Bom dia, caro leitor, desde Paris.
Permita-me que comece com uma confidência: estou há quase uma semana na capital francesa e, sinceramente, não sei quase nada sobre o que vai acontecer esta noite na tão aguardada cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos. Sei, como todos, que será a primeira realizada fora de um estádio. E que vai iniciar-se às 18.30 (hora de Lisboa) e demorar três horas e 45 minutos. A previsão é que cerca de 7 mil atletas vão desfilar, em embarcações, ao longo de um percurso de seis quilómetros no rio Sena, em cujas margens haverá, em dois níveis de bancadas, cerca de 316 mil espectadores – a maior parte deles com entrada gratuita e 104 mil outros com bilhetes pagos (com preços que variam entre os 90 e os 2 700 euros). Todo o cortejo será acompanhado de vários momentos de espetáculo, com a participação de 3 mil bailarinos e atores, com tudo a culminar na praça do Trocadero, em frente à Torre Eiffel, onde estarão algumas dezenas de milhares de pessoas, mas também mais de uma centena de chefes de Estado e de Governo, e outros altos dignatários das 206 nações que competem no maior evento multidesportivo global, que se realiza de quatro em quatro anos.
Não saber quase nada sobre o que vai acontecer na cerimónia de abertura de uns Jogos Olímpicos é, na verdade, o normal nestas ocasiões – e quem souber alguma coisa deve respeitar o dever de ficar calado. Já assisti, no estádio, a seis cerimónias de abertura dos Jogos Olímpicos e aprendi, desde 1996, que este é um dos segredos mais bem guardados que existem no mundo. Mesmo nos casos em que se fizeram ensaios gerais, com milhares de figurantes, nunca se ficou a saber, por antecipação, aquilo que vai ocorrer. E, muito menos, se desfez o suspense mais importante neste tipo de espetáculos: quem são os artistas que vão atuar e, acima de tudo, quem é que vai ser o último portador da chama olímpica para atear a pira que, durante os 17 dias seguintes, ficará a arder, como símbolo da unidade mundial.
Mas em Paris há uma grande diferença em relação a todos os outros que o precederam. Desta vez, devido à situação mundial, as dúvidas não são sobre o alinhamento do show ou sobre qualquer surpresa cénica. A dúvida não é a de saber se o espetáculo vai corresponder às expetativas ou ser melhor que os anteriores. A dúvida principal, e que atormenta tantos espíritos, é se a cerimónia vai correr bem, sem incidentes e, acima de tudo, sem atentados ou qualquer tipo de violência.
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