Fora um dia vulgar. O tempo estava nublado, o mar encrespado e o vento corria fraco por causa da ação temperadora do anticiclone dos Açores. «Pardal» partiu da vivenda geminada de dois andares, numa rua sem saída de um bairro de moradias com jardim, em Algueirão-Mem Martins, às 23 horas de 24 de abril de 1974. «Deixei um conto de réis à Helena», conta o então major do Exército. A mulher estava grávida, ficou deitada. «Fui de comboio para Benfica, para um encontro com um capitão», adianta Carlos José de Campos Andrada, 77 anos, atualmente coronel aposentado da arma de Cavalaria.
Nessa mesma noite, Luís Costa Correia ouvia uma interpretação das obras de Beethoven por uma orquestra sinfónica, no Coliseu. Dormiu como um justo e às 8 da manhã de 25 de abril de 1974 deixou o apartamento onde vivia, em Benfica, com destino à sua unidade militar, a base naval do Alfeite. Era capitão-tenente, estava colocado na Direção de Armas Navais e ingressara na Marinha 16 anos antes, em 1957. «Quando lá cheguei estava tudo em alvoroço», nota hoje, aos 74 anos, na sala do seu apartamento em Algés, um 16.° andar de onde se contempla a barra do Tejo.