Esta sexta-feira de manhã, quando Luís Dias estava prestes a completar um mês de greve de fome, junto ao palacete de São Bento, residência oficial do primeiro-ministro, o secretário de Estado Adjunto de António Costa, Miguel Alves, convenceu-o a suspender o protesto com a garantia de que o seu caso irá ser alvo de análise. O governante comprometeu-se com uma reunião no início da próxima semana, de modo a que o caso do agricultor possa ser discutido.
Esta foi a terceira greve de fome de Luís Dias, que assim se tem manifestado devido a um diferendo com os organismos do Ministério da Agricultura. Já antes estivera 28 dias junto ao Palácio de Belém, tendo sensibilizado a Presidência da República para a sua causa, e também um dia em São Bento, aquando das eleições legislativas, onde obteve a garantia do chefe do gabinete de Costa que a situação seria averiguada.
A VISÃO assistiu ao fim do encontro entre Miguel Alves e Luís Dias, pouco antes das 10 horas da manhã, quando o agricultor já apresentava grandes dificuldades de locomoção e incapacidade de se manter de pé. Nos últimos dias, tinha sido hospitalizado duas vezes, na sequência de problemas de saúde causados pelo protesto.
“O secretário de Estado comprometeu-se a dialogar. É uma porta que se abre a uma mediação, como queríamos. Na segunda-feira, espero estar melhor [para conseguir expor o caso]”, assegurou Luís Dias, muito debilitado, ao lado de Maria José Santos, com quem partilha o projeto agrícola “Quinta das Amoras”, em Idanha-a-Nova, que foi destruída por uma intempérie em 2017 e que aguarda fundos do Estado para a sua recuperação.
Segundo Maria José Santos, “Miguel Alves assegurou que tinha tido autorização do primeiro-ministro para se inteirar do assunto e propor uma reunião”. “Esta greve de fome do Luís nunca foi pelo dinheiro que permita recuperar a quinta e podermos ter as nossas vidas de volta. Não! O que sempre pedimos foi que houvesse uma mediação; e ela foi-nos garantida em janeiro, pelo gabinete do primeiro-ministro, não se tendo concretizado”, disse, lamentando as palavras de António Costa, há uma semana, no Parlamento, quando foi confrontado pelo deputado único do Livre, Rui Tavares, com este caso.
“O senhor não tem razão, não há nada a fazer. É muito simples”, apontou o primeiro-ministro, admitindo, ainda assim, haver contacto entre o seu gabinete e Luís Dias. Este caso desencadeou uma petição, para que o agricultor fosse ouvido quanto às suas pretensões, sendo uma das muitas assinaturas a da ex-eurodeputada Ana Gomes.
A VISÃO questionou o Ministério da Agricultura sobre este caso, requerendo o relatório da auditoria que a Secretaria de Estado da Agricultura pediu à Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (IGAMAOT) há um ano, quanto às queixas de Luís Dias e Maria José Santos. Mas não houve qualquer resposta até agora da Tutela.