1. Disco, de Vivian Suter, MAAT
Anunciada como um dos acontecimentos do ano no MAAT, Disco rouba o nome a um dos cães de Vivian Suter e mostra mais de 500 pinturas da artista suíço-argentina, incluindo 163 trabalhos expostos pela primeira vez.
A produção luxuriante integra o projeto por ela desenvolvido em Panajachel, na Guatemala, marcado pela geografia, pela Natureza, pelo acaso. “Nada do que tenho trabalhado como artista teria sentido sem este lugar, sem estas árvores, sem as folhas, sem os meus cães que me seguem para onde quer que vá”, diz. Isto porque as suas pinturas abstratas, coloridas, sem títulos, são igualmente trabalhadas pela terra, pelo Sol, pelas chuvadas, pelas pegadas de animais, pelas folhas e pelos insetos, pela passagem do tempo: tudo é organicamente incorporado na obra. Escreve o curador Sérgio Mah: “Ela descobriu um cenário fecundo onde se entregou a uma prática disciplinada, solitária e obsessiva, através da qual foi constituindo uma linguagem plástica única, um idioma expressivo particular, com as formas vivas desse lugar.” S.S.C. MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia > Av. Brasília, Belém, Lisboa > T. 210 028 130 > Até 17 mar, qua-seg 10h-19h > €11
2. RAMOT – António da Costa Cabral, Arquivo Municipal de Lisboa/Fotográfico
António da Costa Cabral (1901-1974) passou a sua vida a fotografar. Fazia-o muito em viagem, mas também em casa, onde organizava constantemente sessões com a mulher e os 12 filhos, e na rua, deambulando por Lisboa, sozinho com a sua máquina Leica ou na companhia de outros sócios do Foto-clube 6×6. O 4.º conde Tomar levava tão a sério este seu hóbi que tinha uma câmara escura em casa e participava em salões, assinando com os pseudónimos Ramot e Marto, anagramas de Tomar. Ainda assim, a sua própria família ficou espantada quando a equipa do Arquivo Fotográfico contou o número de peças doadas: mais de 14 mil.
Um pouco deste seu mundo pode ser visto até ao dia 15 de março, numa deliciosa exposição que povoa todas as salas do número 246 da Rua da Palma. Mas não se distraia o leitor com a ilusão do tempo, porque ele passa célere. Se puder, marque já um lugar na visita guiada de amanhã, sábado, 16, a partir das 15h (arquivomunicipal.se@cm-lisboa.pt ou T. 21 817 1330). R.R. Arquivo Municipal de Lisboa/Fotográfico > R. da Palma, 246, Lisboa > T. 21 817 1330 > até 15 mar, seg-sáb 10h-18 > grátis
3. Veneza em Festa – de Canaletto a Guardi, Fundação Calouste Gulbenkian
Foram os pintores do século XVIII que criaram a magia da deslumbrante cidade-Estado então a viver um apogeu, produzindo pinturas que eram compradas, copiadas, usadas como recordação pelas fascinadas elites estrangeiras que cumpriam o grand tour. A listagem de artistas cintila, a começar pelos mestres Canaletto e Francesco Guardi (1712-1793). Guardi foi uma paixão de Calouste Gulbenkian, que lhe dedicou uma coleção expressiva, hoje com 19 obras. Canaletto, com forte presença na coleção do Museo Thyssen-Bornemisza (de Madrid, parceiro nesta exposição), ganhou mais fama. São dele os dois óleos magníficos que recebem os visitantes desta exposição: Grande Canal desde San Vio e A Praça de São Marcos em Veneza, vistas panorâmicas de edifícios ocres sob céus azul-cerúleo.
