“Um dia esta mão vai deixar de escrever”, afirmava aos que o ouviam durante as sessões de formação da AP, Associação Portuguesa de Psicanálise e Psicoterapia Psicanalítica, que fundou com António Coimbra de Matos. Ainda não tinha sofrido o AVC. Gostava de viver, de investigar, de fumar. De ser desafiado e falar sem tabus. E de fazer pontes entre o pensamento de colossos como Sigmund Freud e Wilfred Bion. O seu, podemos encontrá-lo nos que escreveu, entre os quais se destacam “O Inferno Somos Nós” (2002) e “O Obscuro Fio do Desejo” (2015).
Psiquiatra e psicanalista, doutorou-se na área da toxicodependência, uma das suas áreas de interesse, a par das psicoses e das perturbações familiares. Ex diretor do Instituto Superior Miguel Torga, foi professor catedrático e ganhou mais visibilidade na sociedade civil nos anos 1990, a comentar temas da atualidade na TSF, com Fernando Alves e, ainda, nos estúdios de televisão, “embora menos”, brincava, do que a sua filha Joana [Amaral Dias].
Quem conviveu de perto com ele apreciava a “voz esclarecida e discordante”. Cristina Nunes, presidente da AP e ex colega de Amaral Dias, recorda-o como “uma mente brilhante, com uma capacidade imensa de colocar-se no lugar dos pacientes, como se fosse para dentro deles e voltasse”.
Continuava a escrever com a ajuda de colegas e amigos, e mantinha a atividade clínica e de supervisão. Na entrevista realizada em Lisboa, pouco depois do AVC, em 2012, deixou uma mensagem sobre o que deixava aos filhos e, porque não, a todos nós: “Amem o desconhecido (…) o lado tendencialmente provocador da vida.”
Leia aqui uma entrevista que o psicanalista deu à VISÃO, em que falava do AVC.