Em teoria, um carro que faça um consumo média de 15 a 20 kWh poderia carregar num dos novos postos da Ionity a uma velocidade de pico próxima dos 2000 km/h, ou cerca de 150 km em cinco minutos. Em teoria porque, atualmente, ainda não existem veículos elétricos no mercado capazes de suportar 350 kW de potência de carregamento. Os que mais se aproximam deste valor são o Porsche Taycan, Audi e-Tron GTS e diferentes modelos da Tesla, todos abaixo dos 300 kW de potência de carregamento de pico. A IONITY justifica esta potência com a preparação para os veículos do futuro.
Mas já há vários carros elétricos capazes de suportar potências de carregamento acima dos 100 kW, o que significa que poderão tirar bom partido dos novos postos. Por exemplo, o Mercedes EQA que carregámos em Almodôvar foi capaz de ir dos 15% aos 81% em menos de meia hora, o que representou uma recuperação de bateria de cerca de 250 km. De um outro modo, uma paragem de 15 minutos para, por exemplo, beber um café e usar a casa de banho da estação de serviço pode ser suficiente para ganhar mais 150 km de autonomia.
Diferente do resto da Europa
Cada uma das duas estações hoje inauguradas têm dois postos com, exclusivamente, tomada CCS, o standard de carregamento europeu. Mas o espaço está preparado para crescer com pré-instalação para mais quatro postos em cada uma das estações. Estes primeiros postos da IONITY resultaram da colaboração desta rede de carregamento, criada por várias marcas automóveis, com a Brisa, concessionária da A2, e com a Cepsa que explora as estações de serviço. Colaboração que vai ser expandida para as 12 estações de carregamento IONITY planeadas para ficarem operacionais em Portugal até ao final deste ano: nas áreas de serviço de Barcelos, na A3, de Estremoz, na A6, ambos em maio, e em Leiria, na A1, em julho
Ao contrário do que acontece em outros países da Europa, os carregadores da IONITY em Portugal não operam através desta rede, mas sim através da rede Mobi.E. Uma exigência legal, como nos explicou Manuel Melo Ramos, country manager para Portugal e Espanha da IONITY, que exige a ligação de postos de carregamento de acesso público à Mobi.e. O que significa que qualquer utilizador da rede Mobi.E pode carregar nos novos postos IONITY. Funcionam exatamente como os restantes postos da rede Mobi.E: basta ter um cartão fornecido por um CEME (Comercializador de Energia para a Mobilidade Elétrica). Ou, em alternativa, uma app. A IONITY também considerou a possibilidade de carregamentos ‘ad hoc’, ou seja, carregamentos ocasionais de utilizadores sem qualquer contrato com um CEME. Para o efeito existe um código QR nos postos funciona como link web para uma página onde o utilizador será reencaminhado para um CEME que ofereça este serviço. Por enquanto, esta opção ainda não está a funcionar, mas a Exame Informática sabe que a Miio, que anunciou hoje que vai permitir carregamentos ad hoc, deverá ser o primeiro operador disponível para este tipo de carregamento nos postos IONITY.
Carregamentos caros
Esta diferença legal e regulamentar de Portugal relativamente aos restantes países também significa que, pelo menos na fase inicial, não haverá diferenciação positiva para os utilizadores das marcas automóveis associadas à IONITY: grupo BMW, Ford, grupo Hyundai/Kia, Mercedes e grupo Volkswagen (incluindo Audi e Porsche). Em declarações à Exame Informática, Manuel Melo Ramos adiantou que a IONITY tem uma equipa legal a estudar a realidade regulamentar e legislativa de Portugal de modo a verificar se será possível aplicar no nosso país os descontos que os utilizadores das marcas referidas têm em outras países quando carregam em postos IONITY.
Um desconto que seria importante já que a elevada velocidade de carregamento disponível nesta rede tem um custo elevado. Significativamente superior aos valores praticados por outros postos rápidos e ultrarrápidos da rede Mobi.e. Vamos ao nosso exemplo: carregámos 56 kWh na bateria do Mercedes EQA, o que resultou num valor de cerca de 50 euros. Isto porque a grande fatia do custo (mais de 50 cêntimos por kWh) é do operador do posto, ou seja, a IONITY. Recordamos que o custo cobrado pelos carregamentos na rede Mobi.E resulta da soma do custo de operação do posto e do custo da energia. Para ficarem com uma ideia da fatura: €6 para a energia consumida (parcela do CEME), quase €14 de taxas e €29 para o operador do posto (IONITY). Quase 60% do total!
Considerando os consumos medidos em autoestrada para o Mercedes EQA, dá qualquer coisa como cerca de €17/100 km. Um valor até acima do que se pagaria em gasolina ou gasóleo usando um carro com motor a combustão equivalente.
Via verde Electric
A inauguração dos postos IONITY também marca o início da atividade da Via Verde Electric, a nova marca da Brisa dedicada à mobilidade elétrica. Segundo informações da Brisa, “até ao verão de 2021 será possível atravessar Portugal, de norte a sul, sem emissões de carbono com a rede Via Verde Electric, que vai contar com 82 postos de carregamento elétrico em 40 áreas de serviço, com soluções de carga rápida (de 50 kW) e ultrarrápida (de 150 kW a 350 kW)”.
Para António Pires de Lima, CEO da Brisa, “a descarbonização da economia é uma prioridade estratégica das empresas. A criação da rede Via Verde Electric é um contributo significativo da Brisa para a transformação da mobilidade e para um transporte rodoviário sem carbono, que todos desejamos. A parceria com a IONITY, e com a Cepsa, na rede Via Verde Electric, é uma demonstração de como as soluções colaborativas podem acelerar esta mudança”.