Mais do que a retrospetiva das curtas de Alexander Sikurov ou a visita de Gus Van Sant, o Curtas viveu quarta-feira um dos momentos mais altos da sua história, quando a população de Vila do Conde tomou de assalto o Auditório Municipal para assistir a Obrigação, a média-metragem que João Canijo fez no bairro piscatório das Caxinas.
Numa apresentação, quase tão longa como o próprio filme, o realizador começou por pedir desculpa ao público animado e ansioso, por a versão curta apresentada retirar algumas ‘personagens’. “Não tivemos tempo para montar uma versão maior com coerência”, alegou, avisando no entanto, que essa versão mais longa está a ser preparada. Mas a apresentação ficou marcada por Sónia, a peixeira que protagoniza o filme, que emocionada e genuína, declarou o seu amor em palco.
O filme é uma mistura entre documentário e ficção, em que a atriz Anabela Moreira interage com as mulheres dos pescadores. De forma rude, mas por vezes Sábia, enjeitam diálogos sobre o próprio amor e de como ele se desenrola em situações extremas e apesar da dureza da vida. João Canijo insiste numa visão feminina, ilustrando a fortaleza das mulheres e a vida de quem fica, em vez de se atirar ao mar dos pecadores (provavelmente o outro lado será retratadona versão longa).
O filme, produzido pelo Curtas de Vila do Conde, no programa Estaleiro, contou apenas com técnicos recém formados e pouco experientes, numa filosofia próxima do Workshop. A afluência das famílias vilacondenses foi tal (havia pessoas sentadas nas escadas do Anfiteatro), que já agendaram nova sessão para dia 21. “Esperámos 20 anos para isto”, afirmou mesmo Dario Oliveira, um dos diretores. Nunca o festival fez tanto sentido, nunca o festival se sentiu tão realizado.