É com a estética das animações Looney Tunes, em especial de Bugs Bunny, que abre esta sequela de Joker. A personagem principal ganha uma versão animada (foi, aliás, assim que tudo começou, nos livros da saga Batman da DC Comics) e recordamos o que levou Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) a estar a caminho do “julgamento do século”. Matou cinco pessoas, uma delas em direto na televisão nacional. Na verdade, são seis, mas só o espectador sabe.
Será Joker apenas um alter ego alucinado e inimputável? Um mártir ou um monstro à beira da pena de morte? Ou apenas uma vida encenada por alguém triste, egocêntrico e indiferente aos outros, exímio em criar relações imaginárias?
Em Joker: Loucura a Dois, a história mantém-se intensa, sem ir demasiado ao passado buscar explicações. Os momentos musicais existem, mas a banda sonora selecionada por Jason Ruder, Randall Poster e George Drakoulias não faz desta sequela um filme-musical. As canções, algumas bem conhecidas – Oh, When the Saints, What The World Needs Now, That’s Life, When You’re Smiling, To Love Somebody, Gonna Build a Mountain ou If You Go Away –, são pensamentos, respostas, anseios ou verdadeiros pedidos de ajuda do supervilão e de Lee Quinzel/Harley Quinn (Lady Gaga).
A ação do novo filme de Todd Phillips, estreado também no Festival de Veneza, mas sem vencer o Leão de Ouro, como aconteceu há cinco anos, divide-se de forma equilibrada entre Arkham, centro de correção onde Arthur Fleck está sempre a ser desafiado a contar uma nova piada, e o tribunal, onde nas alegações finais cresce para os jurados num momento de stand-up sem comédia. Com argumento escrito a meias pelo realizador e Scott Silver, Joker: Loucura a Dois volta a expor as fragilidades da doença mental, da tormenta do sentimento de invisibilidade numa sociedade também ela atormentada. E, no fim, nem o Apocalipse os salvou.
Joker: Loucura a Dois > De Todd Phillips, com Joaquin Phoenix, Lady Gaga, Catherine Keener, Brendan Gleeson > 138 min