Batem as doze badaladas, entramos no novo ano, brindamos e comemos 12 passas, uma de cada vez, enquanto pedimos 12 desejos. Esta é uma tradição já bem implementada na nossa cultura, mas cujas origens não são nacionais.
Dizem os historiadores que tudo teve início em finais do século XVIII e inícios do século XIX na alta sociedade parisiense. A aristocracia francesa celebrava o réveillon a comer uvas frescas e a beber champagne. Tal como muitos costumes franceses, também este ultrapassou fronteiras e foi “imitado” por outros países e classes sociais. Na segunda metade do século XIX, a sociedade madrilena copiava esta tradição de passagem de ano.
Contudo, este costume ganhou novas proporções em 1880, quando a Câmara Municipal de Madrid decidiu cobrar uma taxa a todos os que celebrassem o Dia de Reis, a 6 de janeiro, nas ruas da cidade. Afinal esta é uma data de grande relevância em Espanha, sendo nesta altura que a população se reúne em família e faz a tradicional troca de presentes.
Esta medida gerou revolta entre os madrilenos, especialmente num grupo de classe média-baixa que decidiu reunir-se na noite de réveillon na Puerta del Sol, a praça mais conhecida da capital espanhola. Antes que a proibição entrasse em vigor, este grupo saiu à rua em protesto. Entre as muitas formas de contestação contra a proibição imposta pela Câmara, os revoltados procuraram ridicularizar a alta sociedade madrilena, que naquela data imitava a aristocracia parisiense. Dessa forma, a multidão consumiu uvas demasiado maduras, num gesto que pretendia ser jocoso, mas que acabou por ganhar novos adeptos.
A tradição ganhou maiores proporções em 1909, quando houve uma grande produção de uvas entre os meses de outubro e novembro em Alicante. Os produtores juntaram-se e, de forma a conseguirem vender as uvas que tinham em demasia, decidiram fazer uma campanha na qual vendiam pacotes de 12 uvas que eram anunciados como “uvas da sorte”. A ideia foi bem recebida e chegou mesmo a Portugal. Contudo, devido ao tempo que se passa entre a colheita e final de dezembro, estas uvas estariam demasiado maduras. O processo de conservação que a transforma em passas permitia, então, que elas chegassem mais facilmente à noite de passagem de ano. Atualmente, a venda de passas sobe perto do fim de ano, com muitos portugueses a não prescindirem desta tradição e de pedir os seus desejos para o ciclo de mais 12 meses que está prestes a iniciar-se.