Tudo começou em janeiro de 1985, dias de verão em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro. Roberto Medina, então com 37 anos, arriscava fazer o que nunca tinha sido feito no Brasil: um grande festival de música, que juntava aos melhores artistas locais estrelas internacionais como Queen, AC/DC, Yes ou Ozzy Osbourne. Reza a lenda que tudo terminou com um enorme prejuízo financeiro para o empresário, mas ele não desistiu e transformaria, com novas edições em 1991 e 2001, o Rock in Rio numa poderosa marca do entretenimento falada em todo o mundo.
A descoberta de Portugal aconteceu em 2004, primeira experiência de internacionalização do festival. Em maio e junho, o Rock in Rio Lisboa ocupou um lugar que nunca tinha sido usado para esse tipo de eventos (o Parque da Bela Vista, em Chelas), com um cartaz forte em que se destacavam nomes tão diferentes como Paul McCartney (pela primeira vez a tocar em Portugal), Metallica ou Britney Spears. O investimento resultou num grande sucesso, com mais de 380 mil entradas no festival ao longo dos seis dias.
Cinco palcos
Vinte anos depois, na décima edição em Lisboa, o Rock in Rio muda de lugar. Para Roberta Medina, desde 2004 grande responsável pelo festival do lado de cá do Atlântico, essa mudança veio num excelente momento: “Celebrando os 20 anos, havia a tendência de nos virarmos demasiado para o passado, para a celebração, mas este desafio de ocuparmos um novo lugar e de termos ideias para ele obrigou-nos a olhar para o futuro e entusiasmou toda a equipa.”
Apesar de continuar a “gostar muito” do Parque da Bela Vista, Roberta confessa-se “apaixonada” e “totalmente satisfeita” com o Parque Tejo, que em agosto do ano passado foi profundamente remodelado para receber as Jornadas Mundiais da Juventude. E, explica à VISÃO, há ganhos a vários níveis com essa novidade.
O conforto geral dos espectadores do festival será a maior conquista, até porque, havendo mais 30 mil metros quadrados de recinto, em comparação com a Bela Vista, a lotação máxima vai manter-se, neste ano, como em edições anteriores, nas 80 mil pessoas por noite. E, apesar de (ainda?) não haver grandes árvores por ali, estão garantidas mais áreas de sombra e muitos bebedouros públicos (mais de cem) espalhados.
Também ao nível da programação o novo espaço tem consequências. Podendo espalhar mais os vários palcos, é possível que estes sejam maiores (dando mais liberdade na contratação de grandes espetáculos) e possam funcionar em simultâneo sem interferências.
Serão, ao todo, cinco palcos (nenhum deles situado na estrutura que serviu de altar na visita do Papa Francisco): o Mundo, o Galp, o Super Bock Digital Stage (que, mais do que músicos, receberá “youtubers, instagramers, tik tokers, humoristas, futebolistas e socialites”), o Rota 85, que celebra de várias formas os quase 40 anos da marca Rock in Rio, e o Palco Tejo. Este último é uma das grandes novidades, com uma especial atenção à música portuguesa, e apadrinhado pelos Ornatos Violeta (que ali vão tocar no sábado, 22, com convidados especiais).
Ao longo dos anos, o Rock in Rio foi, também, uma ponte importante na circulação musical entre Brasil e Portugal. Se perguntarmos a Roberta Medina qual o concerto, nestes 20 anos de história, que mais a surpreendeu em Lisboa, ela não precisará de muito tempo para responder: “O primeiro que vi dos Xutos & Pontapés.” E explica: “Não os conhecia, nunca tinha ouvido falar, e fiquei de boca aberta quando vi milhares de pessoas a cantarem as canções todas de cor!” Os Xutos não falhariam nenhuma edição do festival em Lisboa (e estão presentes, de novo, este ano) e, em 2011, atuaram no Rock in Rio no Brasil, ao lado da banda paulista Titãs.
Quanto ao momento mais marcante desta longa jornada, Roberta destaca a abertura das portas na edição de 2022, quando o Rock in Rio foi o primeiro grande evento a realizar-se depois da vida suspensa da pandemia e sentiu, olhando à volta, “a emoção de estarmos todos juntos outra vez.”
A acessibilidade é um dos grandes desafios do festival com vista para a Ponte Vasco da Gama que começa já neste sábado, 15. O hábito, muito português, de levar o carro até à porta de entrada não será agora possível e as melhores soluções são a estação ferroviária de Sacavém ou, sobretudo, um “inédito” sistema de shuttles que vão partir da Estação do Oriente (e que exigem uma reserva na aplicação do festival, com o custo de €1, ou €2 se for comprado no próprio dia).
3 momentos memoráveis no Rock in Rio Lisboa
Concertos que ficaram para a História em 20 anos de festival
2004
Logo na primeira edição, houve uma estreia de peso em Portugal: Paul McCartney. Durante mais de duas horas, tocou 36 canções, muitas delas dos Beatles. A VISÃO fez, então, capa com uma entrevista exclusiva ao músico
2008
Com meia hora de atraso, Amy Winehouse subiu ao Palco Mundo de copo na mão, fragilizada e com a voz muito longe do seu melhor. Foi a única atuação em Portugal da cantora britânica (que morreria em 2011).
2014
Um concerto dos Rolling Stones é sempre um acontecimento. Este, a 29 de maio de 2014, para 90 mil pessoas, contou com um ingrediente especial: um inesperado dueto de Mick Jagger com Bruce Springsteen no tema Tumbling Dice.
Cartaz
Entre dezenas de espetáculos, destaques na 10ª edição do Rock in Rio Lisboa
15 de junho, sábado
Scorpions, Evanescence, Extreme, Xutos & Pontapés c/ Orquestra Filarmónica Portuguesa, Europe, The Legendary Tigerman
16 de junho, domingo
Ed Sheeran, Calum Scott, Jão, Fernando Daniel, Capitão Fausto
22 de junho, sábado
Jonas Brothers, Macklemore, Ivete Sangalo, Carolina Deslandes, James, Ornatos Violeta
23 de junho, domingo
Doja Cat, Camila Cabello, Ne-Yo, Luísa Sonza, Anselmo Ralph, Profjam