No princípio, todos os casos tinham de ser reportados ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) para que deles se tratasse. O crescente número de infeções por Covid-19 fez o discurso mudar e, desde terça feira, 17, os hospitais privados do País foram chamados a ajudar. E todos responderam prontamente, dispostos a entrar em ação. Agora, quem tiver sintomas que sejam identificados com esta infeção pode dirigir-se a qualquer unidade de saúde, pública ou privada, e será tratado de igual forma. O reporte de casos à Direção Geral da Saúde mantém-se, claro.
Num comunicado interno da CUF, a que a VISÃO teve acesso, o grupo pôs-se, de imediato, ao dispor, garantindo resposta às necessidades da população, segmentando a sua rede em níveis diferentes de resposta. Por um lado, dois dos seus hospitais – o do Porto e Infante Santo – irão assumir o diagnóstico e tratamento de doentes com infeção, mantendo-se a capacidade de diagnosticar as restantes situações de doença. As outras unidades da rede CUF vão dedicar-se apenas aos cuidados gerais.
“Importa realçar que o Hospital CUF Descobertas se constituirá como hospital sem tratamento de doentes Covid-19, mantendo a resposta a todas as outras necessidades, em particular ginecologia-obstetrícia, pediatria, oncologia e demais cuidados urgentes. Também o Hospital Cuf Porto manterá toda a sua capacidade de resposta a outras especialidades médicas”, lê-se no comunicado.
As restantes unidades que têm atendimento permanente de adultos e crianças em funcionamento continuarão a fazer a triagem de casos suspeitos, podendo encaminhá-los para os hospitais da rede CUF que prestarão cuidados de saúde a doentes com Covid-19 ou para os hospitais de referência do SNS.
No caso do grupo Lusíadas, garante-se que serão assegurados meios humanos e físicos para diagnosticar e tratar doentes infetados com Covid-19. Além disso, e até sábado, 21, está a preparar-se para, no total, disponibilizar 231 camas de internamento, 54 ventiladores e as respetivas equipas de saúde necessárias no Lusíadas Albufeira, na Clínica de Santo António e um edifício no Hospital do Porto.
Como se aconselhou a desmarcação de consultas e cirurgias não urgentes, o grupo entendeu que deveria disponibilizar um milhão de euros para remunerar os profissionais de saúde que estejam na linha da frente desta batalha – até porque muitos perderam o rendimento que obtinham nas consultas que davam antes desta crise.
3 perguntas a Oscar Gaspar, presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada
Os hospitais privados cancelaram consultas de rotina e cirurgias não urgentes para libertar recursos. Para onde foram desviados esses médicos e enfermeiros?
A atividade dos hospitais privados teve uma quebra muito significativa nas duas últimas semanas, em muitos casos porque foram adiadas consultas planeadas e cirurgias não urgentes. Esta reorganização da atividade teve em vista criar as condições para que os recursos possam ser melhor utilizados no combate à Covid-19, nomeadamente com reforço da complementaridade com o SNS. Este é o momento em que o sistema de saúde deve atuar como tal e de forma articulada. Relativamente a médicos e enfermeiros também há a registar que um número elevado de profissionais foi chamado para maior carga horária no SNS.
Reuniram com a DGS na 3ª feira. O que ficou decidido nessa reunião, em termos de colaboração privado-público?
Portugal entrou numa nova fase de combate à Covid-19. Segundo as indicações da DGS, os hospitais privados são chamados a tratar os seus doentes com Covid-19, deixando de haver o conceito de hospital de referência que existiu até ao momento e que nos levava a transferir os doentes segundo a orientação das autoridades de saúde. Mantém-se a disponibilidade dos hospitais privados reforçarem a colaboração nesta fase. Assim, referenciámos a possibilidade do setor privado receber utentes internados nos hospitais SNS, com alta clínica, mas sem alta social, bem como outros utentes que careçam de cuidados de saúde, cuja resposta, no atual momento que vivemos, não possa ser dada pelo SNS, nomeadamente meios complementares de diagnóstico, cirurgias e outros. Estamos disponíveis para receber, cuidar e internar utentes que libertem os hospitais do SNS para o tratamento das pessoas infetadas com Covid-19, quer no que respeita a espaço (camas), quer no que respeita a meios humanos e técnicos.
Quais as principais contribuições dos grupos privados ao SNS?
Além do contributo geral para a organização do sistema, nas últimas semanas tem havido um número significativo de situações de apoio a hospitais do SNS que solicitam recursos humanos ou técnicos, nomeadamente ventiladores, como já aconteceu com o hospital de Santa Maria e com o de São João, por exemplo. Por outro lado, é sabido que também já houve a aquisição de ventiladores para disponibilizar ao SNS. Registamos igualmente casos em que doentes foram transferidos de hospitais do SNS para hospitais privados, nomeadamente no norte do País e outros em que se conseguiu que doentes hemodialisados fossem tratados nos hospitais privados.