Os números que a TomTom divulgou não deixam ninguém indiferente: por ano, em média, 1,3 milhões de pessoas morrem em acidentes rodoviários, a nível global. A isto juntam-se entre 20 e 50 milhões de pessoas feridas com gravidade. E por que é a TomTom – uma empresa que, enquanto consumidor, se deve ter habituado a associar no passado a dispositivos como GPS portáteis (vendeu mais de 100 milhões de equipamentos) e relógios inteligentes (segmento do qual já saiu) – está a partilhar estes dados? Porque está a transformar-se e a focar-se no trabalho com outras fabricantes, fornecendo tecnologia para marcas terceiras (tecnológicas como a Uber e a Microsoft, por exemplo), como sistemas de navegação e de localização.
Basicamente, a TomTom considerou que o software e mapas que desenvolve eram o caminho para o futuro e começou a vender essa tecnologia a terceiros. Como a empresa holandesa entende que ainda há muito para fazer no campo da segurança rodoviária e a tecnologia pode ser fulcral nesta área, começou a focar-se em ADAS (de Advanced Driver Assistance Systems, ou, em tradução livre, sistemas avançados de assistência à condução).
A Exame Informática assistiu ao webinar ‘Location technology: making Advanced Driver Assistance Systems safer and more efficient’, no qual a TomTom pretendeu mostrar como os ADAS ajudam a transferir tarefas do condutor humano para a máquina. Exemplos disso são o controlo de velocidade, a movimentação lateral do veículo ou o recurso a mapas para antecipar as características da estrada que se tem pela frente (graus de curvatura ou inclinação, velocidades máximas permitidas, etc.).
Que benefícios pode, na prática, apresentar esta conjugação de ADAS com mapas? Redução de acidentes e atropelamentos, diminuição de enjoos em estradas com muitas curvas ou vento forte e diminuição do consumo de combustível ou bateria, por exemplo.
Segundo a TomTom, desde 2016, foram vendidos cerca de 40 milhões de carros com ADAS. A pandemia veio atrasar a adoção desta tecnologia (fruto da consequente queda nas vendas de automóveis), mas a marca holandesa está a trabalhar com a Bosch para fazer o mercado crescer até ao final desta década.
É que isto vem também satisfazer uma necessidade regulatória. As Nações Unidas, na Declaração de Estocolmo de 2020, decidiu reduzir em 50% o número de mortes e feridos graves em acidentes rodoviários até 2030. Como curiosidade, refira-se que os números mais baixos se registam na Europa e os mais altos na Ásia.
E como se baixam tanto os números em apenas uma década?
Com uma grande ajuda da tecnologia. Um dos destaques vai para a ISA (de Intelligent Speed Assistance ou assistente inteligente à velocidade), que determina se o condutor está em excesso de velocidade e oferece conselhos ou assume o controlo. Para tal, o veículo precisa de identificar corretamente o limite de velocidade a partir de uma localização GPS fiável, que pode trabalhar em conjunto com as câmaras que marcam presença em muitos automóveis recentes e que são capazes de identificar os semáforos.
O recurso a este sistema híbrido evita a dependência de uma única tecnologia, reduz o impacto de condições atmosféricas adversas e aumenta a capacidade de deteção de mais restrições de velocidade.
Em caso de conflito entre as câmaras e os mapas, é tomada uma decisão baseada no nível de confiança dos dados. Ou seja, é o software que decide qual o limite de velocidade a aplicar, tendo em conta fatores como mau tempo ou a presença de um camião à frente, que podem prejudicar a visibilidade. Willem Strijbosch, responsável pela área de condução autónoma da TomTom, explica que “100% de certezas é impossível, mas um nível de segurança de 90% continua a ser melhor do que o humano é capaz”.
A União Europeia já determinou que todos os novos tipos de carros vendidos a partir de 2022 e todos os novos carros vendidos a partir de 2024 terão de vir equipados com tecnologia ISA, que pode ser baseada em mapas, câmaras ou ambos.