O espetáculo é sobre o quê? A interrogação repete-se ao longo da peça e abre portas para novas leituras de Antígona. A obra clássica foi abordada ao longo dos séculos por vários autores dramáticos, de Kleist a Jean Anouilh, de Cocteau a Júlio Dantas e António Pedro, sempre na defesa de uma ideia do bem e da justiça, entre muitas metáforas.
O Teatro Praga vem agora dizer que a “Antígona é mais complexa do que a sua utilização ou o seu afunilamento para vincular determinadas ideias”, aponta André e. Teodósio, que assina a criação com José Maria Vieira Mendes. Em RE: Antígona, seguem a tradição do início do séc. XX de espetáculos de sátira a outros espetáculos, agarram neste ícone dramático e apresentam-no com diferentes perspetivas, interpretadas pelo elenco (André e. Teodósio, Inês Vaz, Maria João Vaz, Paula Diogo e Paulo Pascoal).
“Essa distribuição não tem só a ver com devolver alguma humanidade ou complexidade à figura, mas também enquanto sociedade desenvolvermos a capacidade de termos ferramentas para lidar com coisas que são o oposto daquilo que defendemos ou com o qual não sabemos lidar”, sublinha Teodósio. “Atualmente há uma necessidade de fazer espetáculos que confirmam aquilo que sabemos, enquanto comunidade. Os espetáculos precisam de alguma radicalização outra vez. Estamos fartos de atualizações… Queremos que o espetáculo falhe, porque ao falhar um herói, nós também podemos falhar”, acrescenta.
À maneira do Teatro Praga dos anos 90 (a companhia faz 30 anos em 2025), misturam os formatos de entretenimento associados à baixa cultura com os temas debatidos na alta cultura, e criam uma “contracultura”, “um esmagamento das duas coisas.” Uma ideia reforçada pela cenografia de Tiago Alexandre, colocando estátuas gregas montadas em motos.
RE: Antígona > Centro Cultural de Belém > Pç. do Império, Lisboa > 4-6 out, sex 20h, sáb 19h, dom 17h > €6 a €15