que, às vezes, se atribui à palavra. Primeiro, eu gosto de descrever os universalistas com letra pequena, para nos distinguirmos dos universalismos do centro da Europa, por exemplo dos franceses que inventaram, com o Iluminismo, a ideia de universalidade cultural. O nosso universalismo foi sempre feito de baixo para cima. Ou seja, foi sempre feito a partir do contacto com o outro – quer seja na diáspora, na emigração, durante a colonização. O conceito de universalidade, que eu vou buscar ao ensaísta Eduardo Lourenço, é um conceito de dialética, não de imposição. Nós não impomos uma ideia de universo, nós lidamos universalmente com outras culturas, abrimo-nos a elas. É mais uma questão de método do que de imposição de uma cultura.
Não é coisa ideológica, mas antes uma prática?
É uma prática de relação. Também podíamos dizer “os cosmopolitas”, mas este termo está muito ligado ao universo de moda. Eu gosto mais da palavra universalistas: tem a ver com essa experiência de estar em todo o lado, de ter contactado com várias culturas e geografias, e termos dialogado com elas. Não estou a dizer que foi sempre um diálogo fácil ou amigável: sabemos que não o foi no colonialismo. Esse diálogo pode ser também de conquista.
Isso é visível na arquitetura deixada nas ex-colónias.
Exato. A arquitetura fez parte desse processo de colonização. O que eu digo aqui, na exposição, é que nem todos os arquitetos eram necessariamente colonialistas. Isto é, eles estavam ao serviço de um poder colonial mas estavam a trabalhar para o bem local, a integrar alguns elementos da cultura e a tentar estabelecer um diálogo com o clima, a cultura, o lugar. Isso vê-se nas arquiteturas africanas. Com isto não estou a tentar ser nem a favor do colonialismo nem conservador em relação à cultura portuguesa (como, às vezes, sou acusado), mas a dizer que há uma particularidade portuguesa de estar no mundo, que não é muito frequente de outros povos. Algo que vou buscar ao Eduardo Lourenço, que escreveu muito sobre esta forma portuguesa de estar no mundo.
Ir buscar um tal patrono, em vez das questões de estilo, de linha e de forma, não é habitual numa exposição de arquitetura. O que o motivou?
Eu não vejo a arquitetura apenas como uma questão de estilo, de linha e de forma. A arquitetura é uma atividade que está integrada numa sociedade, e reflete o que essa sociedade propõe e as suas mudanças, e a própria disciplina influencia essas mudanças. Eu insisto sempre em ver a arquitetura como uma atividade política, no sentido da polis, não dos partidos: o debate da cidadania, da cidade, da sociedade… Para mim, não faz sentido um arquiteto trabalhar alheado das questões culturais, políticas, sociais. Foi isso que quis mostrar nesta exposição: é que há um paralelo entre a História de Portugal dos últimos cinquenta anos e a forma como os arquitetos reagiram a essas mudanças.
Quer exemplificar?
Às vezes, é uma relação direta, outras vezes indireta. Logo a seguir ao 25 de Abril, os arquitetos envolvem-se em programas de alojamento social, com o famoso programa SAAL que deu a conhecer o Siza [Vieira] no plano internacional. Aí os arquitetos estavam a responder, claramente, à agenda da revolução – que era dar casas às pessoas, o mais urgentemente possível. Por exemplo, na globalização (último tema da exposição), os nossos arquitetos não estão muito preocupados em ser globais. São-no, naturalmente, porque têm qualidade mas não são estrelas globais que têm três ou quatro escritórios espalhados pelo mundo, que viajam incessantemente de escritório em escritório, a realizar obras icónicas. Embora tenham obra no mundo, não têm essa ambição de serem arquitetos estrela, e, se o são, são-no por antinomia. Porque não o querem ser, tornam-se também referência para outros arquitetos, alunos, que apreciam esse lado, que é muito português. Em vez de chegar e impor, é o tentar perceber, dialogar, perceber o que é a cultura autóctone.
Como é o caso de Siza Vieira?
