Banzo, de Margarida Cardoso
Portugal tem dificuldade em lidar com o pior lado da sua História, o passado violento de usurpação e escravatura. Só assim se explica a quase ausência do tema na cinematografia portuguesa, apesar do seu inegável potencial narrativo. Banzo, de Margarida Cardoso, torna-se assim um objeto raro no cinema português. E tem como primeiro mérito o de preservar a memória, contra narrativas atenuantes, para que a História não se replique.
Margarida Cardoso, que tem dedicado a parte mais significativa do seu percurso à revisitação do passado colonialista, tendo como cenário predileto Moçambique, desta vez viaja até São Tomé para contar uma história de escravatura, já depois da sua abolição oficial. Banzo passa-se em São Tomé em pleno século XX, quando os exploradores das roças disfarçam a escravatura efetiva com a figura dos “contratados” – vinham voluntariamente, ou forçados, mas perdiam os seus direitos e eram tratados como escravos.
É-nos dado preferencialmente o ponto de vista de um médico que chega à roça e se depara com um grupo de escravos que sofrem de uma doença mortal apelidada de “banzo”, que pode traduzir-se num estado profundo de melancolia.
O filme oferece-nos um mundo de Natureza frondosa que se transforma num cárcere, em que tudo se torna opressivo, incluindo a chuva e a floresta. Margarida consegue assim tirar partido da generosidade natural da ilha num sentido contrário ao esperado. O ambiente é opressivo no seu todo. Não só para os escravos, mas também para os portugueses que vêm da metrópole, em busca de melhores condições de vida, e acabam a trabalhar como capatazes.
Banzo é feito de personagens fortes e boas interpretações – não só de Carloto Cotta, no papel principal, como de Gonçalo Waddington, Sara Carinhas e Hoji Fortuna. O filme chega às salas depois de ter vencido o prémio da Competição Nacional do IndieLisboa. Com Carloto Cotta, Gonçalo Waddington, Sara Carinhas e Hoji Fortuna > 127 min
O Brutalista, de Brady Corbet
Na pole position para a corrida dos Oscars deste ano está O Brutalista, do jovem realizador e ator americano Brady Corbet. Um filme que ganha uma leitura política acrescida no atual contexto dos Estados Unidos.
Corbet conta a história de um arquiteto judeu húngaro, sobrevivente ao Holocausto, que decide emigrar para os EUA, em luta pelo sonho americano. No país de todas as oportunidades, passa por inúmeros obstáculos, incluindo a xenofobia, na sua persistente luta para encontrar estabilidade para si e para a sua família. O filme conta com um elenco de luxo, com Adrien Brody em destaque.
Recorde-se que Brody também foi o ator principal de O Piano, de Roman Polanski, e beneficia da memória do espectador para uma maior credibilidade da interpretação.
O Brutalista, primeiro filme de fôlego de Corbet, tem feito um percurso notável, vencendo, entre outros, o Leão de Prata, em Veneza, e três Globos de Ouro, incluindo o de Melhor Filme na categoria de Drama. Na lista dos nomeados aos Oscars 2025, soma dez nomeações. A cerimónia de entrega dos prémios está marcada para a madrugada de 3 de março (hora portuguesa). Com Adrian Brody, Felicity Jones, Guy Pearce, Joe Alwyn > 214 min