Tesla Model 3. Este é a designação do carro que muitos acreditavam que vai iniciar uma revolução no mercado automóvel. Um modelo que marca um dos pontos mais importantes dos “master plans” de Elon Musk. De uma forma muito resumida, o primeiro “master plan” do CEO da Tesla apontava por desenvolver um carro elétrico a um preço suficientemente baixo para atrair as massas. Processo que, por razões de economia e desenvolvimento tecnológico, devia começar pela produção de carros para segmentos superiores. E foi isso que aconteceu. Depois do Roadster, um desportivo que assentava na transformação de um Lotus, a Tesla lançou o Model S e depois o Model X. Dois carros grandes e caros. Musk queria que o terceiro modelo – o Roadster serviu, essencialmente, para a Tesla desenvolver e testar tecnologia – recebesse a denominação E, para que juntos os três modelos criassem a palavra SEX. Mas um registo comercial da Ford obrigou Musk a transformar o E num 3. Por curiosidade, o já planeado quarto modelo, um SUV mais compacto que o X, deverá ser denominado Y… S3XY.
O «master plan» está a demorar mais tempo a concretizar do que o inicialmente previsto por Musk, mas de acordo com que o este empreendedor tem publicado no Twitter, o processo de desenvolvimento do Model 3 e da respetiva produção está a correr bem. Ou seja, tudo indica que a produção deste carro não sofra dos muitos atrasos e imprevistos que aconteceram com os Model S e X. A Tesla terá aprendido muito nestes anos e corrigido e simplificado processos de produção para garantir que o Model 3 saia a bom ritmo da fábrica. Neste aspeto, o investimento na Gigafactory, que apesar de ainda não estar concluída já está a produzir, terá sido essencial para garantir a quantidade de baterias necessária para produzir um automóvel elétrico em larga escala.
Recordista de encomendas
Isto porque ao contrário dos modelos anteriores, com vendas nas casas das dezenas de milhares, espera-se que o Model 3 venda muito. Ou melhor, muitíssimo.
Com aproximadamente 400 mil reservas, 100 mil das quais feitas ainda antes de se conhecer qualquer imagem do veículo, o novo modelo da Tesla é provavelmente o carro mais antecipado de sempre. É importante relembrar que cada reserva exigiu o depósito de 1000 euros (1000 dólares nos Estados Unidos). O que só por si é relevante para uma marca que lançou o primeiro carro há menos de dez anos e que não usa distribuidores e revendedores, assentando num modelo de negócio de vendas diretas.
Só em reservas, a Tesla já terá recebido qualquer coisa como cerca de 350 milhões de euros. Valor que terá sido uma forte ajuda para iniciar a produção do novo carro para uma empresa que continua a ter resultados financeiros negativos – apesar de alguns resultados operacionais positivos, o forte investimento tem requerido várias injeções de capital ao longo dos últimos anos, incluindo cerca de 1,5 milhões de euros do gigante tecnológico chinês Tencent, que adquiriu 5% das ações da Tesla em março deste ano.
Mas mesmo que a Tesla consiga, como previsto, aumentar a produção de 100 unidades em agosto para 20 mil por mês em dezembro, dificilmente os 400 mil carros encomendados poderão ser entregues nos próximos meses. É, portanto, previsível que os primeiros clientes portuguesas só recebam o carro lá para o final de 2018. Quanto a quem reservou nos últimos meses ou vai reservar após o anúncio de hoje, o mais provável é que só receba o carro lá para 2019 ou mesmo 2020. Claro que tudo vai depender da capacidade de produção real da Tesla e das desistências que poderão acontecer – em caso de desistência, os clientes recebem o valor da reserva. Neste aspeto, a Tesla tem vindo a trabalhar para encaminhar parte dos clientes para os Model S mais acessíveis.
Como será o carro?