O dispositivo curatorial acentua o maravilhamento: as paredes mimetizam o azul-escuro e salmão italianos para abrigar as cerca de 50 obras de Veneza em Festa – de Canaletto a Guardi. Há, também, apontamentos cenográficos: têxteis, livros, uma bela maqueta do Bucentauro – barcaça cerimonial na qual o doge de Veneza embarcava uma vez por ano para celebrar a união da cidade com o mar. E há citações de autores que reforçaram a mística da Sereníssima: Lord Byron, Henry James, John Ruskin, Goethe, Thomas Mann. S.S.C. Fundação Calouste Gulbenkian > Av. de Berna, 45 A, Lisboa > T. 21 782 3000 > até 13 jan, qua-seg 10h-18h > €6, grátis dom a partir das 14h
4. Nicholas Nixon – Coleções Fundación MAPFRE, Centro Cultural de Cascais
Mestre de uma técnica aperfeiçoada ao longo dos anos, Nicholas Nixon (n. 1947) fotografa com o recurso a câmaras de grande formato. De perto, o fotógrafo norte-americano nascido em Detroit explora o potencial da câmara para compor imagens que revelam o intangível: o amor, a paixão, a felicidade, o sofrimento, a intimidade, a passagem do tempo, a solidão.
A exposição no Centro Cultural de Cascais, organizada a partir da Coleção Fundación MAPFRE, é a primeira grande retrospetiva da obra do fotógrafo de 77 anos em Portugal e, anuncia-se na nota de imprensa, a maior alguma vez realizada a nível mundial. São mais de 200 fotografias tiradas entre 1974 e 2022, apresentadas cronologicamente e agrupadas em núcleos temáticos – das frias imagens de cidades do início da sua carreira aos retratos das irmãs Brown. Os 48 retratos que compõem a série fotográfica (todos os anos, de 1975 e 2022, Nixon fotografou as irmãs Heather, Mimi, Bebe e Laurie) estarão expostos em Cascais. A mostra inclui ainda as fotografias que Nicholas Nixon tirou da própria família, a esposa Bebe e os filhos do casal, Sam e Clementine. Centro Cultural de Cascais > Av. Rei Humberto II de Itália, Cascais > T. 21 481 5660/5 > 16 nov-16 fev, ter-dom 10h-18h (última entrada 17h40) > €5
5.works from before hang out with works from now and works from between before and now, in the same room, de Wasted Rita, Coruchéus
Traduzindo o título desta exposição de Wasted Rita, percebe-se melhor ao que vamos: trabalhos de antes passam tempo juntos com trabalhos de agora e trabalhos de entre antes e agora, na mesma sala. Nos Coruchéus, em Alvalade, mesmo ao lado do atelier que ocupa há quatro anos, a artista reúne 37 peças e escritos, criados entre 2012 e 2024. Num tom carregado de sarcasmo e ironia a que Rita Gomes nos habituou, falam-nos do ar dos tempos e da frustração de viver numa Lisboa com tanta especulação imobiliária. Exemplos? “Always be yourself unless you want to have some friends, then always be someone else” [Sê sempre tu próprio a não ser que queiras ter alguns amigos, se não, sê sempre outra pessoa]; “All my friends are tired and underpaid” [Todos os meus amigos estão cansados e mal pagos].
No dia 7 de dezembro, a artista orienta uma oficina de desenho para crianças dos cinco aos nove anos, e estão marcadas três visitas guiadas à exposição, a 30 de novembro, 21 de dezembro e 11 de janeiro (requerem marcação prévia através do email umteatroemcadabairro.corucheus@cm-lisboa.pt ou pelo T. 21 817 0324). Complexo Municipal dos Coruchéus > R. Alberto de Oliveira, Lisboa > até 31 jan, ter-sáb 13h-19h > grátis
6. Intimidades em Fuga. Em Torno de Nan Goldin, MAC/CCB