É o que fez o Siza toda a vida: quando chegou à Holanda, percebeu o que era fazer uma habitação social aí; quando chegou à Berlim, fez uma habitação social integrada na cidade; no Brasil, faz um museu que tem a ver com a cultura brasileira; na China, faz edifícios mais líricos que têm a ver com a cultura chinesa mais eufórica que os chineses têm… Os nossos arquitetos não estão interessados em repetir uma receita em todo o lado, mas em fazer uma receita aplicada a cada lugar. Não é uma relação direta com a globalização, é uma outra forma de ser global.
Essa qualidade é exercida sem esforço pelos arquitetos portugueses, parece-lhe…
Sem esforço, porque parte de um certo pragmatismo: nós fomos sempre um país com poucos meios para realizar grandes obras, e tentamos fazê-lo com parcimónia, com aquilo que há à mão. Não levamos, à partida, uma receita e uma tecnologia que se possa exportar. Exportamos mais um método, uma dialética, um diálogo com os lugares. A arquitetura portuguesa não tem um estilo, tem um método.
Estando, hoje, os arquitetos a trabalhar no mercado global, ser universalista não é a condição de qualquer profissional?
Os arquitetos estrela é que levam uma receita formal para os países. O exemplo mais irritante é o de Frank Gehry: ele faz o Guggenheim [de Bilbao] em vários sítios. È sempre a mesma receita formal. O Álvaro Siza não faz isso. Sobretudo, parece-me importante a questão da tecnologia. O Frank Gehry leva uma tecnologia atrás de si: estruturas em aço, titânio, toda aquela parafernália de materiais. O Siza, pelo contrário, tenta adaptar-se às condições existentes, à mão de obra, ao clima… É um dos poucos arquitetos globais, universais no caso dele, que não quer impor essa forma.
Faz distinção entre global e universalista?
Sim. Hoje, vivemos este drama: somos mais locais ou mais globais? Há pessoas que resistem à globalização e que olham mais para a tradição, nação… Depois, temos os tais cosmopolitas, que querem viajar pelo mundo e que dizem até que não têm passaporte e tal. Os arquitetos portugueses sabem que são portugueses, de onde partem, mas, quando chegam a qualquer lugar, tentam estabelecer uma relação. Quanto a mim, isso é ser, nem global nem local, mas universal. Eu gosto muito de usar a frase do Miguel Torga: “O universal é o local entre paredes.” Os portugueses olham para o resto do mundo sem as paredes, e sobretudo sem os muros, que outros insistem em construir.
Essa vocação universalista é a realidade da maioria dos arquitetos nacionais?
É, sem dúvida, a realidade da arquitetura portuguesa. E passou de geração em geração: era, por exemplo, a posição do Fernando Távora que passou esta metodologia para Siza que, por sua vez, a passou para Souto Moura, e vejo alguns discípulos destes a assumirem a mesma posição. Isso está a mudar, e esta exposição pode estar a falar do fim de um ciclo. Com a capacidade para viajar e a saída de muitos arquitetos para outros países, talvez mais influenciados pelos métodos de trabalho aí praticados, já não há esta linhagem do mestre-discípulo. Muitos arquitetos começam a sua prática sem terem trabalhado com ninguém: juntam-se em coletivos e trabalham autonomamente. Usam as armas que têm e essa capacidade de estar em rede, em contacto permanente com os profissionais de outros países. E isso está a mudar o paradigma: é uma nova forma de universalismo. É um trabalhar em rede e tentar que essa rede se mantenha.
É por isso que as cinco décadas contempladas em Os Universalistas vão apenas até aos nascidos em 1960?
Sim. Não tenho os chamados “jovens arquitetos”, que é algo que não sei o que significa. Digo sempre que não há pessoa mais jovem do que o Álvaro Siza, que está sempre a surpreender-nos. A questão da jovem arquitetura é uma questão política, não é disciplinar. Acho bem que se discriminem os novos no sentido de se criarem oportunidades e concursos para jovens arquitetos, que é a forma destes entrarem no mercado. Mas não acho que, pelo facto de se ser jovem, se é melhor. E a arquitetura é uma profissão de maduros. Só depois de muitas tentativas e erros, é que ganhamos experiência para fazer arquitetura com alguma solidez. Portanto, quis colocar nesta exposição pessoas que tivessem várias obras feitas, reconhecidas, publicadas, premiadas, e dificilmente tal acontece com profissionais abaixo dos 50 anos de idade.
