Living van Gogh, que acaba de abrir na Alfândega, no Porto, ocupa dois pisos do edifício. A visita começa nas Furnas (piso em baixo) onde, pela primeira vez na Europa, se exibe o espetáculo imersivo Immersive van Gogh, realizado pelo artista visual italiano Massimiliano Siccardi, e apresentado em mais de 20 cidades nos Estados Unidos da América.
O espetáculo – que vai passando de 30 em 30 minutos – leva-nos a mergulhar (literalmente) nas inquietações de Vincent van Gogh (1853-1890), e que o levaram a pôr termo à vida, aos 37 anos, em Auvers-sur-Olse, uma vila próxima de Paris, quando o artista já vivia em França.
Numa sala com mil metros quadrados, as projeções em 360 graus, desde o chão às paredes, partem desse estado de permanente tumulto do pintor, com menções a algumas das muitas cartas que escreveu ao seu irmão e confidente, Theo, para revelarem 150 das suas obras em telas gigantes. Entre estas, está o célebre quadro Os Girassóis (1889).
O que Massimiliano Siccardi pretende mostrar é o homem por detrás do artista: “É como se tivesse entrado na cabeça deste homem que teve uma vida intensa e violenta, para falar dele através da sua arte. Van Gogh não era somente um louco como muitos diziam”, afirma Siccardi à VISÃO Se7e.
A banda sonora, da clássica à contemporânea, da responsabilidade de Luca Longobardi, vai acompanhando as pinceladas bruscas de van Gogh. Uma forma, acrescenta o realizador italiano, de mostrar “o sofrimento, a violência dos gestos, mas também a cor e a felicidade”.
Já no piso de cima, na Sala da República, percorrem-se cinco instalações criadas pelo atelier criativo português OCUBO. A primeira, intitulada Sinfonia dos Girassóis, transforma uma sala num campo de trigo com vários fardos de palha e 30 esculturas gigantes de girassóis que se vão iluminando à medida que, numa moldura holográfica, a figura do pintor – interpretada pelo ator João Parreira – vai declamando um poema de Al Berto.
Os versos, musicados com a Sinfonia nº 5 (Beethoven), Música noturna das estradas de Madrid (Boccherini) e Vozes da Primavera (Strauss), intercalam diferentes momentos na vida do artista. “Imaginámos dois van Gogh: um momento onde ele tem um delírio de sonho e é quase o maestro de uma orquestra em que ilumina os girassóis; e outro pós-morte, depois do suicídio, em que o imaginamos a encontrar a paz através de uma valsa, depois do sofrimento e do grande tormento da vida”, descreve Edoardo Canessa, produtor executivo da Immersivus Gallery.
Numa outra sala, três cavaletes convidam o público a dar pinceladas na tela, ao mesmo tempo que surgem obras icónicas de van Gogh, desde os seus autorretratos (há 35 conhecidos) até às paisagens.
Numa outra, convida-se a pintar um dos cinco mil quadradinhos que hão de compôr o quadro Campo de Trigo com Corvos (1890), considerado o último trabalho do artista. Já em frente à obra Quarto em Arles (1888), cada visitante pode tirar uma fotografia como se pintasse uma tela, envergando o chapéu com velas que, segundo se conta, o artista usava para o iluminar à noite, enquanto pintava.
Por fim, uma imagem de ilusão de ótica permitirá ver em movimento o quadro Noite Estrelada (1889), obra que retrata a vista do lado de fora da janela do sanatório em Saint-Remy-de-Provence, onde van Gogh esteve.
Depois do Porto, a exposição partirá para Lisboa, no final do ano, dando lugar à vida de outro artista: o espanhol Salvador Dalí.
Vincent van Gogh (1853-1890) viveu até aos 37 anos, mas teve uma carreira intensa. Em apenas 10 anos, realizou mais de 800 pinturas e cerca de 850 desenhos. Conhecido pelas cores e pinceladas marcantes, o artista, que sofria de doença mental, vendeu apenas uma pintura em vida.
Living van Gogh > Immersivus Gallery Porto > Alfândega do Porto > T. 91 012 0128 > até dez, ter-dom 14h-18h30 > €14, €10, bilhete família (dois adultos com três crianças 4-17 anos), menores de 3 anos grátis