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- Oiça a entrevista e releia a versão integral, publicada, em 1970, no Cena 7: <#comment comment=” begin st_tag_br “>
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- Discografia de José Afonso (primeiras edições) <#comment comment=” begin st_tag_br “>
<#comment comment=” end st_tag_br “><#comment comment=” begin st_tag_a “>As músicas do Senhor Poeta <#comment comment=” end st_tag_a “><#comment comment=” end st_tag_li “><#comment comment=” begin st_tag_li “>
- Galeria de Fotos e Cronologia <#comment comment=” begin st_tag_br “>
<#comment comment=” end st_tag_br “><#comment comment=” begin st_tag_a “>As andanças do Andarilho <#comment comment=” end st_tag_a “><#comment comment=” end st_tag_li “><#comment comment=” begin st_tag_li “>
- Zeca Afonso na Internet<#comment comment=” begin st_tag_br “>
<#comment comment=” end st_tag_br “><#comment comment=” begin st_tag_u “><#comment comment=” begin st_tag_a “>Vida e Obra <#comment comment=” end st_tag_a “><#comment comment=” begin st_tag_a “><#comment comment=” begin st_tag_br “>
<#comment comment=” end st_tag_br “>Oiça as músicas do cantor no MySpace<#comment comment=” begin st_tag_br “>
1929
José Afonso, de seu nome completo José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos, nasce em Aveiro, em 2 de Agosto, filho do magistrado José Nepomuceno Afonso e da professora Maria das Dores Afonso. Os primeiros anos da sua infância passa-os naquela cidade, não em casa dos pais que, em 1930, se instalam em Angola, onde José Nepumoceno fora colocado como delegado do Ministério Público, mas na casa da Fonte das Cinco Bicas, da tia Gigé e do tio Xico, um republicano anticlerical.
A vida de José Afonso havia de ser, no entanto, uma história de “embalar a trouxa e zarpar”, uma existência de Andarilho: “Alguma coisa do que sou e fui foi em viagem”, diria ele ao jornalista José A. Salvador.
1933
Roída de saudades, a mãe exige que o miúdo, agora com três anos e meio, vá ter com ela ao Cuíto. José Afonso, que ficara em Aveiro, por ter uma saúde frágil, viaja no vapor ‘Mouzinho’, acompanhado por um primo, ao encontro dos pais, do irmão mais velho, João, e da irmã, Mariazinha, que nascera em Angola, um ano antes. Conforme conta Ana Margarida Carvalho em ‘Os Lugares de Zeca Afonso’ (VISÃO de 22 de Fevereiro de 2007), o primo, recém-casado, estava “mais atento aos recolhimentos da lua-de-mel do que ao puto de calções.” Por isso, José Afonso “com tanto de aflito como de desamparo, ancorou-se na mão de um velho missionário, o ‘homem das barbas brancas’, de quem nunca mais se há-de esquecer”, mas que desembarcou no Zaire e desapareceu. África faria vibrar a corda da sensibilidade do futuro cantor: “Fiquei terrivelmente ligado àquela realidade que é a África, aquilo tem, de facto, qualquer coisa de estranho, uma força muito grande que me seduz.”
1935
Frequenta, em Luanda, a 1.ª classe da instrução primária.
1936
Regressa a Aveiro a tempo de se matricular na 2.ª classe. “Foi violentamente traumatizante”, contaria mais tarde. “O professor pendurava-me pelas orelhas, porque eu era distraído.” Um ano depois, porém, vai de novo para junto dos pais e dos irmãos, que, na altura, já estavam em Moçambique, para onde José Nepomuceno tinha sido transferido. Faz a 3.ª classe, em Lourenço Marques.
1938
Volta para Portugal, com o irmão, ficando a morar em Belmonte, na casa de outro tio, Filomeno, que era presidente da Câmara local, indefectível salazarista e comandante da Legião Portuguesa. Ingressa no liceu. O tio obriga-o a vestir a farda da Mocidade Portuguesa. José Afonso: “Uma terra horrível. Um período fechado. Privado de contactos. Eu não podia, sequer, dar-me com os meninos da vila. Fiz ali a 4ª classe.”
