Há quanto tempo não estávamos assim, a sós, no espaço, só espaço, só nada…E o resto é silêncio e forças gravitacionais. Há quanto tempo não se via um filme de sobrevivência no espaço, sem intervenção de maléficos alienígenas, sempre tão desagradáveis encontros imediatos ou guerras intergalácticas. Há quanto tempo não se via o 3D ao serviço de um argumento que não contenha só sustos e deslumbramentos (e no entanto, um parafuso de uma nave a flutuar na imensidão pode ter o seu fascínio). Porque apesar de toda a grandiosidade que a contemplação do planeta Terra (aqui “navega-se” sempre à vista) oferece, este é um filme minimalista, apenas com duas personagens e uma voz de contacto, um astronauta veterano, e uma engenheira espacial estreante nestas órbitras. E que se ocupam da rotina do seu ofício, de reparações e montagens de conexões com o telescópio Hubbles. E depois há um acidente em cadeia, e depois, já se sabe, no espaço não nos ouvem gritar. Como debaixo de água, aliás. E este poderia bem ser um desses filmes de submarinos, com espaços exíguos, claustrofobia, falta de oxigénio, explosões, rombos no “casco”, náufragos do espaço, que se deslocam como se nadassem, e a maldição da atração dos corpos e das matérias, que suga estes seres flutuantes como remoinhos, arrastados, quando o barco vai ao fundo. Sandra Bullock não tem a figura poderosa de Sigourney Weaver, mas é competente (outra candidata a óscar) e o filme perde cada vez que envereda pelo sentimentalismo, e pelo background, trauma frouxo e terreno, da personagem. É certo que as lágrimas no espaço se emancipam dos olhos e se soltam em bolinhas de cloreto de sódio, mas o filme ganha muito mais quando se foca no lado da nua e crua luta pela sobrevivência. E os pulmões clamam por oxigénio, no espaço, lá em cima, ou na água, cá em baixo . Algures no meio há de haver um “espaço” para nós…
Gravidade
De Alfonso Cuarón. Gravity, com George Clooney Sandra Bullock Thriller. 90 min.EUA. 2013