Os Model 3 de teste já circulam na Califórnia há alguns meses e os primeiros carros produzidos em série já saíram da fábrica. O que significa que já existem muitas imagens do Model 3, sobretudo do exterior. Tem uma dimensão similar a, por exemplo, um série 3 da BMW, mas o espaço interior deverá ser superior em consequência da arquitetura típica dos carros puramente elétricos – o motor ou motores são muito mais compactos que os motores de combustão interna e há muito menos sistemas mecânicos. Por exemplo, como o motor está junto ao eixo, não há túnel de transmissão o que significa que o fundo do carro é totalmente plano, o que liberta espaço para os passageiros do banco de trás.
Quanto ao interior, ainda restam muitas dúvidas, mas tudo indica que só vai existir um ecrã tátil central e nada de ecrãs ou mostradores em frente ao condutor. As “fotos-espia” que têm surgindo indicam um interior muito minimalista, com alguns conceitos interessantes como um sistema de climatização com saídas de ar ao longo de todo o tablier. Uma pequena alavanca junto ao volante permitirá escolher o sentido da marcha e ativar o Autopilot. Funcionalidade muito relevante para a Tesla e para Elon Musk. À partida, todos os Model 3 deverão vir equipados com a tecnologia (câmaras, sensores e computação) necessária para ativar o Auto Pilot, um sistema que permitirá, no mínimo, condução autónoma de nível 3, ou seja condução autónoma parcial (em determinadas condições). Mas este deverá ser um opcional que o cliente poderá adquirir na compra no carro ou ativar mais tarde através do computador de bordo.
Quanto à autonomia, teremos de esperar pela apresentação, que poderá ser seguida em direto no site da Tesla (um pouco antes das 5 da manhã deste sábado, hora de Portugal Continental), mas todos os rumores apontam para uma bateria capacidade entre 60 a 75 kWh. Ou mesmo as duas opções. O que permitirá uma autonomia máxima entre 400 km e 500 km. Estes valores são conseguidos não só graças à capacidade da bateria, mas também devido à grande eficiência prevista para o Model 3. Oficialmente, ainda não se sabe de nada, mas o site Electrek (https://electrek.co/2017/07/28/tesla-accidentally-reveals-model-3-efficiency-hinting-at-impressive-range/) fez uma análise ao novo código que a Tesla adicionou ontem ao site da marca, provavelmente em preparação para o lançamento do Model 3, dados que parecem revelar um consumo de 237 Wh por milha (cerca de 14,7 kWh/100 km), um valor muito abaixo dos 344 Wh por milha do Model S (21 kWh/100 km) e que tornaria o Model 3 um dos carros elétricos com menor consumo real do mercado. Impressionante para um carro que se espera que consiga acelerar dos 0 aos 100 km/h em menos de seis segundos. Isto na versão base, porque é de esperar que, como acontece com o Model S, a Tesla lance uma versão Dual Motor, com tração integral e muito mais potência (os Model S mais potentes aceleram dos 0 aos 100 Km/h em cerca de três segundos).
Quanto vai custar?
Nos Estados Unidos, o preço base prometido é de 35 mil dólares (cerca de 30 mil euros). Mas o próprio Musk já disse que espera um preço de venda médio acima dos 40 mil dólares porque prevê que os clientes optem por alguns extras, com destaque para o Autopilot.
A confirmar-se o preço base, o Model 3 estará entre os carros elétricos mais baratos apesar de apresentar características de segmentos superiores, a começar pela maior autonomia.
É, portanto, natural que os clientes portugueses estejam expetantes relativamente ao preço. Mas há vários fatores que apontam para um valor bem acima dos 30 mil euros que o Model 3 de base deverá custar nos Estados Unidos. Há que contar com os impostos e com transportes. Talvez a melhor forma de prever seja analisando a diferença de custo entre os modelos que já são comercializados em ambos os países. No caso do Model S mais económico, fizemos as contas e verificámos que em Portugal custa cerca de 23% mais que nos Estados Unidos (73.250 euros versus cerca de 59.300 euros). Mas nas versões mais caras, a diferença pode ser superior a 30%. Seguindo esta lógica, é de prever que o Model 3 de base tenha um preço em Portugal próximo dos 40 mil euros, valor que deverá subir para mais de 45 mil euros com a adição de extras como o Autopilot