Costuma entrar em grandes dramas, interpretando personagens muito complexas e pesadas. Mas aqui, em Copacabana, interpreta uma personagem de comédia. Como é que se sente? Sente-se mais leve do que o habitual?
Não necessariamente. Este não é o meu primeiro filme leve. Não abordo as personagens que interpreto como um fardo. Quando faço filme mais dramáticos não me sinto arrependida e macambúzia.
As suas interpretações são tão poderosas que ficamos com a sensação que encarna mesmo as personagens. Mas trabalhando com a sua filha para si seria sempre um feel-good movie…
Se o filme tivesse uma carga dramática não seria. Passámos algum tempo juntas, o que é bom. Mas quando atuamos entramos de tal forma nas personagens que esquecemos tudo o resto.
Como é interpretar o papel de mãe de Lolita?
Não é um documentário sobre a nossa vida privada. São personagens bem definidas em situações muito específicas. Gostámos de ser mãe e filha, facilitou, porque foi algo que precisássemos de trabalhar no filme, a relação encaixou-se imediatamente.
A sua personagem representa uma geração. A Isabelle Hupert era uma adolescente nos anos 60, durante os grandes movimentos sociais.
A personagem está para nos anos 70, no movimento hippie, muito idealista. Ela ainda acredita em alguns valores. É uma pessoa generosa. Mas isso afasta-a da filha. Ela é suficientemente esperta para perceber isso e tenta mudar em nome da filha.
Entra em filmes de grande qualidade, em grande parte no cinema independente. Como seleciona os filmes em que participa?
Tenho a preocupação de fazer bons filmes. Ligo a bons guiões e a bons realizadores. Tanto posso fazer filmes independentes como comercias.
Há algum realizador com quem gostasse de trabalhar mas ainda não teve a oportunidade?
Não faço esse tipo de declarações.
Agora está a trabalhar com Brillante Mendonza, o realizador filipino que ganhou Cannes, o que pode contar-nos da experiência?
Acabei agora mesmo as filmagens. Estou muito curiosa em descobrir o filme. É diferente de qualquer que eu já tenha feito. Mas como acabei de terminar é muito cedo para falar disto.
Também participou numa série de televisão Law and Order. É diferente do cinema?
Sim e não, é uma atuação de qualquer forma. Escreveram um papel só para mim, e eu senti-me muito lisonjeada e contente por ter aceite.
Recentemente, também fez teatro, isso deve ser muito diferente. Não tem vários takes.
Não, mas tenho várias noites. É mais duro, é muito recompensador, faz-me sentir muito preenchida, mas por outro lado pode ser muito doloroso.
E agora, qual é o seu próximo filme?
Vou entrar em filmagens para o novo filme do Miachael Haneke. Chama-se Amor. E eu sou a filha de dois pais que estão a ficar velhos. O filme é sobre isso, sobre o processo de envelhecimento.
Conhece o cinema português?
Na verdade não tanto quanto gostaria. Mas gostava de trabalhar aqui, acho que é país muito especial. Aliás, na verdade já trabalhei em Portugal, mas nunca com um realizador português.
Neste filme fala português, com o sotaque do Brasil. Gosta mesmo de música brasileira ou é apenas a personagem?
É difícil não gostar de música brasileira. Mas a personagem sabe muito mais de música e cultura brasileira do que eu.
A última vez que contrecenou com Lolita ela tinha quatro anos, num filme de Claude Chabrol. Trabalhou muito com este realizador que recentemente faleceu. Quais são as suas recordações?
Trabalhar com ele era puro prazer. A nossa relação era ão forte. Iriamos fazer um filme juntos no próximo outono. Conheiamo-nos tão bem que ele já sabia se eu ficar contente e eu sabia se tal coisa seria um supresa agradável para ele.
Há quem diga que é a psicopara favorita dos franceses. Parece que muitas vezes é escolhida para este tipo de papéis. Incomoda-a?
Não, pelo contrário, agrada-me, porque normalmente são grandes papéis. Para mim é melhor fazer papéis complexos ou mais do que isso pessoas que tentam sobreviver.
Qual foi o papel mais complexo que interpretou?
Não existe o mais complexo- Uma personagem aparentemente simples pode ser bastante mais complexa de interpretar. Nunca meço as minhas atuações em termos de complexidade. Obviamente que pode ser complexo para o espetador digerir algumas personagens, mas para um ator não há esses graus de dificuldade, às vezes quanto mais difícil é a personagem, mais fácil é fazê-la.
Por exemplo, a personagem que interpreta em A Pianista, de Michale Haneke, foi fácil?
Não foi difícil. É difícil para o público ver e aceitar porque é uma personagem muito perturbadora, com uma grande carga emocional. Mas é muito excitante fazer estes papéis.
E trabalhar com Michael Haneke…
Ele dá-nos direções e depois deixam-nos espaço para desenvolvermos a personagem.
Gostava de fazer um filme?
Como realizadora? Não, muitos atores fazem isso, mas eu não tenho interesse.