1940
A fim de prosseguir os estudos, vai viver para casa da tia Avrilete, em Coimbra. “O ambiente era muito conservador: mulheres de escapulário, proibições…”, descreveria o cantor. Matricula-se no Liceu D. João III (hoje Escola Secundária José Falcão), onde se torna amigo de António Portugal e Luiz Goes. Dos pais e da irmã, agora em Timor, deixou de receber notícias quando os japoneses ocuparam o território e os internaram num campo de concentração. Só voltou a saber deles após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945.
1945
Frequenta o 5° ano do secundário. É, portanto, “bicho”, segundo a praxe académica. Mas quando, neste ano, começa a participar em serenatas, torna-se “bicho-cantor”, conquistando, assim, o privilégio de não ser rapado pelas trupes de veteranos quando era apanhado na rua depois das 22 horas. Joga futebol nos juniores da Académica. Em data indeterminada, inicia-se no judo, modalidade que praticaria durante muitos anos.
1949
Terminado o curso liceal, após dois chumbos, ingressa em Ciências Histórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Vive intensamente o clima de boémia das noites coimbrãs.
1950
Casa, contra a vontade dos pais e das tias, com Maria Amália de Oliveira, uma costureira de origem humilde. A residir na Rua da Carqueija, mantém contacto com as repúblicas estudantis, nomeadamente com as dos Cágados, Galifões, Ai-ó-Linda e Prá-quis-tão. Nos anos seguintes e até 1964, desloca-se várias vezes a Angola e a Moçambique, integrado na Tuna e no Orfeão Académico. Colabora na criação do Coral de Letras.
1952
Candidata-se à direcção-geral da Associação Académica de Coimbra, numa lista de esquerda que é derrotada, nas eleições. Integrado na Tuna, participa num concerto, na Galiza.
1953
Em Janeiro, nasce o seu primeiro filho, José Manuel. Para sustentar a família, José Afonso dá explicações e emprega-se como revisor, no Diário de Coimbra. É neste ano que grava os seus dois primeiros discos, em 78 rotações (rpm), nos estúdios da delegação regional da Emissora Nacional, com a chancela da Alvorada – ‘Fado das Águias’, com letra e música do cantor, e ‘Fados de Coimbra’, em ambos acompanhado por António Brojo e António Portugal (guitarras), Aurélio Reis e Mário de Castro (violas). Até 1955, cumpre, na Escola Prática de Infantaria, em Mafra, o serviço militar obrigatório: “Fui o menos classificado do curso, por falta de aprumo militar.”. Por motivo de saúde, livra-se da mobilização para Macau.
1954
Nasce a sua filha Helena.
1955
José Afonso e Maria Amália separam-se (divorciar-se-iam em 1963).
1956
A Alvorada edita o seu primeiro EP em 45 rpm, ‘Fados de Coimbra’, com António Portugal e José Godinho nas guitarras e Manuel Pepe e Levy Baptista nas violas.
1957
O cantor, que ainda frequenta a faculdade como aluno voluntário, começa a dar aulas no Colégio de São José, em Mangualde. Mais tarde, leccionaria, igualmente, em Aljustrel, Lagos, Faro, Alcobaça e Setúbal. O ensino era, de resto, uma das suas grandes paixões. Sobre a experiência como professor, diria: “Queria pôr os alunos a funcionar como pessoas, incutir-lhes o espírito crítico, fazer com que exercitassem a sua imaginação à margem dos programas oficiais.” Actua no Theâtre des Champs Elysées, em Paris.
1958
Colabora, em Lagos, Algarve, na campanha eleitoral do general Humberto Delgado, que, conforme havia de declarar, muito o impressionou.
1960
Editado pela Rapsódia, o EP ‘Balada do Outono’ inaugura o movimento da balada de Coimbra: No entanto, o autor escreveria, a propósito desta música: “Dominada ainda pelo velho espírito coimbrão, é o produto de um estado perpétuo de enamoramento ou como tal vivido, uma espécie de revivescência tardia da juventude.” É entrevistado no programa ‘Zip-Zip’,de Fialho Gouveia, Carlos Cruz e Raul Solnado – foi a sua única presença na televisão, antes do 25 de Abril.