Nan Goldin ainda nos estremece com a honestidade da série The Ballad of Sexual Dependency, em que documentou vida, vícios e afetos da sua tribo de amigos e amantes entre 1979 e 1986, numa Nova Iorque vibrante. É um diário visual que elimina distâncias confortáveis entre público e privado, um ensaio vérité. As 126 imagens captadas pela fotógrafa norte-americana alinham-se como um fio de Ariadne no MAC/CCB – como um travelling, um corrimão visual que (des)ampara os visitantes, confrontando e pontuando as obras de outros 35 artistas nas salas fronteiras. Pintura, desenho, vídeo, fotografia, exploram narrativas, autorrepresentação, subjetividade, numa diversidade de possibilidades de trabalhar o corpo e a intimidade num tempo pós-Big Brother orwelliano (e televisivo, e instagramável). Observamos. Somos testemunhas, intérpretes, cúmplices, voyeurs? Somos quem se debate, hoje, com a “fuga da intimidade” – e isso dá-nos um novo olhar sobre estas obras. S.S.C. MAC/CCB – Centro Cultural de Belém > Pç. do Império, Lisboa > T. 21 361 2878/21 361 2913 > até 31 ago, ter-dom 10h-18h30 > €7 a €12
7. Santo António na Publicidade, Museu de Lisboa – Santo António
A imagem de Santo António colada a lotarias, vinhos e bengalas? Essa foi – e é – uma realidade que já vem pelo menos desde o século XIX, mostra-nos o Museu de Lisboa – Santo António nesta exposição que reúne cartazes, anúncios da imprensa, selos, rótulos, pagelas (estampas religiosas), peças de barro, medalhas, copos, caixas de fósforos. Formas diversas de publicidade, que vão “refletindo os gostos de cada época e realçando a estreita ligação da produção publicitária com o santo a quem tudo se pede em momentos difíceis”, pode ler-se na nota de imprensa. No dia 30 de novembro, o comissário da mostra, Eduardo Cintra Torres, conduz uma visita guiada (16h). Museu de Lisboa – Santo António > Lg. de Santo António da Sé, Lisboa > até 20 abr, ter-dom 10h-18 > €3
8. Não vá o diabo tecê-las! A Tapeçaria em diálogo a partir da Coleção Millennium bcp, Torreão Nascente da Cordoaria Nacional
Promete uma viagem sedutora e surpreendente pela história da tapeçaria portuguesa a partir de 1946, o ano em que foi fundada a Manufactura de Tapeçarias de Portalegre. Entre paredes brancas, encontram-se 86 obras de 27 artistas, e mais de 50 documentos. No piso 0, está a Coleção Millennium bcp que possui um conjunto de tapeçarias produzidas em Portalegre a partir de originais de artistas como Graça Morais, Lourdes Castro, Luís Pinto-Coelho, Vieira da Silva, Almada Negreiros, José de Guimarães e Júlio Pomar. No Piso 1, recorrendo a obras provenientes de instituições, coleções particulares e espólios de artistas, mostra-se como outros nomes das artes exploraram as potencialidades plásticas da tapeçaria, expandindo-a em termos de técnicas, de materiais e de possibilidades. Torreão Nascente da Cordoaria Nacional > Av. da Índia, Lisboa > T. 21 364 6128 > até 12 jan, ter-dom 10h-13h (última entrada 12h30), 14h-18h (última entrada 17h30) > grátis
9. Jean Painlevé, Culturgest
A partir de dia 23, a Culturgest apresenta “a maior exposição” dedicada a Jean Painlevé (1902-1989), pioneiro documentarista e fotógrafo de vida animal. Entre meados da década de 1920 e o início da década de 1980, Painlevé realizou cerca de 200 curtas-metragens, nas quais retratou um insólito bestiário subaquático. Nesta exposição, é apresentada uma seleção de filmes raros e impressões fotográficas de Jean Painlevé e Geneviève Hamon, sua companheira, e colaboradora mais próxima, desde que se conheceram em 1924, até à sua morte. O documentarista francês tinha a convicção de que “a ciência é ficção”, empregando arrojo estético e experimental aos seus filmes e imagens através de técnicas de filmagem e edição criativas. No dia 23, realiza-se uma visita guiada à exposição com a equipa curatorial, e nos dias 7 de dezembro, 25 de janeiro e 8 de março, com Ana Gonçalves (todas às 16h). Culturgest > R. Arco do Cego, 50, Lisboa > T. 21 790 51 55 > 23 nov-23 mar, ter-dom 11h-18h > €5, dom grátis
10. João Abel Manta Livre, Palácio Anjos
