No rescaldo das eleições suecas do verão de 1976, que levaram à queda do governo social-democrata, ao fim de meio século no poder, celebra-se um casamento, numa das ilhas mais pequenas do arquipélago de Estocolmo. Ali vive Egerman, intelectual amargo, que é forçado pela filha a acolher a festa e a abrir as portas do seu refúgio.
O sexagenário continua a adorar um bom confronto de ideias políticas e faz deste lugar, retirado do mundo, o seu ringue, sendo claro, a certa altura, que se salta do público para o privado, com os planos a confundirem-se no despique de palavras com os convidados.
Pedro Mexia nunca esteve na Suécia, e, na verdade, essa circunstância era absolutamente indiferente para a escrita da peça, a sua estreia como dramaturgo, em resposta ao desafio lançado pelo Teatro Nacional São João. “Precisava de ter ido à Suécia de 1976, e isso não me é acessível. É um reflexo do país nas nossas cabeças, remetendo para uma época em que estava muito presente no imaginário europeu, em termos políticos, de costumes, da música pop, do cinema, do desporto”, explica.
Intrigava-lhe, sobretudo, como aquele modelo político e social, visto como um paraíso, era abominado por alguns intelectuais suecos e de outras nacionalidades, um tema que o autor aprofundou ao longo dos últimos dez anos.
Ao mesmo tempo, “havia duas figuras fundamentais para mim, que estão presentes do princípio ao fim da peça: Bergman e Strindberg. Pensar na Suécia é pensar nestas duas figuras. Não se sai igual depois de um filme do Bergman ou de uma peça do Strindberg. Interessava-me esse filtro cultural”, sublinha Mexia.
As referências e as citações deste universo literário, dramático e cinematográfico são assumidas, e trabalhadas, na encenação de Nuno Cardoso. Como se estes fantasmas também tivessem sido convidados para o casamento e participassem no pingue-pongue verbal, que tanto interessa ao escritor.
Suécia > Teatro Nacional São João > Pç. da Batalha, Porto > T. 22 340 1910 > 8-25 jun, qua-qui, sex 21h, sáb 19h, dom 16h > €10 a €40