1961
No Algarve, conhece Maria Zélia Agostinho, natural da Fuzeta, com quem viria a casar, em 1964, e teria dois filhos, Joana, em 1964, e Pedro, em 1969. Actua em Paris e em Genebra.
1962
Efectua digressões à Suiça, Alemanha e Suécia, na companhia de Adriano Correia de Oliveira, José Niza, Jorge Godinho, Durval Moreirinhas e Esmeralda Amoedo. É editado pela Rapsódia o EP em 45 rpm, ‘Baladas de Coimbra’, com acompanhamento de Rui Pato e que inclui temas famosos como ‘Menino d’Oiro’, dedicado ao seu primeiro filho, ‘Tenho Barcos, Tenho Remos’, ‘No Lago do Breu’ e ‘Senhor Poeta’, este com letra de José Afonso, Manuel Alegre e António Barahona da Fonseca.
1963
Termina o curso, em Coimbra, com 11 valores. A sua tese de licenciatura, sobre Jean-Paul Sartre, abordava as ‘Implicações substancialistas na filosofia sartriana’. Também intitulado ‘Baladas de Coimbra’ e igualmente com a chancela da Rapsódia, é editado outro EP em 45 rpm, com outras músicas que ficariam célebres: ‘Os Vampiros’; ‘Canção Vai… e Vem’, ‘Menino do Bairro Negro’ e ‘As Pombas’. Mas como a Censura proibiu ‘Os Vampiros’ e ‘Menino do Bairro Negro’, estes dois temas são substituídos, num novo disco, por ‘Balada do Aleixo’ e ‘Canção Longe’.
1964
Acompanhado, como nos anteriores, pela viola de Rui Pato, o cantor grava o EP em 45 rpm, ‘Cantares de José Afonso’, com a etiqueta da Valentim de Carvalho e que integra ‘Ó Vila de Olhão’, ‘Coro dos Caídos’, ‘Canção do Mar’ e ‘Maria’, dedicado a Zélia. A 1.ª edição é proibida mas, logo a seguir, saem dois singles, da mesma editora, com as mesmas músicas. É ainda em 1964 que a Ofir edita ‘Baladas e Canções’, o primeiro longa duração, em 33 rpm, de Zeca Afonso, nome pelo qual, entretanto, o cantor se tornara conhecido. Por esta altura, casa-se com Maria Zélia e ambos partem para Moçambique, onde o cantor reencontra os pais e os filhos José Manuel e Helena, que viviam com os avós desde 1958. Dá aulas na Beira e em Lourenço Marques. E tem, como havia de dizer, o seu baptismo político: “Estava a dois passos do oprimido.”
1966
Compõe ‘Coro dos Tribunais’ e ‘Eu Marchava de Dia e de Noite’ para a peça de Bertolt Brecht ‘A Excepção e a Regra’, traduzida por Luiz Francisco Rebelo, encenada por Cardoso dos Santos e que seria representada no Teatro dos Amadores da Beira. A editora Nova Realidade, de Tomar, publica o livro ‘Cantares’; em 1971, publicaria ‘Cantares de Novo’
1967
De novo em Portugal, é colocado no Liceu Nacional de Setúbal. Começa a aceitar convites para cantar em colectividades populares da Margem Sul e associações de estudantes, em Lisboa e Coimbra. Recusa o convite do PCP para aderir ao partido. Mas não se livra de ser constantemente vigiado pela PIDE que o convoca várias vezes para prestar declarações. Proibido pelo Governo de continuar a leccionar, vê-se obrigado a dar explicações. A polícia interrompe e cancela alguns dos seus concertos e a Censura interdita a radiodifusão de muitas das suas canções. Devido a este conjunto de circunstâncias, sofre uma grave depressão e tem de ser internado na Casa de Saúde de Belas, onde permanece 20 dias. Temendo represálias da PIDE, as editoras de discos fecham-lhe as portas. Todas, menos a Orfeu, no Porto, por muitos considerada promotora do então chamado nacional-cançonetismo (ou música pimba, como hoje se diria), embora tenha editado um disco de Adriano Correia de Oliveira. Arnaldo Trindade, o editor, encarrega o cantor de descobrir novos sons e talentos musicais e de, a troco de 15 contos mensais – um bom ordenado -, gravar, anualmente, um LP. Os 14 anos durante os quais se manteve ligado à Orfeu foram o período mais criativo de Zeca Afonso e, simultaneamente, aquele em que a sua arte se revelou mais interventiva, política e culturalmente.
