Rui Rangel está neste momento a ser ouvido no Supremo Tribunal de Justiça, naquele que é o último interrogatório a que será sujeito antes da acusação do processo Lex. Os procuradores Maria José Morgado e Vítor Pinto estão a confrontar o antigo juiz do Tribunal da Relação de Lisboa com os últimos indícios recolhidos pela investigação: emails, movimentos bancários, mensagens de telemóvel e depoimentos de testemunhas do processo.
O juiz desembargador recentemente expulso da magistratura – por uma decisão do órgão disciplinar, entretanto confirmada pelo Supremo Tribunal de Justiça – já tinha estado na passada sexta-feira nas instalações daquele tribunal, como a VISÃO avançou. Pediu no entanto um prazo para ler as centenas de páginas de imputações do Ministério Público e para se preparar para as perguntas do interrogatório. Na qualidade de arguido, Rui Rangel pode agora escolher responder ou, pelo contrário, manter-se em silêncio, como fez no primeiro interrogatório a que foi sujeito, em fevereiro de 2018, depois da megaoperação de buscas da Operação Lex.
Os dois procuradores do Supremo Tribunal de Justiça e duas procuradoras do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) estão a trabalhar em contrarelógio para lançarem a acusação até ao início das férias judiciais, a 15 de julho. O processo tem 18 arguidos, entre eles o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, Fernando Tavares, vice-presidente do Benfica para as modalidades, a mulher de Rangel e também juíza, Fátima Galante, e também Vaz das Neves, ex-presidente do Tribunal da Relação de Lisboa.
Este novo interrogatório de Rui Rangel é uma formalidade que o Ministério Público tem de cumprir antes de lançar uma acusação, sempre que sejam encontrados factos novos, além daqueles com que o arguido já foi confrontado. O Ministério Público diz ter indícios para acusar Rui Rangel de recebimento indevido de vantagem, tráfico de influência, falsificação de documento, fraude fiscal e branqueamento de capitais. O ex-desembargador é suspeito de ter montado uma série de atividades lucrativas paralelas à carreira da magistratura (algo proibido por lei) e de ter recebido dinheiro em troca da promessa de decisões judiciais favoráveis a esses clientes. Um deles terá sido José Veiga, empresário e ex-agente de futebolistas, que lhe terá dado cerca de 300 mil euros, como a VISÃO tem vindo a revelar desde 2016).