O maior festival português de cinema independente está de volta. O IndieLisboa, que este ano trará às salas do Cinema São Jorge, Culturgest, Teatro do Bairro e Cinemateca Portuguesa um total de 247 filmes, para ver até ao dia 15. Um número reduzido face à mostra do ano passado (270 filmes), que, segundo a produtora Zero em Comportamento, organizadora do festival, resulta do impacto da crise económica e financeira nas fontes de financiamento do evento. Com menos cinco milhões de euros do que no ano passado, a organização concentrou-se em “não fazer regredir o festival a uma etapa muito anterior do seu crescimento e consolidação nacional e internacional”, como disse, ao JL, Miguel Valverde, um dos diretores do IndieLisboa. E assegura: “Estamos felizes com esta edição porque conseguimos preservar o caráter uno do festival”.
Nesta 8ª edição, mantêm-se as secções oficiais – Competição Internacional e Nacional, Observatório, Cinema Emergente, Pulsar do Mundo e IndieJúnior – e paralelas – Director’s Cut, IndieMusic e Sessões Especiais. Pelo caminho, ficam as Lisbon Screenings (sessões de filmes portugueses inéditos reservadas a programadores e distribuidores estrangeiros) e o IndieLisboa Days – Portuguese Cinema On Tour (programas de filmes portugueses exibidos no festival que são apresentados no estrangeiro).
O Cinema Londres e o City Classic de Alvalade, antigos espaços do festival, são este ano substituídos pelo Teatro do Bairro e pela Cinemateca Portuguesa. Segundo Miguel Valverde, a parceria com o Teatro do Bairro vem reforçar a programação do Indie By Night (também no Lux), pois além das sessões diárias de cinema, o espaço acolherá, todas as noites, concertos, festas e outros eventos noturnos. A Cinemateca Portuguesa, por sua vez, junta-se ao IndieLisboa para realizar o desejo, comum às duas entidades, de fazer a primeira retrospetiva em Portugal de Júlio Bressane, cineasta brasileiro e representante do movimento Cinema Marginal. Serão mostrados 17 títulos da sua filmografia, desde o primeiro filme,
O Anjo Nasceu (a 7, às 21 e 30), até aos mais recentes,
Cleópatra (a 7, às 19) ou
A Erva do Rato (a 6, às 21 e 30). O Herói Independente da 8ª edição do IndieLisboa estará em Lisboa a acompanhar esta retrospetiva, juntamente com a atriz Alessandra Negrini, protagonista de alguns dos seus filmes.
Carlos, de Olivier Assayas, e Les Amours Imaginaires, de Xavier Dolan, são as longas-metragens escolhidas para a cerimónia de abertura do festival – às 21 e 15, na Culturgest, e 21 e 30, no São Jorge, respetivamente -, que se prolongará pela noite dentro, com a festa de inauguração no Teatro do Bairro.
Em relação à competição internacional (com 52 filmes) e nacional (com 20), Miguel Valverde prefere não fazer destaques, uma vez que as obras estão, precisamente, a concurso. Não obstante, sublinha a abrangência da seleção de curtas-metragens nacionais: “Há um encontro entre cineastas novos, como Marta Monteiro, cineastas que o IndieLisboa ajudou a consagrar, como Gabriel Abrantes, e cineastas já aclamados, como Marco Martins”. Na secção Observatório, há três obras que considera “absolutamente essenciais do cinema independente atual”: Kaboom, de Gregg Araki (a 15, às 19 e 15, no São Jorge), Homme au Bain, de Christophe Honoré (a 6, às 21 e 45, e a 14, às 21 e 45, no São Jorge), e Essential Killing, de Jerzy Skolimowski (a 11, às 21 e 45, no São Jorge).
Já no Cinema Emergente, chama a atenção para o primeiro filme de Sergio Caballero,
Finisterrae (a 7, às 14 e 45, e a 12, às 24, no São Jorge), inspirado no clássico
La Cicatrice Intérieur, de Philippe Garrel, e para
Rubber, de Quentin Dupieux (a 5 e a 15, às 21 e 30, no Teatro do Bairro), um filme sobre um pneu assassino. A secção dedicada às novas linguagens do cinema contemporâneo apresenta, ainda, um conjunto de 18 filmes de alunos do centro de formação artística e audiovisual Le Fresnoy, em Tourcoing (França), que tem tutores como Jean-Luc Godard, Michael Snow ou Tsai Ming Liang. Além da mostra, o IndieLisboa promove um workshop de realização com João Pedro Rodrigues, formador da Fresnoy, e Damien Manivel, ex-aluno da escola, através do qual os dois melhores alunos terão entrada garantida para a fase final de acesso à Fresnoy.
Grande Hotel, de Lotte Stoops (a 12, às 21 e 30, e a 14, às 19 e 15, na Culturgest), é uma das sugestões do diretor do IndieLisboa dentro da programação dos filmes que abordam questões relevantes da atualidade, na secção Pulsar do Mundo. Um documentário sobre uma obra de arquitetura megalómana, do período da colonização portuguesa em África – o Grande Hotel da cidade da Beira, em Moçambique -, onde moram, atualmente, cerca de 3500 pessoas, sem água e eletricidade.
A preocupação com o estado do mundo – desde a crise económica ao terrorismo – atravessa, de resto, todas as secções da 8ª edição do IndieLisboa, até a dos mais novos: “Este ano, quisemos criar temas e gerar discussão no Indiejúnior, apresentando filmes que abordam novas famílias, emigração, intervenção social, entre outros assuntos”, declara Miguel Valverde.
O festival promove, ainda, uma série de atividades paralelas, nomeadamente as Lisbon Talks, um seminário com convidados portugueses e estrangeiros sobre produção, distribuição, promoção e exibição na área do cinema (a 8, no Hotel Florida) e conversas diárias (de 9 a 13, às 17 e 30, no São Jorge); e a Videoteca Samsung, onde podem ser vistos gratuitamente todos os filmes recebidos pelo IndieLisboa durante o processo de seleção (de 6 a 14, entre as 10 e 30 e as 20 e 30, na Culturgest).