A Continental é mais conhecida pelos pneus, mas a marca alemã é também muito forte no fornecimento de componentes e tecnologia para automóveis. No TechShow 2015, que decorreu nas instalações de testes da Continental, foi possível experimentar muitas das tecnologias que vão equipar os carros do futuro.
Como não poderia deixar de ser, a condução autónoma esteve em destaque. A solução da marca alemã passa pela recolha contínua de dados de modo a criar mapas atualizados ao minuto com informação contextual. O objetivo é desenvolver a plataforma eHorizon, serviço que a Continental já disponibiliza em algumas frotas de camiões com a Scania. Este sistema de horizonte digital permite “ver” além da linha do horizonte. Sensores como identificadores de sinais de trânsito, do estado da estrada ou a análise das imagens captadas a bordo permitem gerar uma grande quantidade de informação, que depois é transmitida para os servidores (cloud) onde é processada e retransmitida para os veículos. Deste modo, garante Alfred Eckert, diretor da engenharia avançada da divisão de chassis e segurança da Continental, é possível «manter os mapas digitais atualizados em tempo real». O sistema, que já está em fase de testes, utiliza a capacidade de tratamento de dados da IBM com os mapas Here da Nokia.
Um dos objetivos da condução autónoma e, antes disso, dos sistemas de assistência à condução é chegar «aos zero acidentes», o que Alfred Eckert considera «perfeitamente alcançável num período de alguns anos».
Há muitas funcionalidades necessárias à condução autónoma, muitas das quais foram demonstradas em condições reais aos jornalistas: análise pormenorizada do estado da estrada (combinação de raios laser com análise de imagem da câmara e do comportamento dos pneus), reconhecimento da via e dos vários obstáculos (recorrendo a radares e câmaras), cruise control adaptativo de última geração (com capacidade de identificar sinais de trânsito, incluído semáforos) e sistemas de controlo “by wire”.
Mas antes da condução autónoma, que a marca acredita só chegar depois de 2020, vamos ter mais e melhores ferramentas de assistência à condução, até porque os dados indicam que 90% dos acidentes são provocados por erro humano. Uma das novidades é a identificação de objetos e de humanos através da utilização em exclusivo de câmaras em manobras de baixa velocidade. De acordo com os dados oficiais, só nos Estados Unidos são atropeladas centenas de crianças pelos familiares em manobras de entrada e saída do estacionamento. Já existem no mercado sistemas similares, mas que apenas atuam os travões no último instante, levando a travagens bruscas. No novo processo da Continental, quando, por exemplo, é detetada uma criança numa manobra de marcha atrás, o carro diminui progressivamente a velocidade até parar, independentemente da pressão que o condutor exerça sobre o acelerador. Mesmo que a pessoa não esteja na zona de passagem do veículo, o carro abranda por razões de segurança se o sistema prever que o peão pode deslocar-se no sentido de vir a chocar com o carro.
Na utilização de imagens foi também demonstrado um sistema de câmaras de 360 graus que mistura o vídeo captado pelas quatro câmaras com tecnologia de realidade aumentada. O que permite mudar o ângulo de visão de acordo com a manobra. Um pouco como se estivéssemos a escolher o ângulo de visão num videojogo. O sistema é capaz de compensar deformações produzidas pelas grandes angulares da câmara de modo a tornar a imagem muito mais realista do que a que conhecemos dos sistemas atuais de 360 graus. Estas imagens são também usadas para identificar lugares nos parques de estacionamento e permitir o estacionamento totalmente automático. Aqui a grande novidade é a possibilidade de o condutor dar ordem para o carro estacionar… a partir do exterior através de uma app para telemóvel ou das chaves da viatura.
Na componente de otimização energética, destaque para aposta nos micro-híbridos com base em sistemas de 48 volts. Nestes sistemas o alternador convencional é substituído por um motor/alternador com potência na casa dos 6 quilowatts, que permite recuperar energia para a bateria nas desacelerações e aumentar a potência do motor convencional quando necessário. Esta arquitetura também permite, como nos híbridos tradicionais, desligar completamente o motor em desacelerações e descidas. Uma das grandes vantagens desta solução é a facilidade de implementação nos carros, incluindo em modelos já disponíveis, o que, segundo os responsáveis da Continental, vai permitir que a opção híbrido não represente um grande custo relativamente às motorizações tradicionais. Além da melhoria da performance, os dados da empresa alemã apontam para uma diminuição do consumo entre 13 a 21 porcento relativamente aos carros idênticos sem este sistema híbrido.
Para aumentar ainda mais a eficiência (entre 2 a 3 porcento), a Continental está a trabalhar na utilização dos dados dos mapas contextuais – o eHorizon já referido – para otimizar a gestão da bateria. Por exemplo, usar mais a energia elétrica nas subidas quando o sistema sabe, através do GPS, que em seguida há uma descida que pode ser usada para recuperar a carga; ou desligar o motor quando o carro prevê uma travagem devido ao trânsito que circula em frente.