Asteroid City só não é um cometa cinematográfico que aterrou no deserto norte-americano porque Wes Anderson já nos habituou tanto às suas loucuras que o filme encaixa plenamente, sem demasiada surpresa, no seu universo criativo.
Facilmente se encontram pontes entre este inusitado e surrealista Asteroid City e o anterior Crónicas de França do Liberty, Kansas Evening Sun. E se um dos mais conseguidos filmes do realizador de culto norte-americano é uma animação (O Fantástico Sr. Raposo), os seus filmes em imagem real cada vez se assemelham mais a animações, ou melhor, bandas desenhadas.
Este irresistível Asteroid City parece situar-se algures num ponto de encontro entre Tim Burton e Aki Kaurismäki, plantando-se num deserto norte-americano redescoberto por Wim Wenders (Paris, Texas) e uma galeria de personagens entre Lucky Luke e o cinema de género norte-americano dos anos 70. Mas sobretudo Wes Anderson, com uma criatividade fora das balizas convencionais, apura sempre a sua própria linguagem, e é isso que o torna um dos mais fascinantes realizadores contemporâneos.
Asteroid City, uma fantasia passada nos anos 50, cruza três camadas de (sur)realidade. Primeiro, o guião de uma peça de teatro da época; depois, um encontro nacional de jovens crânios; e, finalmente, a desconstrução de tudo isto com os bastidores da própria peça.
A ação passa-se no meio do deserto norte-americano, num não lugar, parecido com tantos outros, onde há uma bomba de gasolina, uma oficina, um diner e um motel. As personagens são, por definição, caricaturas autoconscientes, assim como o próprio lugar é caricatural. Há, por exemplo, um carro da polícia que passa, para cá e para lá, atrás de bandidos e visitas à cratera provocada por um asteroide que ali caiu há três mil anos e dá o nome ao lugarejo.
Este não lugar, por coincidências cósmicas e alienígenas, torna-se de repente o centro do universo, num desenvolvimento dramático, em que a criatividade joga sempre a favor de um humor fino e surreal, sobre uma mise-en-scène primorosa, teatral, geométrica e perfecionista.
Para tudo isto contribui um elenco fora de série, com interpretações marcantes de Jason Schwartzman, Tom Hanks e Scarlett Johansson. E que se dá ao luxo de entregar papéis secundários a Tilda Swinton, Matt Dillon, Edward Norton, Adam Brody, Willem Dafoe, Steve Carell ou Margot Robbie.
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Asteroid City > De Wes Anderson, com Jason Schwartzman, Tom Hanks e Scarlett Johansson > 104 min.