A sua voz é imediatamente identificada: um músculo quente, poderoso, retumbante, que escala as notas mais altas sem esforço, e é capaz de levar homens adultos às lágrimas. Adele tem o mesmo tipo de carisma de Billie, de Ella, das grandes cantoras dos standards do jazz, mas é, definitivamente, uma mulher deste tempo – a grande diva da pop contemporânea, ouvida em todo o lado. E a cantora está de volta com o seu terceiro disco de originais, 25.

Os prognósticos apontavam para que 25 vendesse um milhão de cópias na primeira semana, um número extraordinário no atual cenário de uma indústria musical anémica que emagreceu os números de vendas físicas. Mais do que isso, seria considerado um milagre dos tempos longínquos em que o streaming poderia ser considerado uma invenção de ficção científica.
Mas, no final da primeira semana de lançamento, Adele já tinha vendido 3,38 milhões de cópias, estabelecendo o recorde de melhor semana de vendas na história da música. E nas duas semanas seguintes, vendeu mais dois milhões… Poderia falar-se em tendência ‘adeleana’: 21, o álbum anterior, foi o disco mais vendido de 2011 e 2012, atingindo o número astronómico de 30 milhões de cópias vendidas em todo o mundo. E o vídeo de Hello, o single que saíu primeiro deste 25, foi visto 1,6 milhões de vezes por hora no YouTube.
Feita esta arimética, Adele pode bem ter o seu próprio rodapé no Guiness Book of Records. Rodapé? Hum, é melhor reservar uma página inteira, pois a cantora ainda está só a começar. Como disse Keith Caulfield, codiretor dos tops da revista Billboard (que analisa as vendas de música), a Sam Lanski, jornalista da TIME, Adele “é um unicórnio” – um caso raríssimo, diferente de tudo o que a indústria musical já testemunhou.

Sascha Steinbach
Durante 2016, e depois de quatro anos sem fazer concertos, a cantora fará uma digressão mundial, que inclui dois espetáculos em Portugal, a 21 e 22 de maio, na MEO Arena – mas bastaram 24 horas para os 40 mil bilhetes disponíveis serem agarrados pelos fâs portugueses.
Sam Lanski descreve-a assim: “Em pessoa, Adele é franca e divertida, apimentando o discurso com palavrões e apartes autodepreciativos. É desconcertante lembrarmo-nos de quão jovem ela é.” A cantora tem 27 anos, começou a estudar música aos 14 e foi descoberta, aos 18, no MySpace. Quando começou a gravar o álbum de estreia, 19, as suas expetativas eram baixas: “Eu era uma nova artista, ninguém queria saber de mim.”

Hoje, o seu nome move multidões, desde que a ouviram a cantar temas que falavam de desgostos amorosos e superação, como Chasing Pavements ou Rolling in the deep. Mas Adele não quer ser uma diva. “Alguns artistas, quanto mais famosos ficam, mais horríveis e desagradáveis se tornam. Quero lá saber se fizeste um álbum genial. Se não gostar de ti, não compro o teu disco. Não te quero ouvir a cantar em minha casa, se acho que és um sacana”, afirmou Adele à TIME. A revista americana deu-lhe honras de capa, fazendo dela o rosto de 2016. O futuro pertence-lhe. Ainda que Adele, em sotaque inglês carregado, afirme: “Somos apenas tão bons quanto o nosso próximo disco.” E este, seguramente, terá milhões de admiradores à espera.