1968
No Natal, é editado o primeiro LP da etiqueta Orfeu, não por acaso intitulado ‘Cantares do Andarilho’, com Rui Pato na viola.
1969
Participa no 1.° Encontro Chanson Portugauise de Combat, em Paris. Sai, também com a chancela da Orfeu, o álbum ‘Contos Velhos, Rumos Novos’, em 33 rpm, no qual, além da viola e da guitarra, surgem, pela primeira vez, instrumentos como a trompa, as marimbas, o cavaquinho e a harmónica. “Ele costumava dizer”, conta Rui Pato, “que não queria o canto agarrado aos arames da guitarra.” O cantor ganha, então, o prémio da Casa da Imprensa para a melhor música, galardão que volta a conquistar em 1970 e 1971. E, em 1971, 1972 e 1973 aquela instituição atribuir-lhe-ia o prémio para o melhor intérprete. Nas eleições legislativas, vota na CDE. É publicada a 2.ª edição de ‘Cantares’, agora por iniciativa da Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico Aproveitando a abertura política inicial da chamada Primavera marcelista recém inaugurada, a Orfeu lança ‘Menina dos Olhos Tristes’, (Menina dos olhos tristes/O que tanto a faz chorar/O soldadinho não volta/Do outro lado do mar), um single de 45 rpm, com ‘Canta Camarada’ no lado B. Trata-se de uma corajosa denúncia da guerra colonial..
Foi, todavia, durante o consulado de Marcelo Caetano que Zeca Afonso mais sofreu, como se verá.
1970
Grava, nos estúdios da Pye Records, em Londres, o álbum ‘Traz Outro Amigo Também’, o primeiro sem Rui Pato que, por se ter envolvido na crise académica de 1969, em Coimbra, fora impedido pela PIDE de viajar e tivera de ser substituído por Bóris, antigo membro das bandas de rock Álamos e Conjunto Universitário Hi-Fi. Em ‘Cantares de José Afonso’, o cantor refere-se, assim, a este LP: “Qualquer semelhança entre a epígrafe sintetizadora da Amizade e ‘Uma Casa Portuguesa Com Certeza’ é, com certeza, pura coincidência. O autor nunca se colocou, por falta de méritos próprios, no plano polemístico da hospitalidade lusitana, o que não o impede de abrir a porta a quem quer que venha por bem, excluídos, até prova em contrário, os amigos das bibliotecas alheias.”
Nos três anos seguintes, José Afonso grava mais três discos no estrangeiro: ‘Cantigas do Maio’, de que faz parte ‘Grândola Vila Morena’, nos estúdios Strawberry, em Herouville, perto de Paris (1971), e ‘Venham mais Cinco’, no Studio Aquarium (1973), igualmente em Paris, ambos com direcção musical e arranjos de José Mário Branco, então exilado em França; e ‘Eu Vou Ser como a Toupeira’, nos estúdios Cellada, em Madrid (1972)
Sai, no suplemento ‘Cena 7’ do vespertino ‘A Capital’, assinada pelos jornalistas Daniel Ricardo e Cáceres Monteiro, aquela que terá sido uma das primeiras se não a primeira grande entrevista concedida pelo cantor.
1971
É convidado para participar num festival internacional de Música Popular, em Varadero, Cuba. Acometido por um esgotamento nervoso, não canta. No regresso, é detido e passa 24 horas nos calabouços da PIDE. Está presente na 1.ª edição do Festival de Vilar de Mouros.
