O presidente do governo regional dos Madeira, Miguel Albuquerque, é suspeito de ter movido influência para que um jornalista do Jornal da Madeira fosse “afastado”, segundo refere o Ministério Público. Tudo porque o líder madeirense não terá gostado de uma notícia do jornal, a 2 de julho de 2023 : “Droga assusta turistas e inquieta comerciantes”, cujo conteúdo integral não se encontra disponível. Tal atuação resultou na suspeita do crime de Atentado Contra o Estado de Direito
“Diligências efetuadas nos autos permitem afirmar que, descontente com o teor daquela publicação, Miguel Albuquerque manteve interação com Pedro Calado, a quem apelou que falasse com Avelino Farinha”, dono do grupo AFA, que detém o Jornal da Madeira, e um dois detidos na operação da Polícia Judiciária, “para que o jornalista responsável pela notícia fosse afastado daquele órgão de comunicação social”, escreveu a procuradora Rita Madeira, acrescentando que Pedro Calado “terá aborado Avelino Farinha, logrando conseguir que o mesmo atuasse sobre o jornalista em questão”
A VISÃO contactou, esta tarde, a redação do Jornal da Madeira, pedindo um esclarecimento ao seu diretor. Miguel Silva garantiu, entretanto, à VISÃO que a autora do trabalho, a jornalista Edna Batista, se mantém a trabalhar no jornal e tem feito outros trabalhos sobre o mesmo tema, que “é uma área à qual damos muita atenção”, disse.
Segundo a investigação, Pedro Calado, presidente da Câmara do Funchal, também detido pela PJ, terá abordado o empresário, “logrando conseguir que o mesmo atuasse sobre o jornalista em questão”. Para a procuradora do Ministério Público, existem indícios de que Miguel Albuquerque e Pedro Calado atuaram junto do dono do Grupo AFA “tendo em vista o condicionamento de jornalistas” ao serviço de órgãos de comunicação social.
Luís Miguel Silva, adjunto de Miguel Albuquerque, Susana Prada, ex-secretária regional do Ambiente, e o seu marido, António Prada, administrador do Grupo Pestana, estão, segundo um despacho judicial, entre os suspeitos da operação da Polícia Judiciária que levou à detenão do presidente da Câmara Funchal, Pedro Calado e os empresários Avelino Farinha e Custódio Correia. Nesta investigação, Miguel Albuquerque, foi constituído arguido.
Tal como na Operação Influencer, Nuno Dias Costa é o juiz de instrução deste processo. No despacho que autorizou as buscas, o magistrado judicial incluiu também como “suspeitos”, os gestores Bruno de Freitas, ligado ao Hotel Savoy, e José Tavares da Silva, relacionado com o grupo liderado por Avelino Farinha.
No que diz respeito a Pedro Calado e a Miguel Albuquerque, a procuradora do Ministério Público Rita Madeira referiu que os “sustentam os indícios apurados” que o presidente do governo regional da Madeira e o presidente da câmara do Funchal “se articulam entre si e exercem influência um sobre o outro”. Por outro lado, continuou a procuradora, os dois titulares de cargos políticos e o empresário Avelino Farinha, dono do Grupo AFA, criaram uma “relação de particular proximidade e confiança”, na qual Pedro Calado “atuou, e atua ainda, como denominador comum aos outros suspeitos(…), de modo a acautelar os interesses do Grupo AFA junto do Governo Regional”.
Segundo uma nota da PJ, no âmbito de três inquéritos dirigidos pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal, foram executadas 130 buscas domiciliárias e não domiciliárias na Madeira (Funchal, Câmara de Lobos, Machico e Ribeira Brava), na Grande Lisboa (Oeiras, Linda-a-Velha, Porto Salvo, Bucelas e Lisboa), em Braga, Porto, Paredes, Aguiar da Beira e Ponta Delgada (Açores).
As detenções do presidente da Câmara do Funchal, Pedro Calado (PSD) e de dois gestores do grupo AFA ocorreram às 14:15, acrescenta a Polícia Judiciária.
Na operação policial participaram dois juízes de Instrução Criminal, seis magistrados do Ministério Público e seis elementos do Núcleo de Assessoria Técnica da Procuradoria-Geral da República, bem como 270 investigadores criminais e peritos da PJ.