“Isto aconteceu antes de haver pessoas e de elas dominarem o mundo…”, começa assim, com um conto tradicional de origem cigana, o filme de Leonor Teles, 23 anos, que mereceu o Urso de Ouro para melhor curta metragem da 66ª edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim.
A realizadora compara o seu filme “enérgico, irónico e irreverente”, com menos de dez minutos de duração, a um registo de “música punk”. O tema é muito claro: uma abordagem livre mas muito direta à tradição, visível em vários pontos do país, de colocar sapos de loiça à entrada de estabelecimentos comerciais para afastar pessoas da comunidade cigana. Natural de Vila Franca de Xira e licenciada pela Escola Superior de Teatro e Cinema, Leonor cresceu numa família com raízes na comunidade cigana (da parte do seu pai) e o seu filme anterior Rhoma Acans (uma produção escolar premiada em Vila do Conde e no IndieLisboa) foi feito junto da comunidade cigana de Casal dos Estanques, Vialonga. Esta segunda curta, com produção da Uma Pedra no Sapato e o apoio da Portugal Film – Agência Internacional de Cinema Português, é mais experimental e deixa a sua mensagem muito clara nos vários momentos em que mostra Leonor a entrar de surpresa numa qualquer loja, a estilhaçar um sapo de louça no chão e a correr pela rua fora, numa espécie de cinema de ação direta onde não falta um lado poético.
“Balada de um Batráquio nasce aquando de uma revelação – a tradição portuguesa de colocar sapos de loiça à entrada de restaurantes e outros estabelecimentos comerciais para afastar e impedir a frequência de pessoas ciganas”, escreve a realizadora na apresentação do filme. “Através da minha história pessoal pretendi chamar a atenção para um comportamento crescente que se aproveita da crença e da superstição como forma de menosprezar e distanciar outros seres humanos.”
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