1972
Por escolha dos leitores do ‘Diário de Lisboa’, representa Portugal no VII Festival Internacional da Canção Popular, no Rio de Janeiro. Canta ‘A Morte Saiu à Rua’, perante a indiferença de um público ao qual nada dizia a mensagem política da letra (homenagem ao pintor Dias Coelho, assassinado pela PIDE, em 1961, na Rua da Creche, em Alcântara). Mas nem tudo correu mal – os contactos com músicos brasileiros como Chico Buarque e Gilberto Gil enriqueceram-no muito, consoante havia de reconhecer. Canta nas Astúrias, Orense, e Santiago de Compustela, na Galiza, com um assinalável sucesso.
1973
Volta à Galiza, actua nas Astúrias mas o concerto em Lugo é proibido pelo Governo espanhol. Em Abril, é preso pela PIDE, até ao fim de Maio, em Caxias, onde escreve ‘Era um Redondo Vocábulo’. José Afonso: “A última vez que fui preso tinha ido esperar o meu pai ao aeroporto. Vim para casa, dormi mal e no dia seguinte bateram à porta. Estávamos em Abril. O meu filho Zé Manel foi abrir. O inspector apresentou-lhe o ‘crachat’ da polícia e ele voltou-se displicentemente para a sala a dizer ‘Oh pai é a prestimosa.’ O tipo entrou, fizeram a vasculhação e levaram-me para Caxias.”
1974
No dia 29 de Março, José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Jorge Letria, Manuel Freire, José Barata Moura, Fernando Tordo, entre outros músicos, dão um concerto no Coliseu de Lisboa que transborda de espectadores. Promovida pela Casa da Imprensa, a sessão, à qual assistiram muitos militares do MFA, termina com a interpretação de Grândola, Vila Morena, que seria a senha do 25 de Abril. Curiosamente, a Censura proibira os temas ‘Venham Mais Cinco’, ‘Menina dos Olhos Tristes’, ‘A Morte Saiu à Rua’ e ‘Gastão Era Perfeito’, mas não aquela canção… Dá mais um concerto na Galiza, em Santiago
1975
Após a queda do regime, José Afonso envolve-se nos movimentos populares mas não se filia em nenhum partido. “Eu sou o meu próprio Comité Central”, disse, um dia. Ainda assim, estabelece uma estreita colaboração com a Liga de Unidade e Acção Revolucionária (LUAR), de Palma Inácio, que lhe edita o single ‘Viva o Poder Popular’. Simultaneamente, sai, em Itália, por iniciativa das organizações de esquerda Lotta Continua, Il Manifesto e Vanguardia Operária, ‘Republica’, gravado em Roma e cujas receitas se destinavam a apoiar a Comissão de Trabalhadores do jornal ‘República’ se este sobrevivesse ao conflito político que então o abalava ou, em caso contrário, o Secretariado Provisório das Cooperativas Agrícolas de Alcoentre. Em11 de Março, canta no Regimento de Artilharia Ligeira RAL 1, futuro RALIS. Intervêm em várias campanhas de dinamização cultural.
1976
Apoia a candidatura de Otelo Saraiva de Carvalho à Presidência da República, atitude que repetiria nas presidenciais de 1980 Recebe, na Alemanha, o prémio Deutscher Phono-Akademie. Sai o álbum ‘Com as Minhas Tamanquinhas’ no qual participa – imagine-se – Quim Barreiros.
1978
Adere à Cooperativa Era Nova e, com outros músicos, percorre o País de lés a lés, a cantar, em acções de dinamização cultural e política – era o canto de intervenção ou canto livre..
1979
Vai viver para Azeitão. Actua, de novo, na Galiza.
1980
A Ulmeiro edita o livro ‘Quadras Populares’
1981
Com o LP ‘Fados de Coimbra e Outras Canções’, dedicado ao pai, falecido em 1974, e a Edmundo Bettencourt, volta à canção coimbrã e à guitarra, depois de uma fase por alguns classificada de panfletária. É o último álbum com a chancela da Orfeu.
