Os músicos que preenchem os tops no mundo inteiro andam insatisfeitos e, ao que parece, o culpado é o YouTube. Dezenas de artistas da indústria musical assinaram uma carta aberta dirigida ao congresso norte-americano, apelando à revisão e reescrita da legislação que regula tanto o YouTube como outras grandes plataformas digitais. Porquê? Dizem que estas “ameaçam a viabilidade dos compositores e dos artistas para sobreviverem”.
Entre os queixosos, estão nomes grandes como os U2, Paul McCartney e Taylor Swift. Aliás, a cantora de 26 anos, com mais de 40 milhões de álbuns vendidos e 130 milhões de downloads digitais (é uma das cinco artistas que lideram as vendas digitais de música), é um trunfo desta nova campanha. Não é a primeira vez que Swift protesta a favor dos direitos dos músicos: em 2015, teve um conflito aberto com o Spotify, tendo retirado o seu catálogo do serviço de streaming, alegando que este era uma experiência que não compensava devidamente os artistas envolvidos.
Aos protestos da coligação de músicos que agora militam por novas condições de acesso à sua música, juntaram-se também as gigantes discográficas Universal Music, Sony Music e Warner Music. E a carta aberta começa assim as hostilidades: “Querido Congresso: a Digital Millenium Copyright Act (DMCA) está partida e já não funciona para os criadores.” Argumentando que a lei foi escrita e aprovada numa era tecnologicamente ultrapassada, em comparação com a realidade atual, apontam o dedo às corporações tecnológicas que cresceram com a explosão digital e que, alegam, obtiveram lucros gigantescos à custa da diminuição dos ganhos dos artistas. “O consumo de música disparou, mas o dinheiro ganho por compositores e artistas individualmente, devido a esse consumo, afundou”, sublinham.
A ironia de que os queixosos aparentem ser as figuras da indústria que maiores receitas geram e arrecadam pode parecer impossível de ignorar… Mas vários comentadores da imprensa especializada apontam que o verdadeiro objetivo desta campanha não está relacionado com a DMCA, lei datada de 1998 que regulamenta a forma como as grandes companhias da internet podem usar o material carregado pelos seus utilizadores. A questão é que os protagonistas da indústria musical acreditam não estar a receber o suficiente pela utilização da sua música no YouTube, e não se sentem confortáveis com a falta de controlo sobre a sua música nesta plataforma. Ainda que o YouTube já tenha vindo à praça pública declarar ter proporcionado um retorno na ordem dos três mil milhões de dólares para essa mesma indústria musical e para as editoras discográficas.
A batalha não é nova. No início deste ano, já tinha sido feita uma petição, assinada por músicos como Katy Perry e Billy Joel, pedindo alterações expressas à regulamentação dos direitos de autor. Mas à revista digital Recode, o organizador desta carta aberta, o manager Irving Azoff, declarou que o tabuleiro do jogo pode agora virar, já que esta é a primeira vez que “A-listers”, como Taylor Swift, juntaram os seus nomes à campanha. “Se se é uma das grandes companhias discográficas e se se continua a negociar com o YouTube nos mesmos termos que tem acontecido até aqui, esse é um mau sinal para as pessoas que assinaram esta carta”, defendeu Azoff.
A batalha pelos direitos contratuais e pelos lucros gerados pela indústria musical ainda mal começou. É uma espécie de corrida ao petróleo, sem plataformas e sem danos ambientais aparentes… E há quem não esqueça que muitos músicos têm usado o YouTube conforme lhes é conveniente: por exemplo, aquando do conflito com o Spotify, Taylor Swift manteve disponíveis gratuitamente os vídeos do seu novo álbum… no YouTube.