Não se pode dizer que Em Estado de Guerra seja um filme atecnológico. Logo no início, vemos a curiosa imagem de um robot telecomandado, dirigido pelos soldados para desmantelar uma bomba, como se a guerra fosse um jogo de computador. Só que pouco depois, e durante o resto do filme, vemos essencialmente o homem a substituir a máquina, e o sargento desmantelador a tirar o seu ‘fato de astronauta’ (“Se é para morrer, quero morrer confortável”). Foi precisamente isto que a mais famosa Academia de Cinema fez no passado domingo, despiu a tecnologia para descobrir o homem. Premiou Em Estado de Guerra e deixou cair Avatar, apesar dos dólares, apesar do 3D, apesar dos anos de trabalho. A técnica da força contra a força da técnica.
O que estava este ANI em discussão, em cima do palco do Kodak Theatre, não era apenas qual dos dois filmes era o melhor, ou qual merecia mais ganhar. Ao não nomear Avatar para qualquer categoria artística, nem sequer para a de argumento, ao invés do que aconteceu com Em Estado de Guerra, a academia colocou em campos opostos a arte e a tecnologia. Um paradigma interessantíssimo já que, mais do que em qualquer área, no cinema a arte e a tecnologia convivem abertamente. A vitória de Avatar significaria um primado da tecnologia. Quereria dizer que o espectacular, os efeitos especiais, as três dimensões, os dólares investidos, eram mais importantes do que uma boa história, bem representada e escrita. Seria um precedente grave. Assim, ganhou a arte e recolocou-se o cinema na sua essência artística, em que a tecnologia é um meio mas não um fim.
Para a tecnologia 3D, esta derrota de Avatar não foi muito significativa. Teve o prémio das bilheteiras, que é aquele que, a rigor, mais conta para a indústria. Up, altamente, tornou-se o primeiro filme 3D a receber um Óscar (melhor animação). E, entretanto, Alice, de Tim Burton, vai no bom caminho para o sucesso comercial. E, sejamos honestos, esta Alice vale por mil avatares.