As reservas de um museu são lugar secreto a que nenhum ingresso pode dar acesso, mas o Museu Nacional de Arte Antiga vai inverter esta premissa. Obras em Reserva – O Museu que não se vê, é uma mega mostra com 314 obras de arte, oriundas de todas as coleções guardadas nas reservas, no edifício da Rua das Janelas Verdes, em Lisboa. Pinturas, desenhos, tapeçarias, iluminuras, esculturas, gravuras, artes decorativas, vidros, estarão contemplados nesta revisitação ao vasto património desconhecido do MNAA. Haverá quantidade, qualidade… e arrojo.
A mostra organizada por aquele que é considerado o maior museu nacional, casa do famoso triptíco As Tentações de Santo Antão, de Hieronymus Bosch, e novo lar do quadro Adoração dos Magos, de Domingos Sequeira (resultante da recente e inédita operação de crowdfunding nacional), vai mostrar peças que, por falta de espaço, sublinham os seus responsáveis, nunca conseguem estar nas salas para fruição pública. Mas Obras em Reserva – O Museu que não se vê também vai revelar obras de arte, habitualmente escondidas nas sombras museológicas: os trabalhos cujo estado de conservação não permite a “dignidade conservativa” adequada ao MNA, e as obras cuja autoria é controversa. Isto é, ‘ruínas’ e falsos. Como é o caso de Santa Catarina de Alexandria, um painel de choupo dignamente emoldurado e doado por Calouste Gulbenkian ao MNAA, cuja autoria foi atribuída com dúvidas a Lucas Cranach, o Velho (1472-1553), e é, reza a informação museológica atual, “provavelmente uam cópia tardia de um original, hoje perdido, executado na oficina do mestre, vasta e muito operosa, que repetia, com variações, os seus modelos”.
António Filipe Pimentel, diretor do MNAA, assume a ambição e diz-se “expectante” com a reação do público: “Esta exposição, um fresco transversal que percorre todas as áreas de conservação do museu,vai permitir ao visitante ter um olhar sobre peças esmagadoramente desconhecidas, e sobre as quais também existe sempre uma especulação mítica – o que é que está guardado por trás, e que nunca se mostra. Esse lado de voieurismo, no sentido positivo, é muito interessante.” Obras em Reserva – O Museu que não se vê ficará patente até 25 de setembro no Museu Nacional de Arte Antiga.