Imaginar a paisagem visual do Portugal pré e pós-25 de Abril sem o traço benigno e certeiro de João Abel Manta, testemunha das manias e conquistas pátrias, é impossível. Toda a gente reconhece um cartoon seu, nem que seja MFA, Povo com os protagonistas desenhados com as “fardas” trocadas. Panorâmica abrangente dedicada ao artista, beneficiou do acesso ao seu arquivo pessoal e dos empréstimos de obras de instituições e colecionadores privados – como Vasco Gonçalves, a quem Abel Manta ofereceu maquetas de cartazes que são, finalmente, reveladas. Uma viagem bem-humorada por pintura, desenho, cartoon, ilustração, design gráfico, azulejos, tapeçarias, cartazes, cenografia e figurinos para teatro, pela mão de um criador livre. S.S.C. Palácio Anjos > Alameda Hermano Patrone, Algés > T. 21 411 1400 > até 20 dez, ter-dom 11h-18h > €2
11.Tratado, de José M. Rodrigues, Galeria da Avenida da Índia
Um dos nomes de referência da fotografia contemporânea, José M. Rodrigues, Prémio Pessoa 1999, tem a sua obra representada em várias coleções privadas e públicas (Culturgest, Museu de Serralves, Centro Português de Fotografia, Dutch Art Foundation, La Bibliotheque Nationale em Paris…). Esta exposição é centrada em retratos de familiares e de amigos do fotógrafo. As fotografias agora reveladas, sobretudo inéditas, a cores, relacionam-se também com os lugares onde foram tiradas, a natureza e a paisagem como pano de fundo. A quem tiver curiosidade pela obra total, a Imprensa Nacional dedicou a José M. Rodrigues o número 5 da Série Ph., fica a sugestão. Galeria da Avenida da Índia > Av. da Índia, 170 > T. 21 583 0010 > até 22 dez, ter-dom 10h-13h, 14h-18h > grátis
12. William Klein – O Mundo Inteiro É um Palco, MAAT
O fotógrafo franco-americano que comprou uma primeira câmara a Henri Cartier-Bresson não se preocupava com o momento decisivo ou a discrição: o acaso e a conversa com os desconhecidos criavam as suas imagens. William Klein – O Mundo Inteiro É um Palco é a maior exposição dedicada ao artista desde o seu desaparecimento: são 150 obras, que dão conta do Klein curioso, performático, multifacetado, viajado. Fotografias que pertencem ao A-Z da contemporaneidade, sim, mas também as pinturas (foi aluno do pintor Fernand Léger e artista experimental), os filmes delirantes (Broadway by Light, curta-metragem abstratizante sobre as luzes de Nova Iorque, fez Orson Welles dizer que, se havia um filme que merecesse ter cores, era aquele…) e os registos do Maio de 68 (teve como consultor Alain Resnais e Serge Gainsbourg como ator…). E as provas de contacto pintadas, as capas, os cartazes, as imagens tiradas em Nova Iorque, Paris, Moscovo, Roma, Tóquio (só em dois dias, no Japão, Klein captou mais de seiscentas imagens). S.S.C. MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia > Av. Brasília, Lisboa > até 3 fev, qua-seg 10h-19h > €6 a €11
13. CAM – Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian
Ao caminhar pela nova entrada principal do CAM, a partir da Rua Marquês da Fronteira, o visitante apreende o total impacto da joia arquitetural desenhada pelo japonês Kengo Kuma. A impressionante pala com cem metros de comprimento, criando um corredor coberto que acompanha agora toda a fachada sul do edifício.
As exposições inaugurais do novo CAM evidenciam questões sociais e de sustentabilidade – vejam-se as 80 obras patentes em Linha de Maré, refletindo sobre a relação dos seres humanos com a bioesfera, ou o gesto social e político da instalação monumental de Leonor Antunes que evoca as mulheres do modernismo, contrariando a sua “subalternização” histórica. A nova Galeria da Coleção abriga as Reservas Visitáveis, e no Espaço Engawa, está O Calígrafo Ocidental, mostra fotográfica e documental sobre a estada de Fernando Lemos no Japão, enquanto bolseiro da Gulbenkian e estudante de caligrafia na década de 1960. No átrio do CAM, há H BOX, sala de vídeo itinerante concebida por Didier Faustino. S.S.C. Centro de Arte Moderna > R. Marquês de Fronteira, 2, Lisboa > T. 21 782 30 00 > todas as exposições estendem-se até ao ano que vem > €8 (exposições temporárias CAM) a €16 (Museu Gulbenkian, CAM e exposições temporárias), grátis dom a partir das 14h