E o que acha do fenómeno Arch Daily?
Eu gosto muito do Arch Daily [site de arquitetura fundado em 2008, com milhões de visitas, que atribui um prémio anual aos melhores edifícios] mas não lhe dou a importância que muita gente dá. Estamos a falar de um site em que as pessoas votam nas obras, uma espécie de Chuva de Estrelas. Eles não têm uma avaliação teórica, política: tudo é feito com base na reação à imagem, mas as pessoas não viram aquelas obras. É incrível como é que se classifica e se escreve sobre construções que nunca se visitaram, sem saber se têm fotoshop ou sequer se a obra foi construída! Para mim, o ArchDaily não mede a importância daquilo que se está a fazer. Mede a importância daquilo que se divulga, mas aquilo que se divulga nem sempre irá fazer história. Aliás, hoje, cada vez menos sabemos o que irá fazer história, é tudo tão vertiginoso… Na exposição Os universalistas, eu quis respirar, olhar e ir buscar coisas que eu acho que vão fazer história.
É devido à maturidade e ao método que Portugal tem dois prémios Pritzker, Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto Moura?
Sim, eu diria até mais pelo método do que pela maturidade. A maturidade conquista-se com a tal tentativa e erro. Muitos arquitetos presentes na exposição tentaram, erraram, falharam, reergueram-se… Do que li em ambos os relatórios sobre os dois Pritzker, o que enalteciam era precisamente essa capacidade de diálogo com o lugar, com o mundo, com as outras culturas, de olhar a história da arquitetura e de retomar elementos desta. Estes dois arquitetos, em particular, não escondem que vão buscar referências mas nunca fazem é uma cópia direta: eles reinventam os seus heróis. O Siza reinventa o Alvar Aalto, o Souto Moura reinventa o Mies van der Rohe. Mas nós olhamos e dizemos: “Isto é Siza, isto é Souto Moura, não é Aalto, não é Mies.” Mas eles estão lá. È isto que a melhor arquitetura faz, reinventar.
Entre os 50 projetos patentes na exposição, estão linguagem formais muito diferentes…
Como curador, tenho tendência a não escolher as obras porque gosto de. Há, aqui, obras de que provavelmente não gosto, do ponto de vista estético, mas percebo o seu valor histórico. Há que olhar para os vários estilos, até para as obras datadas como as que se fizeram, por exemplo, nos anos 1980 com o pós-modernismo. Mas é importante ter obras do pós-modernismo, desse momento em que Portugal está a descobrir a história, as linguagens clássicas, em que os arquitetos estão a procurar a cor ou elementos clássicos. Como faz o arquiteto Manuel Vicente com a Casa dos Bicos, em que acrescenta dois pisos que são um pastiche do edifício. O pastiche existiu, há que reconhecê-lo, e é perigoso um curador fazer uma exposição baseada apenas no gosto.
Como organizou os cinco temas presentes em Os universalistas?
O primeiro tema, universalismo versus (inter)nacionalismo 1960-1974, tem a ver com o debate na arquitetura portuguesa, no final da ditadura e nos fins dos anos 1960: devemos ser nacionalistas ou internacionalistas? Devemos seguir a arquitetura moderna, das linhas depuradas, que é igual em todo o lado, ou devemos procurar a casa portuguesa? Claro que Salazar preferia uma arquitetura portuguesa e pediu-lhes que fossem à sua procura, fazendo um inquérito à arquitetura popular em Portugal. E o que os arquitetos fizeram foi mostrar que havia uma arquitetura popular que tinha elementos de modernidade. E pegaram nos resultados desse inquérito e adaptaram-nos: fazem uma arquitetura que não é nem tradicional nem moderna, aquilo que o Távora chamou “a terceira via”. Por exemplo, a Casa de Chá da Boa Nova (Leça da Palmeira, 1958-1963), de Siza, uma casa moderna mas que tem telhados e chaminé, usa pedra e materiais locais… Aqui, também incluo uma obra de Fernando Távora que considero muito interessante, o Convento de Gondomar [Convento das Irmãs Franciscanas de Calais, 1961-1971], uma obra em que ele está a tentar ser, ao mesmo tempo, moderno e tradicional.