1982
José Afonso sente os primeiros sintomas da doença que haveria de lhe causar a morte, em 1987: esclerose lateral amiotrófica, caracterizada por uma progressiva atrofia muscular. Mesmo assim, após ter actuado, em Bruxelas, no Contra-Festival Eurovisão da Canção, canta no Theâtre de la Ville, em Paris, e em Bourges, no Festival Printemps. Visita Moçambique, onde é recebido com honras de Estado pelo Presidente Samora Machel
1983
29 de Janeiro: espectáculo no Coliseu de Lisboa, com a sala cheia. Os 4 mil bilhetes emitidos pela Era Nova tinham-se esgotado rapidamente. E o concerto, em que José Afonso é acompanhado por Francisco Fanhais, Fausto, Júlio Pereira, Janita Salomé e outros músicos, torna-se na consagração de um homem que não sabia ler uma pauta musical e se esquecia, frequentemente, das letras que ele próprio escrevera, rejeitava o vedetismo e duvidava da qualidade das suas composições, mas nem por isso deixou de ser reconhecido, um pouco por todo o mundo, como o maior criador e intérprete da Música Popular portuguesa.
Neste ano, aceita a medalha de Ouro da cidade de Coimbra. Recusa-se, porém, a receber a Ordem da Liberdade que o Presidente da República Ramalho Eanes lhe atribui (mais tarde, também o Presidente Mário Soares tentaria condecorá-lo, a título póstumo, mas Zélia não o permitiu, por fidelidade à anterior atitude do marido). É, entretanto (tardiamente, diga-se…), reintegrado no ensino e passa a dar aulas de História e Português na Escola Preparatória de Azeitão.
A Assírio & Alvim lança o livro ‘Textos e Canções’.
1985
É editado o último álbum do cantor, ‘Galinhas do Mato’. Devido ao seu estado de saúde, José Afonso só canta alguns temas – os outros são interpretados por Luís Represas, Helena Vieira, Janita Salomé, José Mário Branco, Né Ladeiras e Catarina Marta Salomé. É homenageado, no Parque dos Castreles, em Vigo. A iniciativa intitula-se ‘Galiza a José Afonso’. “Galiza é para mim também, uma espécie de pátria espiritual”, escreveria o cantor.
1986
Apoia a candidatura de Maria de Lourdes Pintasilgo à Presidência da República.
1987
José Afonso morre, no dia 23 de Fevereiro, às 3 da madrugada, no Hospital de Setúbal. No dia seguinte, mais de 30 mil pessoas acompanharam o funeral até ao cemitério da Senhora da Piedade, para se despedirem do poeta-cantor que, tempos antes, tinha afirmado: “Não me arrependo de nada do que fiz. Mais: eu sou aquilo que fiz. Embora com reservas, acreditava o suficiente no que estava a fazer, e isso é o que fica. Quando as pessoas param há como que um pacto implícito com o inimigo, tanto no campo político como no campo estético e cultural. E, por vezes, o inimigo somos nós próprios, a nossa própria consciência e os álibis de que nos servimos para justificar a modorra e o abandono dos campos de luta.”
Fontes: Associação José Afonso (www.aja.pt), nomeadamente a discografia, da autoria de Viriato Telles, e as biografias escritas por Benedito Garcia Villar e Daniel Lacerda; Biografia, de Álvaro Jorge Ferreira (At-Tambour.com, Música do Mundo); ‘Os Lugares de Zeca Afonso’, de Ana Margarida Carvalho (VISÃO de 22 de Fevereiro de 2007); entrevista dada a José Carlos de Vasconcelos (Se7e, de 22 de Abril de 1980) ‘José Afonso’, de Viale Moutinho (Livraria Paisagem, Porto, 1972), ‘José Afonso, as Voltas de um Andarilho’, de Viriato Telles (Relógio d’Água, Lisboa, 1983), ‘Livra-te do Medo – Histórias e Andanças de José Afonso’, de José A. Salvador (A Regra do Jogo, Lisboa 1984)