Costumo dizer que quem veio para o jornalismo para fazer amigos está na profissão errada. Por definição, o jornalista não pode ter “amigos”, no sentido de “pessoas que protege”. É que tem de estar sempre na disposição de escrever coisas que desagradam a toda a gente: políticos de todas as fações, empresários, famosos. Eis algo que os jornalistas têm em comum com os humoristas. A qualidade número um de quem faz humor inteligente sobre a atualidade é a inconveniência, a capacidade de ser impróprio, desadequado, indelicado… e de fazer os outros rir com isso.
Se tivesse de atribuir a Joana Marques um título, seria o de “Rainha da Inconveniência”. Com aquele ar de quem não parte um prato, ela é, como todos sabem, extremamente desagradável. Deliciosamente inadequada, dispara em todas as direções: influencers, artistas, intelectuais, desportistas, líderes, todo o tipo de famosos e também ilustres desconhecidos. Aponta a sua mira certeira e não deixa escapar nada: uma ridicularia ou patetice, uma frase fora do sítio, uma contradição.
Claro que quem faz vida de descobrir nos outros coisas risíveis ou criticáveis tende também a estar sempre em permanente autoanálise. Se aplica a si a mesma bitola com que avalia os outros, é natural que vá descobrindo ao espelho também coisas igualmente caricatas e um bocadinho inquietantes. Talvez esse seja o segredo. Aceitar, sem rodeios, que somos todos bastante risíveis. Não nos levarmos a sério mesmo quando somos sérios. E acolhermos, sem levarmos a mal, quem faz da inconveniência máxima.