Por: Marta Assis
As modas são cíclicas, mas provavelmente ninguém esperava que as Crocs se tornassem uma das tendências de street style nos últimos dois anos. Num período marcado pela pandemia, e ainda que tivéssemos saído pouco de casa, a marca de calçado cresceu. A empresa norte-americana terminou o ano de 2020 com uma receita total de 1.2 mil milhões de euros, o que representa um aumento de 12.6% em relação ao ano anterior.
No entanto, o fenómeno não se deve apenas à pandemia. Para entender melhor o sucesso atual da marca é preciso recuar ao ano de 2014, quando a empresa de investimento privado Blackstone entrou no capital da Crocs, com o objetivo de reformular a marca de calçado. Para tal, apostou numa forte estratégia de marketing — especialmente com realização de colaborações —, e desde então a empresa não tem parado de crescer.
Em outubro deste ano, por exemplo, foram lançadas em parceria com a Balenciaga duas versões, umas com salto alto e outras galochas, que custam 495€ e 550€, respetivamente. Os laços entre as duas marcas foram renovados para o próximo ano, com a apresentação de umas Crocs com plataforma que vão fazer parte da coleção de verão de 2022 da marca espanhola – o ator Elliot Page já estreou o modelo anunciado na passadeira vermelha da Paris Fashion Week.
Mas as colaborações não se ficam por aqui. Até agora a marca já fez parcerias com celebridades como Justin Bieber, Post Malone, Diplo, ou ainda Bad Bunny. Todos os itens que resultaram destas parcerias esgotaram poucos minutos após terem sido lançados, apesar de ser possível encontrar alguns destes modelos à venda a preços bastante mais elevados em sites de revenda.
Deste modo, atualmente já é redutor associar Crocs ao calçado usado por enfermeiros, chefes de cozinha e avós. Se a estética dos sapatos ainda é discutível – mesmo a diretora de Marketing da marca, Heidi Cooley, afirmou à revista Fast Company: “Sim, somos feios; sim, estamos a polarizar [as opiniões]” –, uma coisa não podemos negar: as Crocs são confortáveis. E hoje em dia, além de confortáveis, são sinónimo de cool.
Tal como qualquer marca que pretenda atrair a atenção do público, em especial do mais jovem, é necessário um maior investimento em redes sociais, e foi isso que a Crocs fez: tem 1.2 milhões de seguidores no Instagram, faz parcerias remuneradas com influencers e tem uma forte presença no TikTok. Duas redes sociais prediletas da geração Z.
Outra razão que pode justificar o ressurgimento das Crocs é a obsessão da geração Z pelas tendências do início dos anos 2000. As calças de cintura descida, os bucket hats ou os fatos de treino de veludo voltaram a estar na moda. A inspiração nostálgica, que traz de volta a estética Y2K — termo que significa ‘year 2000’ e que foi inicialmente usado no contexto do bug do milénio —, usa muitas vezes como referência a estética dos filmes e séries da altura (Gossip Girl, Twillight ou Mean Girls), e também outfits utilizados por celebridades como Britney Spears ou Paris Hilton. A importância dada à sustentabilidade e o fascínio pelo vintage que marcam a geração Z conduz a uma preferência pela compra de roupa em segunda mão, um mercado que também tem crescido nos últimos anos.
A Crocs mostrou também ter preocupações ambientais, ao comprometer-se a usar um material com menos impacto no planeta, e assim reduzir até 50% a pegada carbónica de cada par de sandálias até 2030. Recentemente, fez uma parceria com a theredUP, uma loja online de roupa vintage, com o objetivo de “dar uma segunda vida aos itens anteriormente amados e ajudar a criar um mundo mais confortável”. Qualquer pessoa que envie roupa, calçado e acessórios usados para a theredUP, tem um desconto na loja da Crocs.
A Crocs tornou-se um sucesso de vendas desde 2020, mas o CEO da marca de calçado, Andrew Rees, acredita que vá crescer ainda mais: “Olhando para o futuro, esperamos que a marca Crocs cresça acima dos 5 biliões de dólares [4.3 mil milhões de euros] em vendas até 2026”.