O segundo tema é o colonialismo 1961-1975…
É um tema polémico e sensível. É sempre difícil fazer um apanhado da arquitetura portuguesa construída em África, sobretudo porque, hoje, a grande discussão é se aquilo é português ou se já é angolano, moçambicano… Claro que é moçambicano mas foi construído durante a colonização portuguesa, e por muitos arquitetos portugueses que não encontravam condições para fazer a arquitetura que queriam em Portugal. Muitos destes de esquerda, alguns pertencentes ao Partido comunista, e estando longe de ser colonialistas. Mas foram para lá pois havia hipótese de fazer uma arquitetura moderna. Quando chegam lá, incorporam elementos da arquitetura local: por exemplo, as grelhas em betão da escola de [Francisco] Castro Rodrigues no Lobito, ou as obras do Pancho Guedes em Moçambique, ou quando o Manuel Vicente vai para Macau fazer o Orfanato Helen Liang (1963-64), um edifício voltado para dentro mas que tem as cores efusivas do oriente. Estamos a falar de arquitetos que levam a sua aprendizagem europeia, porque muitos até passaram por Paris e trabalharam com Le Corbusier, e que depois vão para África ou Àsia, e fazem uma arquitetura que é internacional, portuguesa e também local. Universalista.
Como é que o universalismo se manifesta no terceiro tema, a revolução 1974 e 1979?
Aqui, claramente, o universalismo coloca-se nas questões ideológicas: o que é isto de fazer uma arquitetura para todos? E, sobretudo, ao nível da habitação social. E, aqui, é muito interessante porque os arquitetos vão até buscar exemplos de outras arquiteturas socialistas e sociais-democratas que tinham sido construídas na Europa, no pós-guerra ou até antes da Segunda Guerra Mundial. O Siza Vieira inspirou-se muito nos bairros alemães dos anos 1930 para fazer aqueles bairros no Porto [Bairro da Bouça; Bairro de São Vítor, 1974-76]. É um momento de grande diálogo com as populações mas em que os arquitetos não deixam de olhar para a história universal da arquitetura e de irem buscar exemplos da história em que outros arquitetos, antes deles, tinham sido heróis de revoluções.
Não fazem a negação da história…
Exatamente. Até porque muitos arquitetos portugueses já tinham começado a trabalhar para as populações, antes do 25 de Abril. O Nuno Portas e o Nuno Teotónio Pereira já faziam habitação social em Lisboa, nos Olivais… Por exemplo, o 25 de Abril não é o início da carreira para o Nuno Porto, é até um culminar: há muito que ele escrevia sobre a importância de fazer bairros sociais, que respondessem à vontade das pessoas. E quando se torna secretário de Estado da Habitação e cria o Programa SAAL, ele está a cumprir uma década de reflexão sobre o que era isto de criar casas com as pessoas, ouvindo-as… Para o Siza, é o início da carreira internacional, quando ele é convidado a trabalhar na Europa.
E o quarto tema da exposição é, precisamente, universalismo versus europeanismo 1980-2000.
