À saída do metro do Marquês de Pombal, viram-se cravos em toda a parte e pessoas que, pela falta de uma flor para segurar na mão, se vestiram em tons de vermelho como alusão ao dia da liberdade. A partir das 14 horas, as ruas de Lisboa começaram a encher, apesar de o desfile só ter início uma hora depois. 50 anos após o fim da ditadura, os portugueses, dos mais velhos aos mais novos, sairam à rua para celebrar, mas também para demonstrar o seu desagrado com a situação atual do País.
Junto à Praça do Marquês, está o Sindicato dos Professores da Grande Lisboa. Carlos Barros, um dos representantes, diz que este é o “dia de reinvidicar direitos, horários de trabalhos, melhores salários, uma vida melhor e de lutar contra o fascismo, contra a extrema direita”. Acrescenta que “os professores têm um papel muito importante nesta luta e nesta vontade de progressão”. A comunidade cigana vem de Loures para marcar presença na Avenida da Liberdade. Os membros da Associação Techari, que “significa liberdade”, lutam contra o preconceito e afirmam querer ser “parte da solução e não do problema”.
O relógio marca as 15 horas. Os membros da Academia do Bombo (Mafra) dão início à marcha com a sua performance. Entre o vermelho que pinta a rua, a maioria dos adereços que as pessoas carregam são alusivos ao 25 de Abril – cravos feitos de materiais reclicáveis ou de tricô, desenhos de Salgueiro Maia e de outras figuras importantes da Revolução. Contudo, observa-se uma grande diversidade de temas nos cartazes: a defesa movimento LGBTQI+, apelos à libertação da Palestina, pedidos de melhores condições de habitação e do fim das propinas no Ensino Superior.
As bandeiras do Partido Socialista, do Bloco de Esquerda, do Livre, da Juventude do Partido Comunista Português e do Partido Rir Incluir Reciclar abanam com o vento à medida que as pessoas caminham em direção ao Rossio.
Entre fotos e abraços, Pedro Nuno Santos deixa clara a importância que confere a este dia. “O povo junta-se na Avenida da Liberdade para celebrar abril e aquilo que significa abril: a liberdade, a democracia, a possibilidade não só de votarmos, mas de termos uma vida coletiva e resolvermos em conjunto os nossos problemas”, defende o secretário-geral do Partido Socialista.
O Partido social-democrata, nomeadamente o Presidente da Câmara de Lisboa Carlos Moedas, e a Iniciativa Liberal também compareceram às celebrações, com a presença de membros de ambas as juventudes.
Enquanto agarrava na faixa junto dos militantes do seu partido, Rui Rocha conta que “para a IL não há donos da liberdade”. O líder do partido acrescenta que “o 25 de abril é uma data fundamental da nossa democracia. Nós fazemos questão de estar sempre presentes, mesmo quando tentaram impedir-nos.” Os cânticos dos partidos de direita e de esquerda geram pequenos confrontos entre os seus apoiantes que não abdicam de expressar as diferentes ideologias no dia em que se festeja a liberdade.
A rua Alexandre Herculano, paralela à grande Avenida, enche-se de gente que vem para participar no desfile. Os gritos confundem-se, mas as frases que mais se ouvem são “O povo unido jamais será vencido” e “Somos muitos, muitos mil para continuar abril”. Mais a baixo o som de pandeiretas, concertinas e tambores intercala-se com os gritos de reivindicação. O Chamite da Associação do 25 de abril guia o percurso e nas colunas toca “Grandola Vila Morena”, de Zeca Afonso.
Quem viveu no tempo de Salazar sabe de cor as várias músicas que remontam a abril de 1974. João Araújo, de 78 anos, partilha um pouco da sua experiência: “Eu vivi intensamente o 25 de abril, e por isso não posso deixar de estar quando há desfiles e manifestações. Pela primeira vez pude conversar com os meus amigos, antes disso não podíamos trocar ideias nem opiniões. Ainda vivi 28 anos num ambiente familiar e social com valores pobres que nada tinham a ver com a alegria da vida.”
O aniversário dos 50 anos da Liberdade é marcado por uma forte presença de pessoas das mais diversas idades. As crianças põem-se às cavalitas dos adultos para espreitar melhor a marcha, enquanto os jovens levantam os cravos no ar e não deixam que se faça silêncio durante o desfile. Duarte, de 24 anos, diz que veio à Avenida da Liberdade, como costuma fazer todos os anos, “para fazer cumprir abril”. “Estou cá por mim, pelos meus avós que também cá estiveram neste dia, e pelo futuro de todas as próximas gerações”. “Nunca vi tanta gente. Foi o desfile com mais pessoas, desde que tenho memória”, recorda o jovem.
Na varanda do Cinema de São Jorge as pessoas assistem ao desfile. A tarde avança, mas as celebrações não acabam. Perto das 20 horas, os portugueses ainda caminham pela Avenida da Liberdade à procura de chegar ao Rossio, ainda em festa pelos 50 anos da Democracia.