A seguir à alemã Pina Baush (falecida há dois anos), Anne Teresa é a coreógrafa europeia mais interessante e original dos últimos tempos. E, durante nove meses vai fixar residência artística em Lisboa.
A linha artística de Keersmaeker difere totalmente da de Pina – expoente máximo do expressionismo europeu e hoje em dia “copiada” e até plagiada por um conjunto de coreógrafos das novas gerações.
A primeira criação de Anne Teresa (1989) foi uma revelação imediata devido às particularidades da sua linguagem coreográfica. No ano seguinte surpreendeu novamente com “Rosas danst Rosas” (no vídeo), ainda hoje considerada um clássico da dança contemporânea.
À procura do gesto emotivo
Inspirando-se nos gestos do quotidiano, a coreógrafa nunca cedeu ao virtuosismo da técnica que, regra geral, é receita garantida para o deslumbramento do público mais incauto (desprevenido?). Nas suas primeiras obras Anne Teresa trabalhou sobretudo o corpo feminino na sua sensualidade mais natural, sem clichés de qualquer tipo. Ao observarmos a interpretação dos seus bailarinos vemos autenticidade e espontaneidade.
Mas esta aparência natural da sua dança tem uma origem curiosa: Keermaeker realizou, ao longo dos anos, um trabalho formal, no intuito de compreender os mistérios do movimento. Acredita que este acaba por encontrar por si próprio a sua forma e durante muito tempo estudou intensamente o diálogo do movimento com o espaço e com a musica. As suas peças têm estruturas quase matemáticas e nada é deixado ao acaso. E no entanto não é frieza ou excesso de racionalidade que é transmitido, mas sim emoções e ideias em corpos que dançam.
Os corpos também intrigam Anne Teresa que os vê como uma representação social e nunca parou de tentar conhecer as suas possibilidades de significado e significação. Não terá sido por acaso que a coreógrafa referiu recentemente, já em Lisboa, que a dança, mais do que as outras artes, celebra a humanidade.
AGENDA
Os espetáculos vão ser exibidos entre os dias 3 de fevereiro e 30 de novembro deste ano, um pouco por todo o país. No CCB, já esta sexta-feira, de Fevereiro, estreia uma das sua coreografias mais antigas – “Fase” (1989).
Já para o final do ano, a 15 e 16 de Novembro a Gulbenkian acolhe duas peças novas da coreógrafa.
Festival alkantara, Temps d’Images, teatro Maria Matos, são Luíz, EGEAC, museu do Chiado e companhia nacional de bailado são os outros parceiros desta residência artística.
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