Pode dizer-se que a François Ozon não faltam ideias. Aos 55 anos, continua a filmar a um ritmo impressionante, não havendo ano sem um filme seu, nas últimas duas décadas. Depois de trabalhos ditos mais sérios (Graças a Deus, Verão de 85, Correu Tudo Bem), O Crime é Meu encerra uma trilogia de comédias, que começou lá atrás com 8 Mulheres (2002) e Potiche (2010).
Para a nova longa-metragem, o realizador francês foi buscar uma comédia de boulevard. O Crime é Meu baseia-se levemente na peça Mon Crime, de Georges Berr e Louis Verneuil, de 1934.
Tudo se passa em Paris, entre as duas grandes guerras. Uma jovem aspirante a atriz é acusada de assassinar um produtor famoso. Em vez de negar o crime, ela, com a advogada, decide confessar a culpa e alegar legítima defesa, porque sofrera assédio sexual no encontro com o homem mais velho. É por este caminho que o filme segue, deixando ecos dos tempos mais recentes de Harvey Weinstein e do movimento #MeToo, assume o próprio realizador.
No julgamento que se segue, Madeleine Verdier (interpretada por uma louríssima Nadia Tereszkiewicz) é defendida por Pauline Mauléon (Rebecca Marder), sua amiga, que prova ser muito mais hábil e eloquente do que os magistrados. Perante a astúcia feminina, os homens não saem bem no retrato.
No último terço do filme surge Isabelle Huppert, com quem François Ozon já não trabalhava desde 8 Mulheres. Em O Crime é Meu, a atriz de 70 anos é Odette Chaumette, diva do cinema mudo, de farta cabeleira ruiva, língua afiada e roupas extravagantes.
Se o filme está feito para o trio de atrizes brilharem, escreva-se que Dany Boon (o arquiteto e mestre de obras Palmarède), Fabrice Luchini (o juiz) e Olivier Broche (no papel de escrivão) estão muito bem nesta comédia carregada de diálogos, com ritmo, música original de orquestra e um guarda-roupa irrepreensível.
O Crime é Meu > De François Ozon, com Nadia Tereszkiewicz, Rebecca Marder, Isabelle Huppert, Dany Boon e Fabrice Luchini > 102 min.