A entrada na nova miragem, como diz Eduardo Lourenço. Deixamos a miragem do império, frágil e decadente, deixamos de ser portugueses imperiais para passarmos a ser portugueses europeus. E Eduardo Lourenço diz que fizemos isso do dia para a noite. A partir de 1985, e há uma bela Fotografia de Mário Soares no Mosteiro dos Jerónimos a assinar o tratado na exposição, entramos na nova miragem que é conseguir dinheiro para obras. E os arquitetos portugueses beneficiaram disso: houve concursos para construir novos edifícios, câmaras municipais, tribunais, centros culturais, arquivos, bibliotecas… Os anos 1980 e 90 são importantes para uma certa geração, a tal que tem agora 50 anos, e que, sobretudo nas cidades médias de Portugal, construíram muitos equipamentos urbanos que não existiam. E a arquitetura democratizou-se também assim. Aproximamo-nos de outra forma de ser universalista: começamos a contribuir para a reflexão sobre o que é isto de ser europeu. E o Eduardo Lourenço, num belo texto que publicamos na exposição, Nós e a Europa, diz que é engraçado como o povo que levou mais longe a ideia de ser europeu, estava agora a pedir por favor para ser europeu…
Diz que o 25 de Abril colocou a arquitetura portuguesa nas revistas da especialidade…
A exposição mostra como o Siza passa a ser um arquiteto reconhecido na Europa, ganha o Pritzker em 1992, e a arquitetura portuguesa passa a ser muito mais publicada nas revistas da especialidade. A Europa ficou fascinada, não só com a revolução portuguesa – a última revolução na Europa do século XX – como com o haver arquitetos a trabalhar para o povo, sem filtros nem burocracias. E isso fez com que muitos críticos viessem a Portugal e começassem a publicar avidamente artigos sobre os arquitetos portugueses. E chegamos ao quinto tema da exposição: a globalização. Esta ideia de que passamos de europeístas a viver num mundo global, mas não deixamos de ser aquilo que éramos: pessoas que sabem de onde partem, de um país com poucos meios e capacidade de influência internacional. Mas que, hoje, do ponto de vista cultural, isso é muito bem visto. Somos, hoje, um case study por várias razões: a gerigonça, a arquitetura, o cinema… No cinema, também temos uma velha geração que ensinou uma nova geração a fazer cinema. Não conseguimos olhar para o Pedro Costa e não pensar no Manoel de Oliveira, ou olhar para o Miguel Gomes e não ver o João César Monteiro. No cinema como na arquitetura, há uma passagem de testemunho. E sobretudo essa ideia de que não se mata o pai. Não vale a pena matar o pai, negar a origem das coisas, porque temos muito a aprender com ele. Depois, temos de ser hereges e heréticos, de cometer a heresia de acrescentar algo nosso.
A exposição é multimédia, e liga a arquitetura à politica, cultura, sociedade…
Essa contextualização é feita de três maneiras: através dos textos do Eduardo Lourenço, dos cartoons do João Abel Manta que acompanha Portugal ao longo de 50 anos, e das fotografias do Alfredo Cunha. Ele é o grande fotógrafo da Revolução, mas já antes tinha grandes fotografias dessa pobreza escondida do Portugal salazarista, orgulhosamente só, e também acompanhou os grandes estadistas portugueses. Fui falar com o Alfredo Cunha e disse-lhe que ele tinha de ser também o meu fio condutor, e vamos ter, nos cinco temas, fotografias desse Portugal a passar em contínuo. E as pessoas vão reconhecer esse país, até ao ano 2004, o do Portugal que deu certo.
Quer romper as paredes do que é a “exposição de arquitetura”?
Esta exposição não tem paredes: são placards que voam no espaço e que permitem olhar através deles. A ideia é quebrar esses muros, essas paredes, que continuamente tenta colocar-se entre gerações, entre décadas. Quero demonstrar que, no fundo, não há nenhuma disciplina, nenhuma história que se possa descrever com sectarismos, vinganças, assassinatos de paternidade. Temos que aprender uns com os outros, e sobretudo com os mais velhos. A minha geração, e outras, é privilegiada por conhecer uma pessoa como o Álvaro Siza, que é incrível e está a produzir. É como conhecer o Fernando Pessoa.
As futuras gerações dirão isso de arquitetos, por exemplo de um Aires Mateus, prémio Pessoa?
Estão a construir-se os novos heróis. O Manuel Aires Mateus tem qualidades universalistas, por isso está nesta exposição. Naturalmente, não tem a experiência nem a profunda maturidade do Álvaro Siza, irá lá chegar. Não tendo trabalhado com o Siza, tem essa linhagem.