Velas Escarlates não tem a intensidade de filme de aventuras que nos oferecia Martin Eden; há, aqui, acima de tudo, o trabalho sobre as personagens de uma família atípica e, em particular, o foco na relação ente Raphaël, um viúvo que regressa da guerra, e a sua filha, Juliette.
A virtude primeira do filme é a criação de um universo próprio. Subsiste uma ideia de microcosmos, com códigos próprios, em tempos de transição moral e civilizacional, em que a disfuncionalidade social parece agredir sucessivamente o bem-estar familiar. Simultaneamente, há uma história de amor. Ao contrário de Martin Eden, que se liberta da família para se aventurar pelo mundo, Juliette escolhe sempre ficar, por amor ao pai. E é uma figura externa, um príncipe encantado em forma de aviador e com o rosto de Louis Garrel, que a resgata para uma realidade etérea.
Com uma fotografia excelente, que se confunde com os quadros de uma exposição, Velas Escarlates é também, na sua essência, um filme sobre o crescimento e a emancipação feminina de uma jovem mulher que não prescinde do direito de construir o seu próprio mundo.
Velas Escarlates > De Pietro Marcello, com Raphaël Thiéry, Juliette Jouan, Noémie Lvovsky e Louis Garrel > 100 min
