O ponto de partida para a investigação de Luísa Pinto, diretora artística da companhia de Teatro Narrativensaio-AC, foi o livro Malacarne, da historiadora Annacarla Valeriano, sobre milhares de mulheres internadas em hospícios pelo regime fascista italiano por não estarem alinhadas com os seus padrões. Dar visibilidade ao tema tornou-se um imperativo. “Eram histórias horripilantes, a Luísa ficou aterrorizada, mas ao mesmo tempo sentiu o impulso de as levar para o palco”, conta Mariana Correia Pinto, jornalista do Público, convidada a escrever o texto dramatúrgico.
A investigação foi mais longe e levou-as até ao Brasil, ao maior hospício do país, Colónia, onde morreram 60 mil pessoas, entre 1930 e 1980, por desafiarem as normas da ditadura. “A nossa base de trabalho foi a Itália e o Brasil, sabendo que esta era uma prática comum em regimes opressores”, continua.
O espetáculo faz o retrato dessas mulheres silenciadas, a quem foi roubado o direito de serem livres. Em palco, Luísa Pinto e Maria Quintelas interpretam as sete personagens de Anónimo não é nome de mulher, seguindo narrativas paralelas, dentro e fora de um hospício fictício. O relato não está preso a um tempo e a um lugar. “Reconhecia ecos daquela realidade histórica nos dias de hoje, as mulheres continuam a sofrer diferentes opressões, a ser encostadas e a ver direitos seus postos em causa”, sublinha Mariana. As relações, a maternidade, a violência, os direitos conquistados, perdidos e por conquistar são abarcados no texto. A inquietação conjuga-se, por isso, no presente, como um alerta.
Anónimo não é nome de mulher > Casa das Artes > Pq. de Sinçães, Vila Nova de Famalicão > 252 371 304 > 19-21 jan, qui-sáb 21h30 > €6 > Teatro Municipal de Bragança > Av. Sá Carneiro, Bragança > T. 273 302744 > 1 mar qua, 21h > €6